O professor universitário foi torturado e assassinado  em Açailândia, a 562 km de São Luís, capital do Maranhão. O corpo do professor foi encontrado em um matagal, no bairro Laranjeiras, com ferimentos pelo corpo e marcas de estrangulamento.

Foto: Arquivo Pessoal

Por José Carlos Almeida

Neylson Oliveira era natural de São Luís e morava sozinho em Açailândia, no loteamento Colinas Park. Ele era professor substituto da disciplina de Libras da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) campus de Imperatriz, além disso, era concursado e trabalhava na Escola Municipal Fernando Rodrigues, na Vila Ildemar, em Açailândia.

A notícia de sua morte chocou a todos pela forma brutal e cruel que ocorreu. Familiares, amigos, sindicatos, movimentos sociais, universidades, partidos políticos e sociedade civil, além de prestarem solidariedade, demostraram preocupação com a motivação do crime que ocorre meio a uma escalada de violência política, racial e homotransfóbica no Brasil.

Além de professor, Neyson era militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), sindicalista e LGBTQIA+.

“Desde estudante, Neylson se envolveu com as lutas para conquistar direitos políticos e sociais para a classe trabalhadora. Sobretudo, era um militante da causa LGBTI, das lutas do campo, da educação especial etc. Foi diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMA na gestão ‘Nada Será como Antes’, foi do Programa Nacional de Educação por Reforma Agrária (PRONERA)”. Diz parte da nota publicada pelo PSTU.

Enquanto sindicalista o professor esteve a frente da última greve que ocorreu no ano de 2021 no município de Açailândia.

“Na grande greve do ano de 2021, protagonizada pelos professores e professoras daquele município, esteve à frente das lutas, da organização e dos protestos da categoria, fazendo parte do comando de greve. Existem suposições de que teria sido um latrocínio e, pelo requinte de crueldade dos criminosos, não resta dúvida que esse crime está também atravessado por LGBTfobia”, afirma PSTU.

Versão da Polícia

A Polícia Militar do Maranhão (PMMA) prendeu na noite desta quarta-feira (10), três pessoas que supostamente participaram da morte do professor. De acordo com a PM, os suspeitos se encontravam em um ponto de venda de drogas em uma área conhecida como “Casqueiro”, quando avistaram o professor. Segundo a PM os suspeitos atraíram a vítima para o local e o levaram para dentro de um imóvel, onde o roubaram, torturaram e o mataram por estrangulamento.

Ainda segundo os policiais militares, um dos suspeitos confessou que o docente foi morto dentro da casa e, logo após o crime, o corpo da vítima foi levado em uma motocicleta e deixado na Rua 15 de Novembro, situada no bairro Laranjeiras.

Segundo a PM um quarto suspeito, que já foi identificado, também teria participado do crime.

A versão da polícia causa estranheza em familiares e amigos

Logo nas primeiras horas desta quinta-feira (11/08), todos os blogs, rádios e canais de TV da cidade anunciavam que a PM havia prendido três suspeitos de matar o professor.

Que os suspeitos eram traficantes e que o professor havia ido até eles. Diferente de outra versão contada no dia anterior pelos mesmos blogs, rádios e canais de TV, de que na verdade o professor havia sido roubado na sua própria casa e jogado no matagal.

A família, os amigos e conhecidos reagiram, muitos não acreditam na versão apresentada e vão buscar justiça para o caso.

“Nós exigimos celeridade e transparência nas investigações policiais! Sua trajetória de vida, sua militância em defesa dos direitos humanos e das pessoas LGBTI, além de sua importância política e pedagógica na cidade de Açailândia deve ser considerada para se investigar a fundo e trazer os responsáveis à justiça.”, pontuou nota do PSTU.

Açailândia é marcada pelo polo siderúrgico e pelo trabalho escravo

A cidade de Açailândia é uma cidade de maioria conservadora, uma das três cidades do Maranhão onde o atual presidente ganhou a maioria dos votos.

A cidade é conhecida pelo domínio do agronegócio, por siderurgias, por empresas conhecidas nacional e internacionalmente como violadoras de direitos humanos e da natureza, pela extração de carvão e ferro gusa.

É conhecida também por uma grande quantidade de trabalhadores escravizados, é uma cidade violenta e perigosa, em especial, para os militantes sociais, lgbts e pessoas negras.

O velório de Neyson ocorre neste momento em sua cidade de origem. Seus familiares, companheiras e companheiros e militantes de partido se despedem do seu corpo físico cantando a Internacional.