A caravana de moradores saiu de Açailândia (MA) na última sexta-feira (02) rumo à capital maranhense com essa missão, e retornaram à comunidade com o dever devidamente cumprido

Maria do Socorro e Francisca “Tida” representando ACMP na entrega da carta. Foto: Lanna Luiza

Por Lanna Luz, maranhense, jornalista e assessora de comunicação na Justiça nos Trilhos

“ESSA LUTA É NOSSA! ESSA LUTA É DO POVO! É COM JUSTIÇA QUE SE FAZ UM BAIRRO NOVO!”, com entusiasmo e garra, a presidenta Francisca Sousa, a dona Tida, e a tesoureira Maria do Socorro da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá (ACMP), entregaram na manhã no último sábado (03), uma carta ao candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O documento compartilhava as experiências do processo de luta pelo reassentamento e pela autonomia na concepção do bairro Piquiá da Conquista, onde a obra segue, não sem dificuldades, de certo modo com boas perspectivas de conclusão. Além disso, os moradores solicitaram apoio na reparação integral das violações sofridas ao longo dos anos. Um dos pontos que tem gerado preocupação neste momento, é o fato de que após a conclusão e entrega das casas, por ser um recurso originado do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) pelo programa Minha Casa Minha Vida, atual Casa Verde e Amarela, as 312 famílias ainda terão que pagar um financiamento de 120 meses, ainda que com um valor baseado na sua renda.

“Consideramos que não é justo cobrar por um bem que estamos conquistando por consequência das violações sofridas desde 1980 com a instalação da Estrada de Ferro Carajás, siderúrgicas e entreposto da Vale S.A. Pedimos que, estando na posição de presidente da República, possa isentar as famílias de Piquiá de Baixo dessa dívida”, destacam os moradores na carta.

SR. EDVARD DANTAS, PRESENTE!

A caravana de moradores chegou em São Luís (MA), na sexta-feira (02), acompanhou o comício de Lula e teve esse momento simbólico, onde também fizeram a entrega da carta, em homenagem à memória, força e determinação do eterno presidente da ACMP, o sr. Edvard Dantas Cardeal, que diante das violações causadas pela mineração na comunidade, escolheu lutar para viver e começou a mobilizar parceiros e os demais moradores para buscar uma saída.

Essa é a segunda vez que a comunidade de Piquiá de Baixo escreve ao Lula. A primeira foi em 2005, em que sr. Edvard Dantas, na época presidente da ACMP, ciente de que os moradores chegaram muito antes de qualquer empresa, e da existência da linha de ferro – e da poeira do minério – escreveu uma carta ao então Presidente Lula (2003 a 2011), explicando a situação em que viviam as famílias do Piquiá e recebeu como retorno com um direcionamento que apontava caminhos e órgãos públicos que deveriam ser procurados pela comunidade.

Com as orientações de Lula e a sabedoria do sr. Edvard, o povo de Piquiá seguiu em busca, onde aos poucos se conseguiu tecer ao seu redor uma forte rede de assessores e aliados, que levaram as denúncias e reivindicações da comunidade até as instituições internacionais. Por meio de toda essa mobilização, um avanço importante foi conquistado, inclusive de aporte de recursos, o que permitiu a aprovação projeto urbanístico do novo bairro pelo Programa Minha Casa Minha Vida – Entidades em 31/12/2015, já na gestão da presidenta Dilma Rousseff, que foi quem entregou o documento nas mãos das mulheres que estavam representando a diretoria da Associação no evento, a vice-presidenta Francisca (atual presidenta) e a conselheira fiscal Joselma de Oliveira.

Por conta da burocracia, que é um dos instrumentos de opressão do povo pobre, o recurso para início da obra foi disponibilizado apenas em novembro de 2018. Infelizmente o sr. Edvard faleceu antes de ver o bairro pronto, em 23/01/2020, emblematicamente no dia em que foi assentado o primeiro bloco no chão, subindo a parede da primeira casa. “Isso marcou bastante a nossa história de luta, nos impulsionando a seguir para concretizar o sonho dele e de todas as demais famílias pelas quais ele tanto lutou”, reafirmam os moradores na carta.

Para finalizar, as mulheres da comunidade do Piquiá de Baixo, futuras moradoras do Piquiá da Conquista que assinam a carta, ressaltam: “Na esperança da eleição, agradecemos a disponibilidade de, mais uma vez, fazer parte dessa nossa história de luta, resistências e conquista do nosso novo bairro”.