Investigação da Repórter Brasil culminou na identificação de diversas fazendas de MT que desmataram regiões da Amazônia e do Cerrado

Fábrica de ração da JBS/Seara em Tangará da Serra (MT) é destino final de soja comprada de desmatadores (Fernando Martinho/Repórter Brasil)

 

Riqueza para quem? Mato Grosso tem o maior rebanho bovino do país, com 32,4 milhões de cabeças de gado, segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), mas também é o estado da “fila do ossinho”.

É também o maior produtor de grãos do país, mas é lá também que famílias de baixa renda se de dedicam catar soja e o milho que caem das caçambas de caminhões que cruzam o Estado, como flagrou reportagem da Repórter Brasil. Isso acontece, por exemplo, em trecho da BR-163, entre Sinop e Lucas do Rio Verde. O destino é o mesmo dado pelas grandes corporações: os grãos que caem sobre os acostamentos são usados para alimentar pequenas criações de animais.

A reportagem especial aponta que as lavouras de soja e milho, cultivadas para servir de alimentação de frangos, porcos e outros animais, estão entre os principais vetores do desmatamento no país. E assim, grandes corporações, apesar dos compromissos socioambientais assumidos, fazem negócios com fazendeiros que infringem leis ambientais.

A investigação culminou na identificação de diversas fazendas de Mato Grosso que desmataram regiões da Amazônia e do Cerrado para plantar esses grãos, comprados por exemplo, pela Amaggi, Bunge e repassados à JBS para fabricação de ração que alimenta as aves que a companhia abate e vende sob uma de suas marcas, a Seara.

O relatório “Floresta Racionada – A soja e o milho utilizados como ração animal estão aumentando o desmatamento no Brasil”, disponível em inglês português, mostra como empresários do agronegócio driblam os mecanismos de controle e legislações ambientais para produzir grãos e, depois, fazem negócios com empresas signatárias da Moratória da Soja, que veta a produção do grão sobre terrenos desmatados. Também foram rastreadas vendas de produtores de milho em fazendas irregulares diretamente para a JBS, o que também coloca em dúvida os sistemas de checagem que as grandes empresas utilizam para evitar compras de áreas desmatadas ou ilegais.

Entre 2008 e 2019, fazendas produtoras de soja desmataram foram responsáveis, sozinhas, por 20% do desmatamento em Mato Grosso, o maior produtor da commodity no Brasil, segundo o Instituto Centro Vida (ICV).

“Deixamos de utilizar as terras que poderiam produzir e alimentar pessoas com alimentos diversificados e de alta qualidade e as usamos para plantar grãos para fabricar ração de aves em escala industrial, criados em grande parte em condições inadequadas”, exemplifica José Ciocca, gerente de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial.

As empresas mencionadas no relatório justificaram que, no momento da compra, as fazendas cumpriam os requisitos socioambientais adotados por seus procedimentos de aquisição de matérias-primas. A JBS, Amaggi e Bunge responderam à reportagem, confira aqui.

A investigação identificou cinco produtores rurais que vendem milho e soja plantado em áreas de desmatamento para a JBS/Seara de Tangará da Serra. Três deles vendem diretamente para a gigante, enquanto que um outro empresário escoa a produção para a Amaggi e Bunge, que por sua vez, comercializam com a JBS.

Acesse o relatório para ler todos os casos investigados.

A reportagem na íntegra você confere aqui.