Horas após o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmar hoje (29) durante uma sessão do Congresso que o número de mulheres e crianças vítimas dos bombardeios israelenses em Gaza seria “mais de 25 mil”, a porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh, mudou a versão. O Pentágono agora afirma que a estimativa é do Ministério da Saúde palestino, e que é uma referência a um número total de mortos, e que o governo dos EUA não conseguiu confirmar de maneira independente estes números, contrariando o que havia sido dito pelo chefe do Pentágono.

Mais cedo, Lloyd Austin afirmou que o levantamento realizado pelo Pentágono estimou que 25 mil crianças e menores de idade haviam morrido nos ataques israelenses, e também deu detalhes de quantas armas e munições o governo dos EUA repassou para Israel. Parlamentares democratas pedem o fim do forneciemento de armamento para o exército israelense, sob comando de Benjamin Netanyahu. O general enfrentou perguntas de congressistas durante três horas.

O senador dos EUA, Bernie Sanders, condenou as ações de Israel e pediu que o país encerre o financimento militar para o país

“As crianças estão morrendo de fome em Gaza. Em vez de abrirem as fronteiras e permitirem a entrada de ajuda humanitária, os soldados israelitas estão a disparar contra pessoas que tentam desesperadamente tirar comida dos camiões”, disse ele numa publicação no X. “Os EUA não podem continuar a financiar a máquina de guerra de Netanyahu.”

Os Estados Unidos afirmam estar atuando para um cessar-fogo na próxima segunda-feira, de acordo com o presidente Joe Biden. O país é o principal aliado histórico de Israel, e começa a mudar o tom em demonstrações públicas de apoio. Até agora, os Estados Unidos vetou todas as resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o que coloca em dúvida o compromisso do país com estabelecimento da paz na região.

Palestinos morrem na fila por comida

Hoje (29), um bombardeio de drones israelenses matou mais de 100 palestinos que buscavam comida enviada por agências de ajuda humanitária. Em meio a esse cenário, a ONU convocou uma reunião de emergência em Genebra, na Suíça, para discutir a crise humanitária em Gaza. Durante a reunião, foi revelado que mais de 17 mil crianças estão agora órfãs ou foram separadas de seus responsáveis devido aos bombardeios e ataques que assolam a região.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, descreveu a situação como “horrorosa”, enfatizando a necessidade urgente de um cessar-fogo. Turk apontou que mais de 100 mil pessoas foram mortas ou feridas desde outubro, com uma em cada 20 crianças, mulheres e homens afetados.

“Chegou a hora – e já passou da hora – da paz, investigação e responsabilização”, afirmou Turk, destacando a necessidade de todos os envolvidos serem responsabilizados por violações dos direitos humanos e crimes de guerra.

Turk acusou Israel de impor um bloqueio de 16 anos que tornou a vida dos habitantes de Gaza insustentável.

Médicos Sem Fronteiras culpam Israel

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF), disse que Israel é “responsável” pelas condições de fome e privação extremas que lançaram as bases para o ataque de hoje a uma multidão de palestinos desesperados por assistência alimentar no norte do país

“A situação em Gaza, e particularmente no norte, é catastrófica. Há alguns dias, quando falámos com os nossos funcionários, eles disseram que não tinham comida suficiente para comer e que alguns recorriam à ração para animais de estimação para sobreviver. Eles também relataram a falta de água e sua má qualidade geral, levando a doenças”, disse a presidente de MSF, Isabelle Defourny, em um comunicado, chamando a situação de resultado direto de uma “série de decisões inescrupulosas tomadas pelas autoridades israelenses” durante a guerra.

“O norte está em grande parte sem assistência há meses, deixando as pessoas encurraladas e sem outra escolha senão tentar sobreviver com quantidades minúsculas de alimentos, água e suprimentos médicos. Bairros inteiros foram bombardeados e destruídos”, acrescenta o comunicado.

“Consideramos Israel responsável pela situação de extrema privação e desespero que prevalece em Gaza, particularmente no norte, que levou aos trágicos acontecimentos de hoje.”

Fome avança em Gaza

Nas últimas semanas, as organizações humanitárias soaram o alarme sobre a situação humanitária em Gaza. A ONU estimou que 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão em risco de fome, especialmente no norte, onde a destruição, os combates e os roubos tornam a entrega de ajuda humanitária quase impossível.

De acordo com a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), pouco mais de 2.300 caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza em fevereiro, uma queda de cerca de 50% em relação a janeiro, e uma média diária de cerca de 82 caminhões por dia.

Segundo a ONU, cerca de 500 caminhões entravam em média diariamente na Faixa de Gaza antes do início da guerra, em 7 de outubro, quando as necessidades da população local eram menores.