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Diretamente de Salvador, Panteras Negras é a primeira banda instrumental do mundo formada só por LGBTQI+ negres, que estreou em festival de três dias promovido pela EstaçãoZinha no espaço de cultura Casa Preta, com a participação da cantora nigeriana Okwei Odili, as baianas Aline Lobo, Amanda Rosa, e a sergipana radicada em São Paulo Bia Ferreira acompanha de Doralyce. O festival Panteras Negras também contou com a discotecagem das DJs Nai Sena e Tia Carol.

A banda foi criada por iniciativa de Ziati Franco a partir da necessidade de evidenciar o trabalho de música instrumental desenvolvido por LGBTQI+ negres, tendo em vista a restrição de atuação desses LGBTQI+ no circuito musical. Então, foi realizada uma pesquisa desses instrumentistes atuantes na cena com outros artistas para formar a banda Panteras Negras.

Nomeada em homenagem ao movimento revolucionário que surgiu no fim da década de 60 nos EUA contra a opressão dos negros, a banda é formada por quatro integrantes que tem uma relação autodidata com a música e trazem diversas influências em seus trabalhos.

A percussionista Deise Fatuma é Nascida e criada no Bairro da Liberdade, o maior reduto negro e percussivo de Salvador. Aos 18 anos de idade ingressou no Grupo Percussivo Erudito da UFBA, mas não se encontrou neste espaço, se dedicando a estudar nas ruas frequentando espaços da cidade que lhe permitissem uma outra experimentação sonora.

Em vinte anos de tambor, já participou de diversas bandas, realizou duas turnês pela Europa, participou do Panorama Percussivo Mundial, é integrante do Samba das Moças através do qual teve a oportunidade de dividir o palco com Maria Bethânia, Caetano Veloso, Alcione, Jota Veloso, Mart’nália, Margarete Menezes, entre outros.

Atualmente também desenvolve seu trabalho autoral intitulado “Tambor palavra preta” que dialoga com narrativas de mulheres negras através da percussão e suas intersecções com o pensamentos de Audre Lorde, Conceição Evaristo, Maya Angelou, além de suas poesias autorais.

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A baterista Line Santana teve seu primeiro contato com instrumentos musicais foi aos oito anos no Instituto Ara Ketu, na oficina de percussão tendo como mestres os percussionistas Magary Lord e Osmar Purificação. Participou também da filarmônica do instituto Ara Ketu e da escola de música do maestro Fred Dantas, onde aprendeu a tocar sax alto. Através da vivência e do aprendizado obtido nesses cursos musicais passou a aprender violão, cavaquinho e bateria de forma autodidata. Como musicista também participou das peças teatrais: Remendo remendó (2004 – 2006) e Safo (2014), da Banda Mirim do Instituto Ara Ketu (2005 a 2007), Banda Domix (2008 a 2009), Midrash Roots (2012 a 2013). Atualmente é baterista nas bandas “Verona ́s” e “A Mulherada” e no projeto da rapper Amanda Rosa.

A baixista Makena desde muito nova já demonstrava seu interesse pela música. Autodidata, começou a aprender violão aos 14 anos. A partir daí, surgiu o interesse por outros instrumentos, como guitarra, contrabaixo e teclado, além do canto. Tendo, inicialmente, como principais influências o rock, a música popular brasileira e o samba, em meados de 2010 começou a compor e preferiu manter seu foco nos estudos de contrabaixo, guitarra e violão. Entre 2016/2017 foi baixista e arranjadora da banda Cartel Strip Club. Atualmente, mais influenciada pelo jazz, soul, blues, hip hop e trip-hop. Cria trilhas musicais para peças teatrais, tendo experiência em direção musical de espetáculos. Compõe letras e arranjos compartilhados com artistas de Minas Gerais e São Paulo e desenvolve seu projeto autoral, ainda em fase inicial.

A guitarrista Suyá embarcou no mundo da música ainda criança quando começou a gravar suas músicas em fita cassete ao experimentar com artigos caseiros do dia-a-dia, usando-os como fontes de som. Formada em Composição Eletrônica Musical e Intermedia Arts pela faculdade de Mills College na Califórnia em 2016, Suyá tocou guitarra e baixo com grupos variados de estilos diversificados do clássico, ritmos brasileiros, ao velho rock ́n ́roll; como instrumentista e compositora para dança contemporânea, filme e teatro.

Em 2015 ingressou na banda Rev Sekou & The Holy Ghost, afim de espalhar a mensagem do amor, paz e justiça durante a revolução negra nos EUA juntamente com o movimento do Black Lives Matter e Say Her Name na luta do respeito pelos gêneros.. Passou os últimos dois anos em turnê tocando em várias instituições educacionais como Stanford, Ithaca, e UMASS, e gravou um albúm com os Holy Ghosts nomeado “The Revolution Has Come”. Este ano está de volta a Salvador para a produção do seu primeiro EP.

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Juntando todas essas experiências e referências no Palco Marielle Franco, as Panteras Negras fizeram um som de altíssima qualidade. Mesmo tocando para cantoras de origens e estilos diferentes expressam uma sonoridade marcada pela resistência cultural do povo preto transmitindo uma energia contagiante do início ao fim.