‘Paloma’, filme sobre uma travesti que sonha em casar na igreja, é o grande vencedor do Festival do Rio 2022
Obra também rendeu à atriz trans Kika Sena, o prêmio de Melhor Atriz; confira os vencedores
Por Sérgio Madruga
Após uma extensa programação com mais de 200 filmes, tapetes vermelhos, debates importantes e muita celebração da sétima arte, a 24ª edição do Festival do Rio chegou ao fim na noite do último domingo (16).
O clássico Cine Odeon foi palco do encerramento do evento, no qual foram anunciados os vencedores da edição deste ano. A cerimônia foi apresentada pelos atores Ícaro Silva e Samantha Schmütz, que também se apresentaram cantando sucessos como “O Mundo é um Moinho”, de Cartola e “Sujeito de Sorte”, de Belchior.
A disputa pelos troféus ficou dividida entre as mostras competitivas: Première Brasil, dedicada aos principais filmes do evento; Première Brasil – Novos Rumos, que celebra novos realizadores do audiovisual; e Prêmio Felix, que premia filmes com temática LGBTQIAPN+.
O grande destaque da noite foi o filme “Paloma”, de Marcelo Gomes, que conquistou o Troféu Redentor de Melhor Longa de Ficção na principal mostra. Além de ter rendido o prêmio de Melhor Atriz para Kika Sena, que fez história no Festival do Rio! A atriz é a primeira artista trans a conquistar o prêmio. “Paloma” também venceu o Prêmio Felix de Melhor Filme Brasileiro.
Paloma, interpretada por Kika, trabalha como agricultora em uma plantação de mamão e está economizando para pagar a festa de casamento, seu grande sonho. Após a recusa do padre em realizar a cerimônia na igreja, Paloma enfrenta o preconceito da sociedade rural, passa por violências, traições e injustiças, mas nada abala sua fé em realizar seu objetivo. O elenco conta também com Wescla Vasconcelos, Patrícia Dawson e Ridson Reis.
Em entrevista recente ao portal Mulher no Cinema, Kika falou sobre a importância de existirem diversas representações de vivências trans no cinema:
“É muito mais importante enquanto discurso, enquanto narrativa, a gente pegar uma única experiência para falar sobre ela, só a experiência dela, do que pegar uma travesti ou uma mulher trans e tentar representar todo um grupo de pessoas que nunca vai ser representado (…) Assim como na cisgeneridade e na heterossexualidade, as pessoas são diversas em qualquer contexto”, afirmou.
Ainda na Première Brasil, “Exu e o Universo”, de Thiago Zanato, venceu como Melhor Longa Documentário, “Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, conquistou o Prêmio Especial do Júri. As cineastas Julia Murat e Juliana Vicente levaram os troféus de Melhor Direção e Melhor Direção de Documentário, respectivamente.
O documentário “Corpolítica”, de Pedro Henrique França, que traz a questão da representatividade LGBTQIAPN+ na política, ganhou o Prêmio Felix de Melhor Documentário.
O saudoso Paulo Gustavo, que faleceu em 2021, foi homenageado com o Prêmio Suzy Capó – Personalidade do Ano. Sua grande amiga Samantha Schmütz recebeu o prêmio em seu nome: “Paulo Gustavo desafiou todos os tabus da intolerância desse país, garantindo ao circuito exibidor uma receita milionária, que desafiou todos os moralismos e quebrou todos os paradigmas éticos e comerciais. Graças a ele, temos um fomento que põe bons projetos de pé”, declarou a atriz.
Confira todos os premiados do Festival do Rio 2022:
Première Brasil
Melhor Longa de Ficção: “Paloma”, de Marcelo Gomes
Melhor Longa Documentário: “Exu e o Universo”, de Thiago Zanato
Menção Honrosa do Júri: “7 Cortes de Cabelo no Congo”, de Luciana Bezerra, Gustavo Melo e Pedro Rossi
Prêmio Especial do Júri: “Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta
Melhor Curta: “Escasso”, de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles
Melhor Direção de Ficção: Julia Murat, por “Regra 34”
Melhor Direção de Documentário: Juliana Vicente, por “Diálogos com Ruth de Souza”
Melhor Fotografia: Joana Pimenta, por “Mato Seco em Chamas”
Melhor Roteiro: Carolina Marcowicz, por “Carvão”
Melhor Direção de Arte: Marines Mencio, por “Carvão”
Melhor Montagem: Matheus Farias, por “Propriedade”
Melhor Atriz Coadjuvante: Aline Marta Maia, por “Carvão”
Melhor Ator Coadjuvante: Timothy Wilson, por “Fogaréu”
Melhor Ator: Dario Grandinetti, por “Bem-vinda, Violeta!”
Melhor Atriz: Kika Sena, por “Paloma”
Première Brasil – Novos Rumos
Melhor Longa: “Três Tigres Tristes”, de Gustavo Vinagre
Melhor Direção: Leonardo Martinelli por “Fantasma Neon”
Prêmio Especial do Júri: “Maputo Nakuzandza”, de Ariadine Zampaulo
Melhor Curta: “Curupira e a Máquina do Destino”, de Janaina Wagner
Prêmio Felix
Melhor Filme Brasileiro: “Paloma”, de Marcelo Gomes
Melhor Documentário: “Corpolítica”, de Pedro Henrique França
Menção Honrosa: “Não é A Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor”, de Luis Carlos de Alencar
Melhor Filme Estrangeiro: “Meu Lugar no Mundo” (Mi Vacío y Yo), de Adrián Silvestre
Prêmio Especial do Júri: “Fogo-Fátuo”, de João Pedro Rodrigues