David Boys é secretário-Geral Adjunto da ISP. A federação global agrupa 635 sindicatos em 156 países (Mídia Ninja)

 

Bruna Obadowski, da Cobertura NINJA na COP26

Defesa do serviços público e taxação das grandes fortunas. Essas são pautas defendidas pelos movimentos sindicais de trabalhadores do mundo todo. Com a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ganharam amplo espaço no debate mundial.

A preocupação é sobre incluir quem mais interessa nesse contexto: a população e os trabalhadores diretamente impactados pelas mudanças ambientais e por políticas econômicas relacionadas ao tema. Ou seja, há que se ter um olhar para a geração de emprego e o desenvolvimento que garantam condições dignas às pessoas, com a preservação do meio ambiente e o fortalecimento dos serviços públicos em âmbito mundial.

À equipe de reportagem da MÍDIA NINJA que está na COP26, David Boys, secretário-geral adjunto da Internacional dos Serviços Públicos (ISP) – federação que agrupa 635 sindicatos em 156 países -, disse que é absolutamente convergente o debate entre as pautas climáticas e as bandeiras defendidas pelos movimentos sindicais. Para ele, que acompanha a COP 26 em Glasgow, com as céleres mudanças climáticas a população tende a sofrer cada dia mais com os desastres naturais, recorrendo, muitas vezes, aos serviços públicos, como a saúde e a segurança.

“O sistema de saúde vai ter muito mais pressão. Com o calor, chuva, tempestades, vai ter muito mais demanda sobre os serviços de saúde, que na américa latina é muito privatizado. Quando é público falta dinheiro, apresenta salários  e condições de trabalho ruins”, avalia, ao mencionar a falta de investimento público nos serviços básicos para a população, sobretudo no Brasil.

Para o dirigente, o investimento é indispensável. Para se ter ideia, no Brasil, cerca de 190 milhões de brasileiros são usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A precariedade do atendimento no SUS se apresenta atualmente com uma prova da necessidade de investimentos públicos para promover equipamentos e infraestrutura necessários.

Segundo estudo publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países de primeiro mundo têm número expressivamente maior de servidores públicos, que o brasileiro. No Brasil, cerca de 1,6% da população é formada por servidores públicos, enquanto na Noruega, país que assume o ranking de trabalhadores que compõem os serviços públicos, são 30%.

 

No Brasil, Reforma Administrativa

Na contramão do fortalecimento dos serviços públicos, em 2020, o governo Bolsonaro apresentou a Proposta de Emenda à Constituição nº 32/2020, que implementa a Reforma Administrativa no país. Segundo entidades e movimentos sociais, a PEC intensifica o sucateamento dos serviços, afetando também os trabalhadores e a população.

David avaliou ainda que há uma grande necessidade em alertar a população sobre a importância dos serviços públicos, sobretudo em um momento onde há uma enorme pressão do capital para o desmonte dos serviços com um caminho real para as privatizações.

“A ideia de que os serviços são ruins é uma forma de desprezar os serviços públicos para privatizar”, reforça.

Entre 1991 e 2001, o governo brasileiro transferiu ao setor privado o controle de mais de cem empresas estatais, além de participações minoritárias em várias companhias. Nos leilões, foram gerados US$ 67,9 bilhões em receitas, segundo uma ampla pesquisa publicada em 2005 por pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas e da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“Ricos controlam tudo”

Atualmente o governo Bolsonaro conduz um dos principais legados da agenda neoliberal deixado pelo seu antecessor, Michel Temer (MDB), a agenda de privatização, desestatização e desinvestimento de estatais. Somente em 2019, primeiro ano de seu governo, o Brasil aumentou o número de estatais para 200, com salto na criação de subsidiárias, chegando a 154 empresas. Em 2020, com base nos dados divulgados somente do 1º trimestre de 2020, havia 197 empresas públicas sendo 151 subsidiárias criadas.

David enfatizou a importância da taxação das grandes fortunas. Segundo ele, “os ricos no Brasil controlam tudo”. A nível mundial, ele avalia que a arrecadação de 15% para multinacionais é uma etapa importante, mas não suficiente. “Os ricos e as grandes empresas devem pagar mais”.

Segundo pesquisa divulgada pela ONG Osfam, as emissões de carbono do grupo populacional que constitui o 1% mais rico do mundo deverão exceder em 30 vezes o limite que seria necessário para a manutenção o nível de emissões que evitaria o aumento da temperatura global em 1,5°C até 2030. Na contramão, a pegada climática dos 50% mais pobres no mundo deve se manter abaixo do limite até 2030, apontou uma pesquisa divulgada na última quinta-feira (04), durante a Conferência em Glasgow.

Líderes sindicais se comprometem a investir em ações focadas na criação de empregos de boa qualidade e no combate às desigualdades, elevando a ambição climática internacional e convidando a comunidade a se juntar aos seus esforços.  “Conscientizar, educar e mobilizar” finaliza ele com a esperança de um futuro onde o básico não precise de tanta luta.

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