(Reprodução/Insta/Sam Sateremawe)

 

Graziella Albuquerque, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

O fogo fora de controle no Pantanal e Amazônia nortearam os debates de painel do Brasil Climate Action Hub, nesta sexta-feira (5), na COP26. Analisando cenários e vivências sobre o Pantanal e Amazônia, o momento foi marcado também por uma reflexão: ainda há muito para avançar, se a humanidade quiser preservar seu futuro.

A ativista Samela Satere explicou a todos como a relação de interdependência de indígenas e a floresta e de como é sensível essa relação. “Há muito tempo o povo indígena vem sofrendo com as mudanças climáticas, a gente vive isso no dia a dia em um país que era 100% preservado porque era território indígena. Agora, só 13% é dos indígenas”. Os povos originários têm oferecido ainda mais resistência frente à flexibilização de leis ambientais, desestruturação de órgãos. Uma agenda anti-indígena, que quer impedir demarcações e basear a ocupação pelo Marco Temporal.

“Tem muita gente interessada no nosso território, querem eles livres para que possam negociá-los. Quando queimam nosso território e desmatam, estão nos queimando e nos desmatando, nos sufocando. Como Alessandra Munduruku disse, quando instalam uma hidrelétrica em um rio, é como se estivessem bloqueando nossas veias”.

Dessa forma, os povos indígenas estão tendo que tomar iniciativas próprias para se protegerem. O governo não tem feito praticamente nada para combater os incêndios e vem frequentemente desestruturando e cortando o orçamento de órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização e combate. Só em 2021, a porcentagem total de cortes foi de 40%, em relação ao orçamento de 2019.

Ela se declara insatisfeita com governos e representantes, que têm espaço nas tomadas de decisões, poderiam realizar um trabalho em colaboração, mas estão criando soluções sem consultar os principais afetados. “Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, precisam ser ouvidos, terem suas opiniões validadas e serem prioridade nesses espaços de diálogo sobre questões territoriais, que afetam diretamente suas vidas”.

Da mesma organização, mas dedicado a ações de defesa do bioma pantaneiro, Gabriel Adami, contou que sua história de ativismo começou no ano passado, quando em setembro, sua cidade foi tomada pela cidade que vinha do Pantanal, um período de incêndios jamais visto que devastou 26% do bioma. Como voluntário passou a atuar também na Aldeia Cachoeirinha, na Terra Indígena Cachoeirinha, que teve quase todo seu território queimado pelo fogo por conta da demora do governo em tomar atitudes. A população teve que agir por conta própria, com uso de equipamentos obtidos através de doações.

“Prefere o combate a prevenção, como aceiros, monitoramento. A sociedade hoje tem mais recursos tecnológicos que o próprio governo. Os governos não investem em mitigações da crise climática”, alertou sobre a necessidade urgente de que isso aconteça logo.

Com propriedade para falar de projetos da área da tecnologia, o vice-presidente da Biodiversity and Conservation, apresentou um programa chamado “Xprize Rainflorest”, que convida equipes do mundo todo para trazer tecnologias inovadoras para melhorar o entendimento da biodiversidade e da conservação ambiental, com promessas de revolucionar a forma como esses temas são financiados e abordados.

Do coordenador do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana, JP Amaral lembrou que o uso descontrolado do fogo, queimadas criminosas e incêndios florestais são mazelas que refletem também em outras áreas da gestão pública e demandam ainda mis recursos.

Lembrou que o problema impacta principalmente, na saúde das crianças. Em 2019, cerca de 5 mil foram hospitalizadas, por mês, por problemas respiratórios. Esse problema afeta ainda mais crianças indígenas, quilombolas e negras.

Simone Karipuna tem constatado em seu território, que fica no Amapá. Os efeitos da queimadas, dentro e fora do território, incidiram ainda, sobre a segurança alimentar da TI que provê o sustento das famílias.

Por fim, o apelo de todos os integrantes foi de que todos os compromissos da COP 26 sejam realmente colocados em prática, que respeitem a vida e a necessidade de cada um dos povos, proteção à biodiversidade, e senso de urgência, pois o tempo está acabando.

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