Cientistas puderam chegar ao número de 1010 espécies graças ao registro de observadores e cientistas

Essa borboleta é da espécie Lyropteryx apollonia e foi registrada por Stephen Boddington

 

Um levantamento realizado por pesquisadores brasileiros e publicado em periódico científico reforça a necessidade de preservação de uma das regiões mais ricas em biodiversidade da Amazônia, que fica ao norte de Mato Grosso.

A região do Parque Estadual Cristalino, entre o Cristalino Lodge e quatro reservas de patrimônio particular natural (RPPNs), concentra 1010 espécies de borboletas, quase 30% das borboletas de todo o Brasil (e mais do que o dobro de toda a Europa). Mas essa mesma região é alvo de invasores. De outro lado, sofre ameaças que advêm de decisões judiciais em favor de interesses particulares e também, institucionais. Medidas essas que visam reduzir ou extinguir unidades de conservação.

Para chegar a esse número de espécies, a equipe de pesquisadores coordenada pela bióloga Luísa Mota contou com a contribuição de pesquisadores e observadores de borboleta, que ao registrarem e disponibilizarem na internet, acabaram por contribuir com o levantamento.

Na Amazônia brasileira, infelizmente, ainda existem poucos inventários locais de espécies de borboletas publicados. Uma das dificuldades para se fazer um inventário desses é que a maioria das espécies amazônicas é rara, e é necessário um estudo muito longo para encontrá-las. Como muitas localidades na Amazônia são de difícil acesso, as expedições científicas costumam não durar tempo suficiente para isso.

Esta é uma Heraclides torquatus, fotografada por Sidnei Dantas

“A ciência cidadã e o ecoturismo podem ser grandes aliados no estudo das borboletas da Amazônia. O local atraiu a atenção de pesquisadores e observadores de borboletas, resultando em um grande número de fotografias desses animais publicadas em livros ou na internet, além das coletadas durante as expedições científicos”.

A lista de espécies foi feita com a combinação desses dados. As imagens foram cuidadosamente procuradas e curadas da internet e outras fontes, e tanto as fotografias quanto as borboletas coletadas foram identificadas por especialistas para se saber quais as espécies presentes na região.

Cristalino sob alerta

A região do Cristalino é rica em biodiversidade (Marcos Amed)

A bióloga defende a proteção integral da região do Cristalino.

“Essa região se mostrou mais rica em espécies do que outras na Amazônia central e na Mata Atlântica, sendo mais uma demonstração da importância do sul da Amazônia. Vale lembrar que, enquanto as RPPNs estudadas estão protegidas, outras áreas muito próximas, incluindo o Parque Estadual Cristalino, estão ameaçadas. É crucial que o sul da Amazônia seja conservado para que sua biodiversidade não seja perdida”.

Em todo o mundo, estima-se que existam cerca de 17500 espécies de borboletas. No entanto, essa diversidade não está distribuída de forma homogênea: Enquanto, na Europa, encontram-se menos de 500 espécies, há algumas localidades conhecidas no oeste da Amazônia, como algumas reservas no Peru, que possuem mais de 1000 espécies registradas.

A própria Amazônia é muito grande (mais de 4000000km² só no Brasil) e heterogênea, e diferentes regiões dentro dela possuem espécies distintas e em números diferentes. “Saber quantas e quais espécies existem em várias localidades é importante para se entender padrões de diversidade e guiar políticas de conservação – o que é especialmente relevante considerando as ameaças que o bioma vem sofrendo, como desmatamento e mudanças no regime de chuvas”, explica a bióloga.

(Com assessoria/Fundação Ecológica Cristalino – FEC)