Foto: Jorge Ferreira / Mídia NINJA

Por Marcos Aurélio Ruy

Mônica Bergamo publica dados preocupantes em sua coluna da Folha de S.Paulo, nesta quinta-feira (5). De acordo com a Ouvidoria da Polícia Militar paulista, de janeiro a outubro deste ano, 697 pessoas foram mortas por fardados. Número superior ao mesmo período do ano passado quando ocorreram 686 homicídios. Em 2018, foram 861 registros. A Ouvidoria da PM foi criado por Mário Covas em 1995, então governador de São Paulo.

Em serviço, até outubro deste ano, os PMs mataram 585 pessoas, cinquenta a mais do que o mesmo período de 2018. Em folga, foram 151 assassinatos contra 112 no ano passado. Apenas onze foram classificados como homicídios. Em sua coluna, a jornalista informa ainda que de janeiro a outubro deste ano, a Polícia Civil matou 18 pessoas, dez a menos que em 2018.

Pela estimativa da Ouvidoria, a PM deve quebrar o triste recorde de letalidades de 2017, ano em que ocorreram 940 registros de mortos por policiais militares. “Resultado da irresponsabilidade do governador do estado João Doria, que preconiza a violência policial como política de segurança pública”, afirma Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Para a sindicalista baiana, principalmente os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro precisam rever suas políticas de segurança pública. “A liberação para matar está ampliando o genocídio da juventude negra, pobre, da periferia.”

A comoção toma conta de Paraisópolis, favela paulistana onde a ação truculenta e desastrada da PM ocasionou a morte de nove jovens em um baile funk. A moradora Débora Pereira disse ao UOL que “esta forma de ação da PM precisa ser revista. A gente não pode achar que todo mundo que questiona uma ação violenta é bandido.”

Para Valdete Severo, presidenta da Associação Juízes para a Democracia (AJD), “a Polícia militar tem agido com violência desde sempre contra as populações mais vulneráveis.” Ela acredia que a novidade está em que “ao elegermos um governo cuja campanha foi baseada na violência, essa característica foi potencializada.”

De acordo com a juíza e professora universitária, “a Polícia Militar em vários países serve para defender a nação de inimigos externos”, enquanto “no Brasil, segue tendo como missão, mesmo na Constituição de 1988, ‘manter a ordem’” e “nesse aspecto, a Constituição mantém a lógica da ditadura”, portanto, “extinguir a PM sem alterar a lógica de Estado repressor que temos no Brasil (há muitos anos, diga-se de passagem) não vai resolver nada.”

Os protestos pelo abuso policial condenam o governador que libera a PM para matar. “Doria repete Witzel (governador do Rio de Janeiro) autorizando a matança na periferia. Se afinam com o presidente Jair Bolsonaro para quem todo pobre é inimigo, se for preto então, é bandido”, acentua Luiza Bezerra, secretária da Juventude Trabalhadora da CTB.

Raquel Cruz, mãe de Gustavo Cruz, de 14 anos, um dos mortos na ação policial, mostra sua revolta ao questionar a violência policial gratuita. “Quero saber por quê. Qual o motivo, Por que num baile funk, mas não fecha rave que dura três dias. Quero respostas. Eles eram jovens.”

Vânia se mostra inconsolável com as idades dos mortos e defende ações da sociedade civil organizada para pôr um fim a esse estado de coisas.

“Precisamos ouvir essas mães, que perdem seus filhos ainda tão jovens, sentir a dor que elas sentem e com essa força lutar contra a violência venha de onde vier”, diz.

“Não se pode aceitar como conduta normal, policiais baterem em pessoas já dominadas e xingarem como se isso fosse natural da sua função”, assinala Luiza. Ela cita o caso da jovem I.S., de 17 anos, que acusa um policial de ter dito: “Agora corre, vagabunda” e lhe desferido uma garrafada no rosto, no qual a menina diz ter levado 50 pontos.

Para Luiza, a juventude precisa de políticas públicas que promovam o acesso à cultura, ao esporte, ao lazer. “Ninguém pode mais ficar passivo diante do verdadeiro genocídio da juventude que ocorre no país”, acentua. “Com essas matanças de jovens, as famílias choram, as cidades perdem, o país perde, a civilização perde. Até quando vamos suportar tantas atrocidades?”