Ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, afirmou que a Justiça Eleitoral irá apurar os responsáveis pelas manifestações

Bolsonaristas interditam trechos de rodovias de SP e da Tietê. Foto: Reprodução/Twitter

Por Mauro Utida

Desde o domingo (30), 834 manifestações foram desmobilizadas por rodovias do país feitas por bolsonaristas que não aceitam a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), até as 6h17 desta quinta-feira (3), ainda havia o registro de 86 bloqueios em rodovias federais pelo Brasil.

Quem financiou estas paralisações ilegais que levaram caos para diversas regiões do país? Além de gerar transtorno no trânsito, também causaram problemas logísticos que prejudicam setores da indústria, supermercados, turismo e saúde. Outra pergunta que ficou no ar, por quê as autoridades competentes foram condescendentes com as manifestações criminosas e antidemocráticas?

O deputado federal André Janones (Avante), que participou ativamente da campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, informou na terça-feira (1º) que os bloqueios não tem apoio da categoria dos caminhoneiros e são orquestrados por Bolsonaro, através de alguns infiltrados. “Caso isso se confirme nas investigações, Bolsonaro pode ser preso antes de deixar o governo”, disse.

Em vídeos que circularam nas redes, caminhoneiros que estavam parados com suas carretas denunciaram o assédio por parte dos empresários que ameaçavam demitir quem não aderisse a manifestação. “Eu não sou Bolsonarista, eu sou PT. Meu patrão me obrigou a parar minha carreta se não ia cortar meu salário e eu poderia perder o emprego”, disse um deles. “Que fique bem claro que esta paralização está sendo feita por meia dúzia de bolsonaristas que pararam o trânsito, 80% dos caminhoneiros estão parado porque estão presos, a maioria aqui queria estar com sua família em suas casas”, disse um outro que também acusou as autoridades de serem coniventes com os manifestantes bolsonaristas. “Se fosse uma manifestação de pobre por terra, a borracha já tinha cantado. Por que o choque não tira esse pessoal?”, protestou.

 

 

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Manifestação criminosa e antidemocrática

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, afirmou nesta quinta-feira (3) que a Justiça Eleitoral vai apurar os responsáveis por essas manifestações de viés golpista e os responsabilizará por crimes contra o estado de direito.

Moraes classificou como criminosos e antidemocráticos os manifestantes bolsonaristas que contestam o resultam das eleições por meio dos bloqueios de rodovias e que cobram por intervenção militar em atos realizados em frente aos quartéis.

Derrotado nas urnas, Bolsonaro levou 45 horas para se pronunciar sobre a disputa. O silêncio do presidente foi usado por grupos extremistas como um salvo conduto para bloquear as rodovias e se manifestar em frente aos quartéis com pedidos de intervenção militar. Na noite da última quarta-feira, 2, Bolsonaro realizou uma transmissão ao vivo para pedir aos seus apoiadores que liberem as vias diante do risco de desabastecimento e dano à economia.

Na sessão desta quinta, Moraes ainda leu diversos relatórios de observadores internacionais que atestaram a segurança das eleições e das urnas eletrônicas. O ministro ainda elogiou a atuação do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, que pediu a atuação de medidas para desbloquear as vias obstruídas por bolsonaristas.

Investigação do diretor da PRF

O Ministério Público Federal (MPF) pediu, nesta quarta-feira (2), que a Polícia Federal (PF) investigue possíveis crimes cometidos pelo diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques. Segundo ofício da Procuradoria da República no Distrito Federal, o inquérito deve apurar blitz realizadas pela corporação durante o segundo turno das eleições e omissão em relação aos bloqueios em rodovias.

Sobre o bloqueio nas rodovias brasileiras, o MPF diz que, se comprovada omissão do diretor da PRF, o caso pode ser considerado prevaricação. Além disso Silvinei Vasques – que declarou apoio a Bolsonaro na eleição – pode responder por “crimes praticados por invasores de rodovias”.

Prevaricação

Em vídeo que circula nas redes, o comandante-geral da Polícia Militar do Paraná (PMPR), Hudson Leôncio Teixeira, admite que a negociação com os manifestantes já podia ser considerada prevaricação – o descumprimento de ordem por um funcionário público – por ir contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou as polícias ações para o total desbloqueio de estradas no país.

“Nós temos bom senso, mas eu preciso que vocês tenham esse bom senso. Porque senão a gente vai fazer o que a lei está determinando. Na verdade, a gente está prevaricando, já deveria ter feito. Vamos começar a aplicar a multa de todo mundo aí. Multa de trânsito e aquela multa de R$ 100 mil”, afirmou o comandante, que deu meia hora para o desbloqueio de uma das faixas da pista.

Com informações do g1 e Agência Estado

Em Jundiaí, no interior de São Paulo, a demora de forças de segurança para desbloquear as rodovias que cortam a cidade por manifestantes antidemocráticos causou o atraso de mais de oito horas na entrega de uma carga com cerca de 520 mil ovos que são utilizados pelo Instituto Butantan para a fabricação de vacinas contra o vírus H3N. A situação ocorreu nesta terça, o caminhão que transportava a carga saiu de São Carlos e ficou parado por horas nas proximidades de Jundiaí. Caso os ovos não possam ser aproveitados, cerca de 1,5 milhão de doses da vacina contra Influenza podem ser atrasadas.

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