No dia 16 de abril, quatro homens encapuzados e armados com fuzis ameaçaram uma aldeia do povo kanamari, no Vale do Javari

Foto: Bruno Kelly / Amazônia Real

A terra indígena do povo Mura, não demarcada, está no centro dos interesses do agronegócio, em razão do seu potencial como reserva de potássio para a indústria nacional de fertilizantes. A discussão em torno da exploração do mineral, contam lideranças Muras, deflagrou conflitos de não indígenas contra as aldeias, onde vivem cerca de 300 famílias.

No dia 16 de abril, quatro homens encapuzados e armados com fuzis ameaçaram uma aldeia do povo kanamari, no Vale do Javari. O caso foi registrado na delegacia de Atalaia do Norte.

“Falaram para o meu vice-tuxaua que vão dar um tiro na minha cara. Tem noite que eu nem durmo.” afirmou o cacique Sérgio Freitas do Nascimento Mura, 42, do município de Autazes, no Amazonas, para a equipe da Folha de São Paulo.

Para as lideranças indígenas, os moradores da região contrários à demarcação e favoráveis à exploração do potássio são insuflados por fake news.

“Dizem que o único desenvolvimento é fazendeiro, madeireiro e que não tem mura em Autazes. Colocam a sociedade contra a gente. É preocupante porque Autazes é dominada por outras situações não agradáveis e a gente pode a qualquer momento sofrer um atentado”, afirmou Cláudio Mura, presidente da Associação Indígena Mura.

Em reunião em Manaus, no mês de março, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que preside o Confert (Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas), não citou a questão indígena ao falar sobre o projeto para exploração do potássio. Em discurso, criticou a demora na definição e disse que o órgão ambiental tem a competência sobre o licenciamento.

O procurador Fernando Merloto rebateu Alckmin:

“O governo federal precisa esclarecer. Mineração em terra yanomami não pode, quando é mura pode. Espera lá, a gente tem que ter coerência nas nossas posições”.

A Sejusc (Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Amazonas) afirmou que até esta semana nenhum pedido para inclusão dos indígenas muras foi encaminhado ao sistema de proteção de pessoas ameaçadas. O Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM), por sua vez, disse que iria verificar a situação para responder a razão de o pedido de proteção não ter sido encaminhado à Sejusc.

Via Folha de São Paulo