Os 10% mais ricos do mundo foram responsáveis por cerca de metade das emissões de carbono em 2015 (JComp/FreePik)

 

Rebecca Lorenzetti, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP26

Não é novidade para ninguém que quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais ela consome. E consequentemente mais impacto ambiental ela gera. Mas quanto impacto?

De acordo com um relatório de 2020 da Oxfam e do Stockholm Environment Institute, os 10% mais ricos do mundo foram responsáveis por cerca de metade das emissões globais de carbono em 2015, enquanto os 50% mais pobres do mundo foram responsáveis por apenas 7% das emissões globais e sofrerão a maior parte das consequências climáticas.

Essa desigualdade coloca o planeta no negativo, e desconsidera a necessidade de emissões por sobrevivência das populações mais pobres. Segundo Dario Kenner, autor do livro Desigualdade de Carbono: O Papel dos Mais Ricos nas Mudanças Climáticas, o termo “elite poluidora” descreve a parcela mais rica da sociedade que investe pesadamente em combustíveis fósseis e mantém um estilo de vida que causa forte impacto no clima.

Na prática, um cidadão comum do Reino Unido emite em média 8,5 toneladas de carbono por ano (Hot or Cool Institute) e para alcançar a meta de aumento máximo na temperatura global até 1,5° C até 2050, conforme proposto pela COP26, essa medida precisa ser drasticamente reduzida para 0,7 toneladas por ano por pessoa.

Será que essas emissões são mesmo parte apenas de uma responsabilidade individual? Bem, de acordo com Halina Szejnwald Brown, professora emérita de ciência e política ambiental na Clark University, nos Estados Unidos: “Os ricos definem o tom de consumo que todos aspiram. É aí que estão os efeitos tóxicos”, ou seja, não é apenas sobre o modo como a elite consome, mas como isso se torna uma meta de estilo de vida que desconsidera as questões ambientais e climáticas e faz com que as pessoas queiram cada vez mais viver um modo de consumo avassalador e ambientalmente arriscado.

O problema é que não existe crédito climático suficiente para todos consumirem o quanto gostariam. De acordo com Lewis Akenji, diretor-gerente do Hot or Cool Institute, um grupo de estudos baseado em Berlim, “cada unidade que você emite a mais significa que alguém precisa abrir mão [de fazer algo]”.

Esses local de status e poder, que a maior parte da população gostaria de alcançar, conta com símbolos perigosos e altamente poluentes como viagens de avião (o meio de transporte que mais emite gases de efeito estufa), uso de carros grandes individuais, como SUV’s, casas enormes responsáveis por alto gasto energético, sem contar os itens de luxo que impactam outras cadeias como o consumo de joias que impacta a cadeia da mineração de metais e pedras preciosas.

A emergência climática traz todos esses dados à tona e algumas mudanças estão acontecendo ao redor do mundo. A pandemia, por exemplo, mostrou que muitas viagens a negócio não são necessárias quando existem as videochamadas, outro mercado que está mudando é o de alimentos à base de proteína animal. Seja por saúde, moda ou ativismo, o consumo de alimentos à base de plantas tem crescido e o mercado tem acompanhado essa tendência.

A antiga discussão a respeito dos créditos de carbono tem ganhado força, porém dessa vez não como uma solução mirabolante aos efeitos climáticos, mas como uma possibilidade de negociação que tem seus lados positivos e negativos. A ideia é evitar que os ricos compensem suas emissões com dinheiro, mas sim reflitam sobre realmente emitir menos. Uma das ideias que surge é o PCA, que trata-se de uma alocação pessoal de carbono (PCA), em que os indivíduos recebem um limite igual de emissões de carbono, e essa quantia é negociável entre eles. Versões de um PCA foram exploradas na Irlanda, França e Califórnia.

Programas como esse ainda exigem uma grande fiscalização e cuidadosa implementação para evitar punir pessoas indevidamente, por isso a discussão ideal que tem crescido entre as lideranças é a possibilidade de proibir o consumo de produtos desnecessários e altamente poluentes como jatos e iates particulares.

A emergência climática é real, e a necessidade agora é que a sustentabilidade esteja no centro das decisões governamentais. Por exemplo, quando um governo vai tomar uma decisão sobre transporte agora, é preciso que não se coloque na ponta do lápis todas as variáveis e se escolha a mais econômica, mas que a união entre as nações e os acordos da COP26 resultem em um protagonismo da sustentabilidade em todas as tomadas de decisão.

Alguns governos estão fazendo grandes mudanças. O País de Gales, por exemplo, suspendeu o investimento na construção de novas estradas para cumprir as metas de emissões. A Holanda propôs reduzir o número de seu rebanho de gado em 30% para reduzir a poluição. A conscientização precisa vir de cima para baixo, com aumento de fiscalização, taxação de fortunas e proibições e se diluir entre a população massiva para que haja uma transição de sociedade.

Mas Greta Thunberg provoca uma conscientização humana. Ao The Guardian, disse em 2019 que “quanto maior for seu rastro de carbono, maior será o seu dever moral”.

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