Pioneiro na cena teatral cearense, Rhamon traz à tona tabus, preconceitos e afetos relacionados à sua condição de gay e de pessoa vivendo com HIV. Para ele, a educação que informa também mantém a vida

Fotos: Acervo Rhamon Matarazzo e Centro Cultural Bom Jardim

Por Paulo W. Lima

Rhamon Matarazzo certamente é um artista que não poderia ficar de fora desta sequência de entrevistas que estamos realizando e que tem por objetivo visibilizar artistas e personalidades que reconhecem suas existências como intersecções de lutas por respeito e vida como pessoa LGBT+ em cruzamento com outras condições existenciais marginalizadas. No caso de Rhamon, a pauta que lhe atravessa junto com sua homossexualidade é a da luta contra a sorofobia – preconceito, medo, aversão, descaso e/ou desrespeito contra as pessoas que vivem com HIV ou AIDS.

Nesta entrevista, este artista da cena e da literatura cearense revela um pouco mais das entrelinhas de seus processos criativos e de suas memórias e afetos. Suas respostas, mesmo repletas da sobriedade de um pesquisador acadêmico comprometido – que ele também o é – deixa no ar a nostalgia dos abraços não dados. Entre o amor materno de uma costureira e a saudade daquele artista que nunca viu pessoalmente, Rhamon tece lembranças de sua trajetória que vão desde seu nascimento, passando pelo dia, a hora e o ano em que ele descobriu que estava vivendo HIV, e até por dados alarmantes a respeito da saúde de pessoas soropositivas; chega até a projeção de futuros que caminhem no trilho de uma educação que forme e informe sem deformar a possibilidade de ser quem se é, de amar quem se ama por conta dos tabus moralistas que a hegemonia colonial, patriarcal e LGBTfóbica insiste em reproduzir até hoje.

Como nosso ator e dramaturgo evidencia: há muito o que se dizer sobre quem ele é para além do vírus HIV, mas infelizmente há mais ainda de discriminação e preconceito que desrespeitam vidas soropositivas. Após epidemias grandes de infecção por HIV no Brasil e no mundo; após as lutas, como bem lembrado por Rhamon, das “bichas de décadas passadas”, e de figuras como o Betinho e o Leonilson, pessoas que viveram com HIV e que trouxeram muita visibilidade para a pauta no Brasil do século XX, o Brasil segue com um silêncio imoral e um sucateamento criminoso dos cuidados com a saúde sexual e pública da população brasileira, seja ela LGBT+ ou não.

Não aprofundamos isso na entrevista, mas vale lembrar que Rhamon não está só nesta luta por mais conscientização e garantia de direitos. Ele faz parte de um grupo de pessoas que trazem esta condição da soropositividade como luta diária e conquistas para o presente e para o futuro. Faço questão de trazer aqui grupos como o Movimento Nacional Cidadãs Posithivas – MNCP+, que possuem não só mulheres trans, travestis e bissexuais, por exemplo, mas também mulheres cis, heterossexuais, religiosas e também soropositivas. Lembro também aqui do coletivo Consciência Posithiva, que tem atuado dentro e fora das redes sociais promovendo formações e informações de qualidade sobre a pauta das pessoas que vivem e convivem com HIV. Por fim, faço menção à Rede Nacional de Pessoas que vivem com HIV e AIDS – RNP, à qual Rhamon também tem vínculo no Ceará.

São diversos os movimentos e as pessoas engajadas nessa luta, mas é preciso a consciência de que a população LGBT+ está mais vulnerável, não pelo risco maior de infecção, mas sim pela sorofobia mais violenta contra a comunidade Pride. Este vírus, que quando surgiu na década de 1980 foi divulgado como a “peste gay” segue sendo a “marca de Caim” usada para condenar à morte, de inúmeras formas, a comunidade de gênero e sexualidade dissidentes. Uma hora morremos pela violência física contra nossos corpos, outra hora morremos por falta de acompanhamento e medicamento nos hospitais para cuidar de demandas como esta das pessoas que vivem com HIV. Por fim, morremos simbolicamente a cada vida que nos negamos viver porque o Estado nos negou políticas públicas e educação de qualidade para lidarmos com nossa saúde sexual de forma mais madura e responsável.

