População da cidade do Sul de Minas está mobilizada para coibir atuação de mineradoras e evitar impactos ambientais e turísticos no município de 40 mil habitantes

A Serra do Caracol é um conjunto montanhoso que foi tombado pela cidade de Andradas, mas está ameaçada por projetos de mineração. Foto:Sérgio Patrizi

Por Mauro Utida

Assim como aconteceu na região metropolitana de Belo Horizonte onde projetos de mineração ameaçaram a Serra do Curral e foram impedidos após manifestação popular, a cidade de Andradas, no Sul de Minas Gerais, passa pelo mesmo drama. A exploração de bauxita coloca em risco a Serra do Caracol, uma unidade de conservação tombada pelo município, que abriga o Pico do Gavião, além de margear a rota do Caminho da Fé, a maior trilha de peregrinação do país.

A cidade mineira de Andradas possui 40 mil habitantes e já conta com atividades de exploração de bauxita no município, porém a população teme que as propostas causem sérios impactos na preservação ambiental e atividades turísticas. Mobilizações populares já foram organizadas nas ruas da cidade e uma petição online circula na internet com mais de 4.250 assinaturas para coibir a atuação de mineradoras.

A gestora executiva da Associação do Caminho da Fé, Camila Bassi Teixeira, informou que há uma agenda de mobilizações com a população com objetivo de explicar o processo de mineração e os impactos que esta atividade pode trazer ao município. “As comunidades destas áreas afetadas não tem conhecimento do impacto que estes projetos podem trazer para a vida delas, muitas acreditam que serão até benéficas para elas. É difícil lutar contra esses tipos de argumentos, por isso focamos em ações educativas para explicar que a mineração pode causar impactos negativos a longo prazo para o município, ao meio ambiente e para a população”, declarou.

A mineradora Alcoa, que já opera em Andradas e solicitou mais dois pedidos de exploração de bauxita, informou que as áreas pleiteadas não incluem a Serra do Caracol e Serra do Pau D’Alho, porém a gestora executiva da Associação do Caminho da Fé questiona que não há clareza sobre os pontos específicos que a empresa quer explorar e que, estes tipos de atividades podem causar impactos de até quatro quilômetros com a poeira da extração de bauxita que podem afetar voos livres no Pico do Gavião, peregrinos que passam pelo Caminho da Fé, além dos moradores.

Camila informa que a Associação não descarta ter que mudar o trajeto do Caminho da Fé de Andradas caso os projetos prejudiquem a atividade dos peregrinos na cidade. “A cidade perde como um todo se levar esta proposta adiante”, disse.

A Prefeitura de Andradas foi procurada pela reportagem diversas vezes, mas não se manifestou até o fechamento desta matéria.

A mineradora Alcoa respondeu em nota afirmando que não haverá operação direta no Caminho da Fé e também não terá intervenção no Pico do Gavião. “Qualquer decisão será tomada em conjunto com a comunidade”, informou.

Caminho da Fé

A rota do Caminho da Fé já foi percorrido por mais de 72 mil peregrinos em cerca de 20 anos de atividade. Esta é a trilha de peregrinação mais conhecida do país e possui diversos caminhos até o Santuário de Aparecida do Norte. O trajeto mais longo tem 742 km saindo de Borborema e o mais curto, partindo de Paraisópolis, tem 134 km.

A peregrinação brasileira foi inspirada no Caminho de Santiago de Compostela e aqui os peregrinos percorrem cidades do estado de São Paulo e Minas Gerais.