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Por Joelma Stella / Estudantes NINJA

Dia 15 de outubro é feriado no Brasil, Dia dos Professores. No país de Paulo Freire, uma das principais referências mundiais da pedagogia, celebramos neste feriado os profissionais mais confiáveis para os brasileiros. De acordo com a pesquisa Confiabilidade Global 2022, 64% da população considera os professores mais confiáveis que cientistas (61%) e médicos (59%), que ocupam a segunda e terceira posição no ranking.

Apesar de toda a celebração e confiança em torno da categoria, um levantamento da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado em 2021, aponta que o Brasil tem o menor salário inicial para professores entre os 37 países que integram a organização. Além da má remuneração, educadores também precisam lidar com a precarização sistêmica da educação que prejudica ainda mais o seu trabalho. É o caso dos cortes drásticos realizados pelo Ministério da Educação (MEC) no orçamento das universidades e institutos federais na última semana.

Porém não é privilégio da educação pública esse cenário de desvalorização. Professores de escolas particulares também enfrentam baixos salários, e em alguns casos, pressão psicológica por parte dos seus empregadores, que em muitos casos gera adoecimento e esgotamento destes profissionais.

Diante do cenário complexo que é ser professor no Brasil, eu como professora, tenho me perguntado qual o nosso papel no malabarismo social e político brasileiro. E a única certeza que tenho é que estamos na linha de frente de uma batalha desigual, remando contra a maré de um sistema que sucateia a educação, para impedir que ela mova estruturas.

Atualmente eu dou aula em um projeto socioeducativo para jovens de 16 a 22 anos. Nestes últimos dias de outubro, precisei intermediar um conflito baseado em questões políticas e religiosas entre meus alunos. Foi um momento tenso e complexo, no qual por alguns instantes eu me senti uma mistura de diplomata com especialista do esquadrão antibombas, desarmando aquela situação inflamável. Ao final eu estava exausta, mas ainda consegui conduzir um debate saudável e respeitoso com trinta jovens, sobre a importância do estado laico e da democracia. Depois voltei para casa como tantos trabalhadores, em um ônibus lotado, que bem nesse dia exaustivo foi assaltado a mão armada.

Nos dias seguintes fiquei com o pensamento vagando sobre o papel dos professores no Brasil, um país que celebra, mas não valoriza a educação que ousa ir além do tecnicismo. Pensei em como eu, que estudei a vida toda em escola pública, encontrei muitas vezes nesse lugar terreno fértil para me conscientizar sobre mim mesma e sobre o mundo, e para debater assuntos que não eram pautados em casa. Lembrei de tantos professores que conheci, cansados, mal remunerados, muitas vezes desmotivados, mas que por inúmeras razões, continuavam ali, tentando. E depois de tanto pensar fiquei com uma pergunta latejando na cabeça:

Afinal, qual é o papel do professor em um país estruturado sobre tantas dores mal tratadas?

Ainda não tenho certeza da resposta, mas desconfio que passe por Paulo Freire, quando ele diz na sua Pedagogia da Autonomia que:

“O educador permanecendo e, cumprindo amorosamente o seu dever, não deixe de lutar politicamente por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua tarefa, assim como pelo zelo devido ao espaço pedagógico em que atua com seus alunos”.

Acho que talvez a educação seja o remédio para as feridas que escondemos enquanto nação. O professor acaba sendo o peão nesse jogo de xadrez, linha de frente que vai cavando aos poucos a parede para deixar passar a luz. Há algo heróico, porém injusto nisso. Por isso reivindicamos constantemente respeito por nossos direitos.

Sigamos portanto celebrando e lutando. Pois só a educação tem poder para mover estruturas e transformar realidades, e por isso ela é tão temida por aqueles que a desmontam e corrompem para perpetuar desigualdades.