Patrimônio Mundial, a Reserva da Biosfera do Rio Platano fica em Honduras (Wikimedia Commons)

 

Nicole Dalmiglio, para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

As 257 florestas que compõem a lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sempre exerceram uma função fundamental para a regulação climática. Compondo grandes mosaicos de preservação da biodiversidade terrestre, elas absorvem o dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera.

Mas o relatório World Heritage forest: Carbon sinks under pressure 2, publicado pela Unesco, trouxe um alerta à humanidade. Dez delas se tornaram fontes líquidas de carbono devido às atividades humanas. Assim, o estudo demonstra que ao invés de auxiliar a mitigar o aquecimento global, algumas das unidades florestais das mais valorosas do mundo estão na verdade ampliando as emissões gerais de CO2.

O conjunto total do patrimônio recobre 69 milhões de hectares, uma área equivalente a duas vezes o território da Alemanha. Ainda de acordo com a Unesco, coletivamente, esses biomas correspondem a imensos sumidouros de carbono líquido, sendo responsáveis pela absorção de aproximadamente 190 milhões de CO2 da atmosfera a cada ano.

Essa pesquisa inaugura as avaliações científicas sobre as emissões de gases de efeito estufa em florestas certificadas como Patrimônio Mundial pela Unesco. Os dados divulgados pelo relatório constatam que as localidades onde terras estão sendo apropriadas pela indústria da agropecuária foram grandes responsáveis pelas emissões geralmente associadas a períodos de seca, também contribuem para o cenário alarmante, assim como outros fenômenos climáticos extremos.

Para o coautor do relatório, Tales Carvalho Resende, os dados fornecem “evidências da gravidade da emergência climática”. O alarme é ainda maior, tendo em vista que os locais estudados são valorizados e protegidos.

A partir da combinação de dados de sensoriamento remoto com monitoramento em nível local, compilados por pesquisadores da Unesco em parceria com o World Resources Institute e da União Internacional para a Conservação da Natureza, a pesquisa estimou o carbono bruto e líquido absorvido e emitido por Florestas do Patrimônio Mundial, além de atribuir os principais fatores que causam essas emissões.

Atividades humanas

De acordo com o relatório, o fato de 10 das 257 florestas que fizeram parte da pesquisa apresentarem um excedente de carbono, durante o período entre 2001 e 2020, em função de atividades humanas é alarmante. Afinal, são áreas reconhecidamente áreas protegidas e reconhecidas internacionalmente como um alto valor de biodiversidade para uma maior conscientização em nível tanto mundial.

Das dez florestas que compõem essa lista, três se encontram na Ásia, duas na Oceania, e cinco no continente americano:

1. Patrimônio da Floresta Tropical de Sumatra, Indonésia
2. Reserva da Biosfera do Rio Platano, Honduras
3. Parque Nacional de Yosemite, Estados Unidos
4. Waterton Glacier International Peace Park, Canadá e Estados Unidos
5. Montanhas Barbeton Makhonjwa, África do Sul
6. Parque Kinabalu, Malásia
7. Bacia Uvs Nuur, Rússia e Mongólia
8. Parque Nacional do Grand Canyon, Estados Unidos
9. Patrimônio Mundial nas Montanhas Azuis de New South Wales,
Austrália
10. Parque Nacional Morne Trois Pitons, Dominica

O relatório fornece instrumentos que auxiliam no estabelecimento do diálogo entre os tomadores de decisão e as partes interessadas locais no desenvolvimento de políticas eficientes para a salvaguarda do desempenho das florestas do Patrimônio Mundial como sumidouros e estoques estáveis de carbono para as próximas gerações.

Também alerta para a necessidade de promover uma mobilização entre as partes interessadas, como os governos, a própria sociedade civil, comunidades tradicionais e o setor privado, para o desenvolvimento de fomentos ao desenvolvimento de pesquisas e investimentos sustentáveis, assim como a promoções do compartilhamento interdisciplinar de conhecimento para auxiliar as tomadas de decisão.

América Latina

Na América Latina, a agência chama atenção para importantes perdas na região do Chaco na Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai. A pior seca em mais de 50 anos no local está colocando a subsistência e a vida de milhões em risco. Este ano, o rio Paraná, segundo maior da América do Sul secou, como reproduziu o site da ONU no Brasil.

A perda de florestas também é um fator que contribui para a liberação de dióxido de carbono. De acordo com um relatório da FAO e do Pnuma, na América Latina entre 2000 e 2016, quase 55 milhões de hectares de floresta foram destruídos.

O número representa 91% da perda total de florestas do mundo. Parte dessa perda foi devido a incêndios descontrolados.

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