A entrevista deste artista e pesquisador solitário e afetuoso fala sobre tudo isso e muito mais… Fica evidente, por exemplo, a necessidade de se falar sobre o paradoxo que é a comunidade LGBT+ ser a principal afetada pela discussão social (ou falta dela) sobre HIV e AIDS e, ainda assim, dentro da própria comunidade não é raro encontrar casos de sorofobia. Ou mesmo a preocupação e o cuidado que Rhamon tem em falar com a juventude dessas gerações mais novas. Muitos sãos os desdobramentos possíveis dessa entrevista, mas por agora fica o convite para que vocês acompanhem a entrevista na íntegra e conheçam um pouco mais deste Artista FOdA!

Foto: Acervo Rhamon Matarazzo e Centro Cultural Bom Jardim

Rhamon Matarazzo, meu caro! De início, quero agradecer, em nome do Coletivo Kintal de Afetos, do Coletivo Transpassando e da Maratona FODA, sua disponibildiade de contribuir com esta entrevista para a coluna Artista Foda! É uma satisfação grande ter alguém como você com a gente. Seja bem vindo!

Querido, sabemos que você é um artista da cena e engajado com algumas lutas. Mas, para o público que vai te conhecer por essa entrevista, quem é Rhamon Matarazzo? De onde vem e por onde passou este sujeito?

Rhamon Matarazzo é o pseudônimo de ator de um jovem de 35 anos chamado Rhamon Diêgo Sousa Soares, signo de áries, nascido na maternidade César Cals no centro da cidade de Fortaleza no Ceará. Filho da costureira Rita Rosileide Sousa e neto da agricultora Maria Sousa Lucas. Sou ator e dramaturgo desde os 19 anos. Sempre gostei de arte. Tudo quanto é arte eu quero me engajar. Não necessariamente apenas o teatro.

Atualmente eu desenvolvo uma pesquisa bem solitária aqui no Ceará, devo confessar. Falo sobre Arte, HIV e Aids. Resolvi abrir a minha sorologia para HIV em dezembro de 2017 quando estreei o espetáculo Lázaro. Um monólogo de sessenta minutos onde eu discorro uma narrativa de um mundo sem medicação para HIV, ou seja, antes de 1996. Estava terminando a graduação em teatro quando tive a ideia de abrir que sou uma Pessoa Vivendo com HIV diagnosticado desde às 9:30 da manhã do dia 29 de maio de 2009. Lázaro fala sobre viver em um mundo dominado pelo conservadorismo nas décadas de 80 e 90 sendo gay e vivendo com o vírus que se tornou estigmatizado para homossexuais masculinos em decorrência de falas equivocadas das principais igrejas do planeta.

Já em 2019 encenei o segundo espetáculo sobre HIV. O que mudou no segundo espetáculo é que eu resolvi escrever algo mais autobiográfico. A peça de teatro Corpo Dócil que fala sobre como é a vida afetiva e sexual de um homem gay com diagnóstico de HIV. Essa obra cênica gerou alguns incômodos quando relatei que fui muito rechaçado por meus pares quando descobri minha condição de HIV positivo. Mas segui com a pesquisa em 2021 completei a tríade de espetáculos com a peça virtual intitulada Paroxítona. Essa peça fala sobre como sobreviver a duas pandemias de uma vez. Escrevi o espetáculo quando os números da Covid estavam no pico de 2021. Foi a obra mais difícil de escrever pela proximidade com o tema. Então fechei para repensar a pesquisa e fazer o mestrado em artes falando sobre teatro documentário e Aids.

Rhamon, certamente já se tornou – pelo menos no Ceará – uma grande referência das artes engajadas na pauta de combate à sorofobia. Você está construindo uma trajetória que caminha para a mesma importância política que tiveram artistas como Renato Russo (da banda Legião Urbana) e Leonilson, seu conterrâneo, que também trouxe o tema da soropositividade em suas obras de artes visuais. Por que você escolheu como caminho a linguagem teatral? Como você se relaciona com esses outros artistas que fazem parte da história de luta contra a AIDS?

Estamos em 2022 e ainda acho que as pessoas transformam o HIV e a AIDS em um mega tabu. As vezes me pergunto se realmente já se passaram quatro décadas de tanta luta no Brasil e no mundo. De vez em quando me pego meio que dando aula de biologia para as pessoas. A maioria da população brasileira ainda não debate amplamente o que é Indetectável e instransmissível. O que é PREP e PEP. E que uma pessoa vivendo com HIV e realizando seu tratamento a mais de seis meses não transmite mais o vírus. Por isso que acredito que continuei usando o teatro como metodologia. Pra meio que tentar contar de várias maneiras como é a vida de um positivo. Por várias perspectivas como é a convivência com o vírus. E que na vida temos outros cartões de apresentação.

