Diferente de outras feiras, produtores independentes foram grande destaque no evento

Foto: Mídia NINJA

Por Ícaro de Carvalho

Esse final de semana tive a oportunidade de visitar um dos maiores eventos dedicados às artes gráficas e quadrinhos brasileiros focado em produções e produtores LGBTQIAP+ do Brasil, a POC COM. A feira, organizada por Mario César e Rafael Bastos Reis, surgiu em 2019, com o objetivo de dar visibilidade à cena nacional, especificamente de criadores não cis-hetero – os mais projetados, ainda, e predominantes no meio.

A feira contou com várias atrações, concursos de cosplay, palestras e bate-papos com figuras notáveis da área, mas o grande destaque ainda eram as bancas dos criadores e produtores, nesta edição somando mais de 110 presentes. A feira ainda contou com expositores de algumas das empresas que patrocinaram o evento, como a Panini e Jambô.

Um fato curioso, no entanto, é que apesar da presença destas últimas, o grande público da feira parecia se focar nos artistas independentes, ocorrendo o exato oposto do que normalmente ocorre nos demais eventos focados em quadrinhos e cultura nerd, onde o foco dos espectadores são as grandes produtoras.

Foto: André Brusi

Foto: Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA

Apesar da considerável qualidade dos expositores, é gritante o quanto a questão de diversidade, mesmo em um evento focado na comunidade LGBTQIAP+, reflete questões sociais bem maiores, bem como a ainda grande hegemonia do meio dos quadrinhos e artes gráficas: a maioria dos expositores eram pessoas cis brancas. Não se pode desmerecer, lógico, a presença de pessoas trans e não-binárias, que em si não eram tão poucos. Por sua vez menos ainda eram criadores de outras raças e etnias que não europeias, em particular negros e indígenas.

Por sua vez, este fato não tira os méritos da POC CON, que por se focar em artistas LGBTQIAP+, cria grandes oportunidades para que eles interagissem com seus fãs, bem como expor suas criações para novos públicos, e assim criando um ambiente muito mais igualitário do que os demais eventos, onde predominam pessoas hetero-cis-brancas.

Ícaro de Carvalho é compositor e regente pela Faculdade Santa Marcelina e professor pelo Claretiano. Também é crítico cultural, com foco em cinema e música, e jornalista. Bissexual e de esquerda, se considera anarquista.