Em 2021, três homens negros disputaram a categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Dois atuaram no mesmo filme. Polêmica marcou os debates

Por Paulo César Silva*

É notável a falta de representatividade de pessoas pretas no Oscar. E isso fica evidente quando percebemos que conta-se nos dedos a quantidade delas nas categorias da premiação da Academia, seja nas de atuação ou nas técnicas. Em questão de vitória, a realidade é ainda pior. Então não é difícil imaginar que em apenas uma vez o número de pessoas pretas foi a maioria em uma categoria nesses 96 anos de premiação. E ainda assim, esse fato histórico acabou sendo deixado de lado por causa de uma polêmica.

Em 2021, três homens negros disputaram a categoria de Melhor Ator Coadjuvante: Daniel Kaluuya, que deu vida a Fred Hampton, um grande líder dos Panteras Negras, e Lakeith Stanfield, que interpretou Willian O’Neal, infiltrado do FBI no partido como forma de ter um delito perdoado, ambos do filme Judas e o Messias Negro; e Leslie Odom Jr., de Uma Noite em Miami… Foi a única vez em toda história do prêmio onde pessoas pretas foram a maioria indicada. Era um verdadeiro marco na história da indústria hollywoodiana.

Entretanto, no dia 15 de março, quando os indicados foram revelados, muita gente ficou sem entender quando o nome de Lakeith surgiu entre os coadjuvantes. Para todo mundo, ele era o protagonista da história, e até mesmo a Warner Bros. direcionou seu “for your consideration” (campanha) para o ator como “lead”, ou seja, principal. “Eu também fiquei confuso, mas que se f***!”, escreveu Lakeith em sua conta de Twitter logo após muita gente o questionar depois sobre a situação. 

A polêmica levantou um debate, pois se nem o “Judas” da trama, mesmo com um evidente protagonismo, e nem o “Messias” de Kaluuya eram os protagonistas de uma história de gente preta, quem seria? Alguns se indignaram, pois a mensagem que ficou nas entrelinhas é que, para a indústria cinematográfica norte-americana, pessoas pretas, mesmo em destaque e dentro de uma narrativa totalmente voltada para suas histórias, quase sempre são relegadas a coadjuvantes.

*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024