Foto: Reprodução/Netflix

Por Guilherme Carniell

Isso parece desculpa de brasileiro que quer falar de Carnaval o ano todo. E talvez seja. O Carnaval por si só já é uma festa política, ela é feita do povo para o povo. E não faltam exemplos de desfiles históricos que passaram pelos sambódromos do país todo. 

Ok, mas o que um desfile, mas precisamente o da Paraíso do Tuiuti de 2018 tem a ver com o Oscar 2024? A resposta é simples: VAMPIROS! Ou melhor: VAMPIRÃO!

A esperança latina deste Oscar é a deliciosa comédia de terror satírica O Conde (El Conde, de Pablo Larraín), do Chile, que concorre à categoria de Melhor Fotografia. 

O roteiro do longa fala sobre esses seres mitológicos que migram pelo mundo para dominar regiões e explorar milhares de pessoas: o que políticos, em sua maioria, fazem. É uma metáfora extremamente fantasiosa para uma problemática comum.

O filme aborda a história do ditador chileno Augusto Pinochet que, por ser um vampiro, finge a própria morte ‘humana’. Em seguida, a família se reúne para a divisão da herança. É nessa hora que a ficção e a realidade se mesclam e o vampiro, sem escrúpulos, assume todos os crimes que fez enquanto ocupava a cadeira de presidente do país. São muitas informações e nomes de pessoas reais que fazem a gente ficar com aquela pulguinha atrás da orelha. Dá vontade de pausar o filme para pesquisar sobre os escândalos, golpes e fatos históricos que são citados. Ao final do filme, surge outro vampiro, da Europa, que é uma figura mundialmente famosa.

Essa analogia de vampiros que sugam o sangue e a alma do povo já foi levada para os desfiles de Carnaval do Rio de Janeiro em 2018. Na oportunidade, a Paraíso de Tuiuti usou o enredo “Meu Deus, Meu Deus, está extinta a escravidão?”, do carnavalesco Jack Vasconcelos, para criticar reformas trabalhistas em plena Sapucaí. A surpresa estava no último carro, tendo um vampiro com a faixa presidencial como destaque. Só essa fantasia já dizia muito mais do que um samba-enredo inteiro. Lembrando que na época, o Presidente em gestão era o Michel Temer, apelidado por muitos de Vampirão. 

Foto: Fernanda Rouvenat/G1

Pensando em tudo isso, pode-se concluir que essa obsessão latina por vampiros se dá porque o continente sempre precisou lidar com essas criaturas? E também faz a gente pensar nos vampirões que já passaram pelo Brasil e outros que estão assombrando países vizinhos. O mais triste é que para essas criaturas, um colar de alho não resolve. É preciso ter muita resistência, voz e poder no voto.

Mas agora, só o que podemos fazer é só torcer para que O Conde ganhe, voe até o palco e receba a tão desejada estatueta dourada em nome de todos os latinos.

Bateu a curiosidade pra assistir? O filme tem cenas lindas com uma fotografia preta e branca que é a cereja do bolo. O longa é uma produção original Netflix.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024