Eu sou filho, ator, sobrinho, gay, dramaturgo, performer, produtor teatral, espírita, dentre outros aspectos e não apenas uma criatura que vive falando única e exclusivamente de HIV. Acho que o que me encantou no Leonilson quando conheci o trabalho dele em 2017 foi a forma como ele sempre lidou com a vida. Eu chorei de saudades do Leonilson. Eu dizia pra mim mesmo: porque a gente não se cruzou em Fortaleza? Porque não nascemos na mesma época. Ele fala sobre amor, sobre a situação política do Brasil, sobre guerras, sobre a família dele. E tudo com um carinho tão grande. Tenho saudades de pessoas assim. Antes de ser artista, positivo, gay Leonilson foi um dos caras mais incríveis que eu já ví. Porque nas fitas que ele deixou o que ouvimos é afeto. Aquela voz de gente que ama a vida incondicionalmente.

A minha relação com os outros artistas positivos no Brasil é algo que ainda estou construindo. No Ceará essa ainda é uma pauta difícil de adentrar. Principalmente no campo das artes. A pesquisa acadêmica carece de mais pesquisadores em HIV e AIDS no Brasil. Mas já conversei com grandes nomes da cena como Marcelo Ubuntu do Pará, Franco Fonseca do Rio Grande do Norte dentre outros autores do Sul e Sudeste. Mas aqui no Ceará me sinto um pouco solitário em uma busca genuinamente pura em HIV no Teatro. Esse lance de pioneirismo assusta um pouco. Em trinta anos eu sou o único por aqui nas Artes Cênicas levantando essa bandeira de uma forma explícita, precisa, com números exatos.

Eu estudo os boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde do Estado pra falar sobre mortalidade, sobre prevenção, eu devoro livros, periódicos, registros históricos, filmes, peças de teatro, tudo o que eu vejo pela frente que aborda o HIV. Eu acredito que vou encerrar meus dias nesse mundo falando disso. Porque mesmo que haja uma cura definitiva com vacina vai ficar uma dívida histórica da sociedade para com as pessoas que vivem com HIV. Eu nunca vou entender tanto preconceito na era da informação. Apenas sigo pesquisando e informando quem eu posso.

Você sempre coloca nas suas falas sobre a necessidade de começar a promover atividades de conscientização começando pelo básico da pauta, como a diferença entre HIV e AIDS. Em uma determinada ocasião, lembro de você falando sobre o preconceito exercido contra o seu espetáculo Lázaro, que trata da questão do HIV e que tem seu sangue exposto na cena. Conta para a gente um pouco sobre este seu espetáculo e quais preconceitos, violências e desinformações você decidiu enfrentar com a realização do espetáculo Lázaro. Quais foram os retornos mais significativos que você teve do público para este espetáculo?

Lázaro foi meu ponto de corte. Meu ponto de partida. A partir dali eu sabia que algumas pessoas iriam se afastar por causa da falta de informação sobre o vírus. Exatamente porque eu exerço meu lugar de fala mesmo falando sobre outras personagens eu dei lugar a minha fala em alguns segundos do espetáculo onde eu dizia claramente ter HIV. O mais interessante é que algumas pessoas não perceberam. Pensaram que era o narrador do espetáculo e não o ator que está positivo.

Quanto ao sangue utilizado em cena foi algo bem complexo. Me lembro que na época alguns profissionais de saúde me disseram pra tomar cuidado com questões éticas. Não tive ajuda de ninguém. Aprendi a tirar meu sangue na marra. Via tutoriais de punção venosa. Perguntava a outros artistas que já tinham trabalho com seu próprio sangue em cena. Depois de três dias aprendi a como tirar o sangue e não ter problemas em cena. Porque a imprecisão da seringa poderia causar danos a minha saúde. Mas fiz. Tirei durante umas quarenta sessões a retirada de cinco ml de sangue para fazer um ponto de interrogação em uma cartolina branca.

