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Ensina-se nos livros escolares que a Princesa Isabel (1846-1921) foi uma heroína nacional, a redentora que sancionou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.

Mas os esforços da monarquia em pintar a princesa e suas ações como fundamentais para o fim da escravidão tinha razão óbvia e pouco nobre. Em 1888, a realeza vivia seus últimos momentos em um Brasil já dominado pelos republicanos. Associar-se a uma causa tão popular quanto o abolicionismo era uma das últimas esperanças de dar sobrevida ao regime. Não seria fácil, porém, convencer o povo por muito tempo de que os motivos da Coroa para tanto entusiasmo com a abolição eram nobres e legítimos.

A suposta generosidade da monarca não se comprovava na prática. Sempre cercada de mucamas, o tratamento que dirigia aos descendentes de uma raça pela qual ela teria lutado para emancipar não era nada lisonjeiro.

Já aos 18 anos, assim listou os seus escravos: “Marta, negrinha de quarto, Ana de Souza, sua mãe, Francisco Cordeiro, preto do quarto, Maria d’Áustria, mulher dele, Minervina, lavadeira, Conceição, Florinda e Maria d’Aleluia, engomadeiras. José Luiz, preto músico, Antonio Sant’Ana, preto que me serviu algum tempo.” Isabel era indiferente aos sofrimentos dos serviçais. Como no caso de um escravo de sua residência, que, já velho e tuberculoso, teve de recorrer ao imperador dom Pedro II, pai da governante, para conseguir a alforria.

Embora se colocasse como liberal, ela se mostrou irritada com a decisão da Câmara dos Deputados que aprovara a Lei do Ventre Livre, promulgada contra a sua vontade em 1871, dando liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data.

No livro “O Castelo de Papel” (Rocco), da historiadora Mary Del Priore, essa imagem de Isabel como santa progressista é desfeita. Com base em documentos dos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e do Museu Imperial, em Petrópolis, a historiadora confirma que a herdeira do trono não defendia as causas sociais e nem se indignava contra os açoites recebidos pelos escravos. Era apenas uma princesa mais preocupada com a família e a sustentação da realeza do que qualquer direito ou bem estar social.