Em carta ao alto representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, eurodeputados condenam conduta negacionista do presidente brasileiro frente ao coronavírus

Foto: Marcos Corrêa/PR

Deputados da Espanha, Portugal, Grécia, Alemanha, Dinamarca, República Tcheca e País Basco enviaram uma carta no dia 15 de abril ao alto representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Josep Borell, afirmando que a postura do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de negar a gravidade da pandemia do novo coronavírus é um crime contra a humanidade.

Segundo os eurodeputados, membros do Confederal Group of the European United Left/Nordic Green Left, destaca que, “apesar dos alertas emitidos por instituições e organismos nacionais e internacionais, Bolsonaro continua negando a gravidade da pandemia”.

Os parlamentares também pedem que a União Europeia “censure e rechace energicamente a atitude do presidente Bolsonaro e que, no marco dos programas de cooperação existentes com o Brasil, debatam com as autoridades pertinentes possíveis formas de apoiar os esforços para conter a propagação do vírus”.

Citando um estudo do Imperial College de Londres, o grupo afirma que uma gestão correta do mandatário brasileiro poderia poupar 1 milhão de vidas, já que, “no Brasil, poderiam morrer 1,15 milhão de pessoas se não forem tomadas medidas de isolamento total”, enquanto que seriam esperadas 44 mil vítimas, mesmo com as devidas restrições.

Leia, abaixo, documento na íntegra:

Gestão da pandemia de coronavírus no Brasil

Caro Alto Representante Borrell:

Como membros do Parlamento Europeu, gostaríamos de transmitir nossa máxima rejeição à gestão da pandemia de Coronavírus realizada pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Apesar dos alarmes emitidos por instituições e organizações nacionais e internacionais, Bolsonaro continua negando a gravidade da pandemia. Ele subestimou repetidamente os perigos do Covid-19, chegando a instar os brasileiros a voltar ao trabalho, e também desafiando os conselhos de seu próprio ministro da Saúde e dos governadores da maioria dos estados que impuseram quarentenas. rigoroso.

Mais de 210 milhões de pessoas vivem no Brasil e, em 5 de abril, 11.130 infecções e 486 mortes haviam sido registradas. Segundo o Ministério da Saúde, a menos que a transmissão seja interrompida, o sistema de saúde entrará em colapso no final de abril e, de acordo com um estudo do Imperial College London, se não forem tomadas medidas de isolamento total, mais de 1,15 milhão de pessoas poderão morrer devido ao coronavírus. Com isolamento social, o mesmo estudo estima cerca de 44.000 mortes. A gestão do presidente pode ser a diferença para um milhão de vidas.

Caravanas foram realizadas em diferentes partes do país, incitadas pelo presidente, para solicitar a reabertura do comércio. A justiça foi forçada a interromper uma campanha oficial contra o isolamento. Twitter, Facebook e Instagram eliminaram postagens de Bolsonaro que geravam “desinformação”. E Bolsonaro até apoiou e participou de reuniões nas quais se pedia uma intervenção militar e o fechamento do Congresso. Em geral, os apelos do presidente para que os brasileiros ignorem as medidas de isolamento estão levando o país a uma nova polarização entre apoiadores e detratores do presidente, mas essa pandemia não é sobre ideologias, mas é um problema de saúde pública.

Bolsonaro argumenta que os danos causados pelo fechamento da economia brasileira serão piores que os causados pelo vírus. E essa é uma das razões pelas quais ele se posiciona com tanto fervor contra as medidas de isolamento é garantir sua reeleição em 2022, algo que seria difícil se seu governo estivesse associado à iminente recessão.

Consideramos que aproveitar esse momento de angústia nacional para politizar um drama em que milhares de pessoas arriscam suas vidas pensando em sua reeleição, é um crime contra a humanidade pelo qual ele poderia ser julgado perante tribunais internacionais, já que saúde e vida são direitos humanos.

O Estado brasileiro tem a obrigação de proteger toda a população brasileira, sem exceção, respeitando os direitos humanos. Além disso, eles precisam tomar todas as medidas necessárias para garantir que todas as pessoas, incluindo as que vivem em favelas, populações marginalizadas e rurais, povos indígenas e comunidades quilombolas, moradores de rua e outros grupos vulneráveis, possam se proteger e Eles têm acesso à água, saneamento, segurança alimentar, segurança e renda.

Aproveitamos a oportunidade para expressar mais uma vez nossa solidariedade com o povo brasileiro e exigimos que as autoridades competentes tomem todas as medidas necessárias para salvar o maior número de vidas possível.

Exortamos urgentemente a UE a censurar e rejeitar fortemente a atitude do Presidente Bolsonaro e, no âmbito dos programas de cooperação existentes com o Brasil, a debater com as autoridades relevantes sobre possíveis maneiras de apoiar os esforços para conter a propagação do vírus.

Atenciosamente:

Miguel Urbán Crespo – Espanha

María Eugenia Rodríguez Palop – Espanha

Idoia Villanueva Ruiz – Espanha

Pernando Barrena – País Basco

Marisa Matias – Portugal

José Gusmão – Portugal

Dimitrios Papadimoulis – Grécia

Stelios Kouloglou – Grécia

Konstantinos Arvanitis – Grécia

Helmut Scholz – Alemanha

Cornelia Ernst – Alemanha