O preconceito dentro das apresentações nunca chegou de forma direta. Mas depois eu ficava sabendo que algumas pessoas na plateia saiam incomodadas por acharem que não havia a necessidade de mostrar meu sangue. Que aquilo poderia provocar algum acidente com a plateia. Era desinformação pura visto que eu estabelecia certa distância do público e por vezes testei as possibilidades de acontecer algum acidente. Atirava a seringa para ver até onde ia. Não chegava na metade do caminho que eu havia estabelecido entre eu e a plateia. Foi aí que vi que estava meio que obedecendo a vontade do público. E sinceramente não gosto de fazer isso. Foi então que passei a estudar alguns conceitos de performance e deixar a plateia avisada que ia ter sangue. Mas nunca deixaram de ir por isso.

Acho que o espetáculo reverberou mais na minha vida particular quando certa vez eu conversei com um homem em um aplicativo de relacionamento gay e ele disse que sabia do espetáculo que eu estava fazendo e que ia contar pra todos do bairro onde moro. Eu dei todos os links das minhas entrevistas de televisão e disse a ele que divulgasse meu trabalho com qualidade. De certa forma todo tipo de preconceito me faz refletir mais ainda sobre o que devo falar nos espetáculos. Quando surge o problema, surge a dramaturgia. Afinal eu apenas escrevo o reflexo da sociedade. Não gosto muito de contos de fadas. A não ser que seja pra metaforizar o HIV e a AIDS.

Foto: Acervo Rhamon Matarazzo e Centro Cultural Bom Jardim

Recentemente você publicou uma autobiografia intitulada “Rhamon com H”, que fala sobre esses mais de 10 anos vivendo com o HIV, já sendo hoje indetectável e intransmissível. Na cena, você estreou o experimento cênico-audiovisual intitulado “Paroxítona”, inclusive disponível no Youtube pelo canal do Centro Cultural Bom Jardim. Em Paroxítona o HIV deixa de ser o tema central da sua obra e você passa a abordar o tema da pandemia COVID-19 e seus desdobramentos. Agora te perguntamos sobre uma paroxítona também: a vida de Rhamon! Viver com HIV é apenas mais uma característica de sua existência, hoje. Na vida do Rhamon, o que mais se destaca quando ele pode não pensar no HIV? Quais os pertencimentos e afetos que você costuma cultivar na sua vida?

O cinema é uma das minhas grandes paixões. A música é outra. Sem a música eu nem consigo escrever. O mar é algo que realmente me deixa imerso em outra realidade. Mas agora nesse exato momento, no ano de 2022, não dá pra não pensar em HIV e AIDS o tempo todo. A todo o momento perdemos direitos em todas as esferas e instâncias do Brasil.

O Rhamon com H foi apenas uma introdução dos meus próximos livros. Ficou muito material de fora. Resolvi deixar pro final do ano. No segundo livro continuo escrevendo sobre a minha história. Mas tem uma coisa que eu não deixo de fazer a todo momento na minha escrita: falar de mim como se tivesse falando da experiência de várias outras pessoas. Porque se não for assim fica um texto monótono. Esse livro eu fiz especialmente para adolescentes e pais de adolescentes. É uma leitura rápida e bem focada em algumas críticas na involução que estamos tendo na prevenção de doenças pelo nosso atual quadro conservador. É uma sociedade adoecida de preconceito que quer brincar sem preservativo.

Já batemos a marca de uma pessoa morrendo por complicações de Aids por dia no Ceará só esse ano. Mas parece que os governantes não querem falar sobre esse assunto em ano de eleição. Caminhemos e vejamos o resultado disso tudo. Eu não sou muito ativista. Sou apenas um pesquisador em Arte, HIV e AIDS. Mas eu creio que existem estratégias mais eficazes do que ações que só distribuem panfletos e preservativos. As pessoas tem que saber as metodologias. O povo tem que conhecer o seu próprio corpo. Mas fica difícil com o atraso cultural promovido por muita politicagem.

No Brasil de 2022 a vida não está fácil para integrantes de grupos sociais marginalizados, como LGBT+, periféricos, pessoas que vivem com HIV ou dependem do SUS, hoje cada vez mais sucateado… Mas apesar de tudo, a arte é uma das vias da gente projetar outros futuros possíveis. Nesse sentido, queremos saber o que você deseja que seja o Rhamon e o Brasil de 2030, por exemplo?

