Prefeitura embarga obras no Centro Histórico de Cuiabá por suspeita de garimpo ilegal
Também há denúncias de exploração de mão de obra de pessoas em situação de rua
Caminhões retirando terra e entulho durante a noite, madrugada e aos finais de semana de dentro de três casas do Centro Histórico de Cuiabá acenderam o alerta na vizinhança. Com base nas denúncias, a Prefeitura de Cuiabá foi até o local. Diante do cenário encontrado, há suspeitas de que ali esteja ocorrendo garimpagem ilegal do solo.
Além de crime ambiental e depredação de patrimônio histórico – pois se tratam de bens tombados -, pesam sobre o proprietário das residências, denúncia de exploração de mão de obra de pessoas em situação de rua, que estariam trabalhando em regime de trabalho análogo à escravidão.
Em operação na manhã desta sexta-feira (14), a Secretaria de Ordem Pública da Prefeitura embargou as obras nas residências que ladeiam a “Escadaria do Beco Alto”, no entorno da Praça da Mandioca, reduto cultural da cidade.
O proprietário, Cláudio Campos, justificou à equipe de fiscalização da prefeitura, que realiza obras para um muro de contenção e que operava ali, obras de revitalização, com a intenção de construir um shopping horizontal. Ele também negou que tenha utilizado mão de obra de pessoas em situação de rua.
Mas a prefeitura diz que ele não tem projeto liberado, alvará e tampouco escritura dos imóveis, dessa forma, as obras ocorrem na ilegalidade. O secretário de Ordem Pública, Leovaldo Sales disse que ele terá que provar que possui licenças específicas e explicar ao poder público sobre o cenário encontrado. “Que mais parece uma cena de guerra e não um Centro Histórico. Sabemos que na madrugada caminhões estão saindo daqui, mas o que foi feito com esse material? O proprietário vai ter que se justificar”, explicou Sales.
A Prefeitura disse via assessoria, que vai pedir investigação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – cuja sede fica próxima ao local -, Polícia Federal, Civil e do Ministério Público do Trabalho (MPT). O proprietário foi notificado e tem dez dias para apresentar a documentação e alvarás para realização da obra. Ele também tem que tirar grandes pedras que se acumulam na rua em frente às casas.
O site Olhar Direto conversou com moradores. Eles disseram à reportagem que há pelo menos quatro anos ele vem escavando imóveis. O secretário diz que embates com a vizinhança se avolumam, dizendo que de 2010 a 2022, há pelo menos 33 boletins de ocorrência registrados contra Cláudio, por diversos motivos, de constrangimento à perturbação de ordem pública com a movimentação dos caminhões em horários impróprios.
Já Claudio, justificou à reportagem que o cenário descrito pelo secretário, como de guerra, se deve ao fato de que a área é de aluvião e está fazendo uma retenção sustentável para separar água fluvial da pluvial e água servida. “Para este trabalho temos que fazer todo uma contenção e drenagem com infiltração do solo para devolver isso ao meio ambiente de forma sustentável”. Se defendeu das denúncias, dizendo que a possibilidade de garimpagem ilegal é nula. Disse ainda à reportagem do OD, que as denúncias partem de segmentos que não querem ver o centro histórico desenvolvido.