Nesta quarta-feira (3) moradores do Assentamento São Vinicius, na Fazenda foram atacados e tiveram que fugir para a mata para não morrer. O ataque acontece no mesmo período em que defensores do meio ambiente estão em Gasglow, na Escócia, para denunciar a o desmatamento e os crimes cometidos contra aqueles que preservam as áreas de floresta durante a COP26, evento global sobre clima.

Pessoas foram baleadas, veículos queimados e barracos destruídos, como revelam imagens do local. A Mídia Ninja divulgou o atentado no mesmo dia, ao publicar vídeo de apelo da ativista dos direitos humanos e irmã de Zé Cláudio, Claudelice Santos. Ela disse que a notícia chegou à Comissão Pastoral da Terra por mensagens enviadas por eles, que estavam escondidos no meio da floresta. Mais tarde, um casal de idosos foi resgatado no meio da mata.

Eles só querem um pedaço de terra para viver e plantar para sua sobrevivência. De outro lado estão pistoleiros agindo a mando de latifundiários. Conflitos, muitos conflitos. Essa é a realidade de milhares de pessoas no Brasil, que se já não bastasse viver em situação de vulnerabilidade, são perseguidos, ameaçados e mortos. O clima de barbárie continua rondando Nova Ipixuna, cidade onde foram assassinados em 2011, o casal de agricultores extrativistas e defensores da floresta em pé, Zé Cláudio e Maria. Eles viviam em um Projeto de Assentamento Extrativista (PAE).

O Ministério Público Federal (MPF) foi acionado e nesta quinta-feira (4), encaminhou ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) requisição de informações sobre quais providências foram tomadas pela autarquia para o atendimento da recomendação de avaliação quanto à destinação, para a reforma agrária, da fazenda Tinelli, em Nova Ipixuna (PA), local do atentado. O MPF também questionou o Incra sobre quais providências o órgão adotará em relação ao atentado, tendo em vista que ocorreu em área sob sua gestão.

Afinal, apesar de ter publicado a portaria de criação do assentamento, o Incra não tomou nenhuma medida prática para implementar o projeto, e em 2014 famílias sem-terra acamparam nas proximidades, reivindicando que o assentamento saísse do papel.

A CPT também destacou que o fazendeiro ocupante se utilizou da terra pública para especulação, porque nas duas vezes que técnicos do Incra estiveram na área constataram que o imóvel estava sendo mal utilizado, era improdutivo e não cumpria com sua função social. Além de ocupar ilegalmente terra pública, crime previsto em lei, o fazendeiro ainda vendeu, ilegalmente, 810 hectares da área, cometendo outros crimes, frisa a CPT em documento enviado ao MPF.

Claudelice Santos realçou a gravidade do atentado que colocou sob a mira de armas, mulheres, crianças e idosos.

“Estão em risco, porque o estado não consegue fazer a segurança dessas pessoas, porque o estado é moroso nos seus processos. Enquanto isso, os fazendeiros e sua corja de pistoleiros estão lá atirando, torturando e jogando as pessoas na mata. Elas estão fugindo pra mata pra não morrer, temos que fazer urgente uma mobilização pra que o estado brasileiro seja responsabilizado e faça algo pra essas famílias”, clamou no vídeo publicado pela Mídia Ninja pouco depois do atentado.

Ela fez um apelo, lembrando que não é a primeira vez que isso acontece. “Os acampamentos de luta pela terra livre, são atacados pelos fazendeiros que usurpam as terras públicas cobrando mobilização”.

À CPT o MPF solicitou relatório circunstanciado sobre o conflito e à Polícia Federal foi solicitada cooperação interinstitucional às apurações realizadas pela Deca, para que sejam evitados novos conflitos, além da apuração de eventual ocorrência de ameaças e outros crimes na área.

(Com MPF)

 

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