Eu acredito única e exclusivamente no poder da educação. Foi pela educação que eu conseguir me manter vivo até hoje. Saber que estudei sobre a luta de muitos que hoje não estão mais aqui mais deixaram uma herança cultural e biomédica gigantesca pra gente. As bichas de 2022 tem muito o que agradecer as bichas das décadas passadas. Foram elas que saíram as ruas pra militar por direito a pesquisa científica, foram elas que peitaram a igreja católica quando a mesma disse que o uso da camisinha era imoral. E se hoje eu vivo também é pela luta delas. E eu não posso fazer menos. Me vejo as vezes na obrigação de educar esses jovens de hoje pra que em 2030 tenhamos as metas de não ter mais pessoas infectadas.

Espero que o Projeto Mosaico dê certo. Que as pessoas se vacinem pra não contrair HIV. Mas espero também estar vivo. Espero lá no fundo ver a cura do HIV. E que a comunidade LGBT estude mais sobre a temática pra respeitar mais o coleguinha com HIV, porque as vezes no escurinho do cinema e em outros ambientes não é o que eu vejo. Já vi muita gente sendo descartada como um copo de plástico por ter HIV. Acho que o problema do Brasil é realmente a falta de educação e espero ver um Rhamon mais aliviado em 2030 vendo jovens e adultos mais conscientes dos sujeitos históricos que são.

Quero dizer aos mais jovenzinhos que quando passarem pela rua e avistarem uma pessoa falando sobre educação sexual e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis que parem e escutem. Vocês tem muito a aprender com essas pessoas. E que por gentileza não se desespere se você descobrir que tem HIV. Você não vai morrer por isso. Tem tratamento, dá pra viver tranquilo. Mas faça de tudo pra não contrair o vírus. Se proteja o máximo possível. E o mais importante: saiba que se você abandonar um amigo por causa de um vírus quem precisa de algum tratamento certamente é você. HIV não é mais sinônimo de morte. Inspira cuidados. Cientificamente é muito mais seguro se relacionar com um positivo que sabe sobre o vírus, que faz o tratamento e cuida de você te explicando tudo do que com uma pessoa que se diz sem HIV mas não faz exame há um ano. No mais se amem e nunca deixem que te julguem por nada. Palavra de quem chegou aqui sendo jugado por um monte de gente e seguiu em frente. Estou vivo. Isso é o que importa. Quem me quer, bem; quem não me quer… paciência.

Rhamon, querido, neste momento final da entrevista, quero mais uma vez agradecer pela sua disponibilidade em conversa com a gente, do Kintal de Afetos, do Transpassando e do Planeta Foda/Mídia Ninja. E queremos te convidar para suas considerações finais: o que você gostaria de dizer a mais para as pessoas que nos acompanharam até aqui?

Quero dizer aos mais jovenzinhos que quando passarem pela rua e avistarem uma pessoa falando sobre educação sexual e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis que parem e escutem. Vocês têm muito a aprender com essas pessoas. E que por gentileza não se desespere se você descobrir que tem HIV. Você não vai morrer por isso. Tem tratamento, dá pra viver tranquilo. Mas faça de tudo pra não contrair o vírus. Se proteja o máximo possível. E o mais importante: saiba que se você abandonar um amigo por causa de um vírus quem precisa de algum tratamento certamente é você. HIV não é mais sinônimo de morte. Inspira cuidados. Cientificamente é muito mais seguro se relacionar com um positivo que sabe sobre o vírus, que faz o tratamento e cuida de você te explicando tudo do que com uma pessoa que se diz sem HIV mas não faz exame há um ano. No mais se amem e nunca deixem que te julguem por nada. Palavra de quem chegou aqui sendo jugado por um monte de gente e seguiu em frente. Estou vivo. Isso é o que importa. Quem me quer, bem; quem não me quer… paciência.

Foto: Acervo Rhamon Matarazzo e Centro Cultural Bom Jardim

Um pouco mais sobre Rhamon Diêgo Sousa Soares, o Rhamon Matarazzo: é formado em Licenciatura em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2011). Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (2018), Curso de Formação Continuada Conexões Contemporâneas pela Escola de Teatro da Vila das Artes (2021). Especializando em Arte Educação pela Faculdade Venda Nova Do Imigrante. Mestrando no Programa de Pós- Graduação em Artes do IFCE. Atualmente é professor de cursos livres sobre a historicidade da Arte que narra o HIV e a AIDS e escreve livros autobiográficos sobre teatro, homoerotismo, homossexualidade, HIV e AIDS.