Carlos Wagner (UB) recebeu apenas uma advertência por empregar funcionários fantasmas. Maria Tereza (PT) teve o mandato cassado após denunciar gesto nazista em ato bolsonarista em SC

O vereador Carlos Wagner (UB) exibe a réplica do capacete nazista. À direita, a vereadora Maria Thereza, do PT, cassada por denunciar gesto nazista em SC. Foto: reprodução

Considerado um dos estados com o maior crescimento de células neonazistas do Brasil, o livro catarinense da vergonha recebeu mais uma página; no dia 4 de fevereiro de 2023 a cassação da vereadora Maria Tereza Capra (PT) de São Miguel do Oeste (SC), se tornou mais um momento vergonhoso para o estado de Santa Catarina, digno de estar ao lado de casos como o de Mariana Ferrer e da vergonhosa CPI do aborto, promovida por alguns deputados da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Quando os vereadores de São Miguel do Oeste (SC), cassaram, por 10 votos contra um, uma parlamentar que ousou denunciar uma suposta saudação nazista, praticada em um dos tantos atos antidemocráticos no Brasil, trouxeram à tona o debate acerca dos pesos e contrapesos nas decisões acerca da classe política, e também revelou a boa e velha hipocrisia, essa que há tempos se escondia sob o manto verde amarelo de grupos de extrema direita.

Enquanto isso, poucos meses antes, a comissão de ética da Câmara de Vereadores de Blumenau (SC), tapou os olhos e passou o pano para as graves acusações contra um parlamentar que manteve funcionários fantasmas em seu gabinete e chegou a postar foto em sua conta no Instagram, onde usa um capacete nazista M42 utilizado pelos militares de Adolf Hitler.

O que a cassação da vereadora Maria Tereza Capra (PT) de São Miguel do Oeste (SC), defensora dos direitos humanos e a ‘absolvição’ do vereador bolsonarista, Carlos Wagner (UB), de Blumenau (SC), tem a nos ensinar?

Quem é o vereador ‘perdoado’ por empregar fantasmas

Conhecido como Alemão da Alumetal, Carlos Wagner (UNIÃO) é empresário e vereador eleito pela cidade de Blumenau, em 2020. Em suas publicações e pronunciamentos, se diz fervoroso bolsonarista e assume a defesa do moralismo e do tradicionalismo na tribuna. Seu comportamento é próximo daqueles que se orgulham por não gastar com fotocópias no gabinete e que tem o combate à corrupção como mantra no discurso que faz para o público.

Ironicamente o vereador aparece em suas redes sociais ostentando uma réplica do capacete utilizado pelo exército nazista na 2ª Guerra Mundial. Formalmente investigado, o parlamentar blumenauense foi denunciado pelo também vereador, Ailton de Souza (PL), que apresentou graves denúncias da prática de falsidade ideológica e da manutenção de um funcionário fantasma em seu gabinete.

Fotos, vídeos e documentos em posse do MP apontam que Marcelo dos Santos Longen, então chefe de gabinete do vereador, era pago pela câmara de vereadores de Blumenau, enquanto lecionava uma universidade privada do município, tudo com o aval do vereador Carlos Wagner (UB), que abonava seus cartões ponto, de acordo com inquérito.

No caso do político blumenauense, nem mesmo a comprovação da conduta criminosa foi suficiente para resultar em uma cassação, ficando a punição restrita a uma mera advertência. Ainda em tempo, pouco tempo depois, o vereador blumenauense teve sua empresa lacrada pelas autoridades ambientais, pois ela operava sem licenciamento ambiental.

Investigado no Ministério Público

Se na Câmara o caso acabou chegando ao fim, o promotor Flávio Duarte decidiu levar adiante as investigações sobre o comportamento do ex-servidor comissionado, que, supostamente, dava aulas na Uniasselvi, em horário de expediente na Câmara de Blumenau, com o cartão sendo abonado pelo vereador.

Segundo o Ministério Público apurou junto à Uniasselvi, instituição em que o funcionário do vereador trabalhava, foram quase 150 horas trabalhadas pelo ex-chefe de Gabinete em horário de expediente no Legislativo.

O vereador não nega que possa ter existido irregularidades, “mas se tem alguma irregularidades no meu gabinete já me coloquei à disposição para repor os danos, mas terão que provar, por isso vou esperar”. Afirmou ainda que se houve problema no gabinete dele, “é importante verificar os outros também”, disse.

Neonazismo crescente em Santa Catarina

A diferença entre nazismo e neonazismo está fundamentalmente na questão temporal, segundo especialistas, embora seja aplicada na consequência de um ao outro.

O neonazismo consiste em grupos ou pessoas que seguem e buscam resgatar as teorias pregadas por Hitler, aplicando nos dias atuais conceitos de superioridade por raça, discriminação de minorias e grupos específicos. E exaltando feitos, uniformes e decisões do exército nazista. Atitudes claramente e penalmente condenadas. O neonazismo também passa pela negação e relativização de atos nazistas.

Manifestantes bolsonaristas cantam o hino com a mão estendida em ato antidemocrático. Foto: Reprodução/Twitter

Em uma ação recente da Polícia Civil de SC, em 14 de novembro de 2022, oito pessoas foram presas durante uma reunião de uma célula neonazista. Entre eles estão homens com antecedentes e condenação por crimes contra a vida, sendo quatro empresários.

A ação ocorreu em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. Com os presos foram encontradas revistas, panfletos e outros objetos com símbolos de grupos supremacistas. Todos respondem por racismo e associação criminosa.

O PGJ (Procurador-Geral de Justiça) do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), Fernando da Silva Comin, e chamou atenção para a necessidade de discutir o conceito de discurso de ódio, demonstrou preocupação com o crescimento do número de células neonazistas em SC e relatou os trabalhos que o MPSC vem realizando para combater iniciativas de discriminação.

“Estima-se que haja hoje cerca de 530 células neonazistas ativas no nosso estado com mais de 10 mil participantes. Com discursos dirigidos às vítimas já tradicionais dessa violência: judeus, negros, homossexuais, comunidade LGBTQIA+ e nordestinos”, afirmou.

Para ele, “isso evidencia a necessidade de construção de uma política pública permanente, de Estado e de Ministério Público, para prevenção e combate ao antissemitismo não só em Santa Catarina mas em todo o Brasil. Nesse contexto, é exigido do MP uma adaptação da forma de agir, enfrentar esse fenômeno, que não é apenas jurídico, é histórico-cultural também”, disse o PGJ.

Capacete da segunda guerra

Stahlhelm é a tradução literal da designação alemã para “capacete de aço”. O Exército Nazista começou a produzir o modelo M42 em larga escala a partir de 1944.