Mesmo a competição ocorrendo na metade da temporada europeia, onde a maioria dos atletas joga, a lista de baixas impressiona

Foto: Robbie Jay Barratt – AMA/Getty Images

Por Rafael Struziatto

2022 está sendo o primeiro ano em que a Copa do Mundo não está acontecendo no final do ano, mas sim em sua metade. A mudança surgiu para amenizar os efeitos climáticos do Qatar, país sede, que no verão registra mais de 40ºC.

Imaginava-se que a alteração da data ocasionaria em um menor números de lesões, já que anteriormente a Copa acontecia em junho, ou seja, no final da temporada europeia, com o corpo da maioria dos atletas participantes em seu limite físico. Na prática, o que vimos foi uma lista assustadora de contusões que tiraram grandes jogadores da maior competição futebolística do mundo.

Essa situação inesperada gerou muitas dúvidas no mundo jornalístico e esportivo, e agora apresentaremos alguns possíveis pontos que nos auxiliam a entender este cenário.

Diferentes estruturas

A Copa do Mundo reúne atletas que jogam nas mais diversas ligas do mundo, desde os clubes mais conhecidos do planeta, até aqueles que não possuem uma estrutura tão complexa.

A grande diferença de calendário, corpo médico, psicólogos, nutricionistas, treinamentos e nível de jogos é uma das grandes causas do alto número de baixas para a competição mundial.

Como as condições não são as mesmas para todos os atletas, é natural que não apenas ocorra lesões durante as temporadas, como também muitos jogadores apresentem contusões ao enfrentarem treinamentos, em suas respectivas seleções, com carga de intensidade diferente das quais estão acostumados.

– Atleta de futebol sai do repouso para a explosão muscular, volta para o repouso, vai para a explosão novamente e assim sucessivamente por 90 minutos. E o atleta de altíssima performance, como esses das seleções, trabalha sempre no seu limite. Porque o preparo cardiorrespiratório desses jogadores é espetacular, então o limite é o corpo, é físico – comenta o médico ortopedista Alexandre Pallottino, da Casa de Saúde São José em entrevista ao GE.

Reincidência de lesões

Muitos dos atletas cortados para a Copa do Mundo já tiveram lesões anteriormente, especialmente na região muscular da coxa, local mais exigido para jogadores de futebol de alta performance do futebol, devido aos arranques, pancadas e chutes ao longo de uma partida.

Karim Benzema, Philippe Coutinho e N’Golo Kanté são alguns dos craques que estarão de fora da Copa do Mundo e já conviveram com alguma contusão no local onde estão machucados atualmente.

De maneira simplificada, quanto mais lesões a pessoa tiver no tecido muscular, menos flexível ele será, tornando-o cada vez mais propício para novas rupturas.

Foto: Marc Atkins / Getty Images

Calendário mais apertado

A novidade em ter a Copa do Mundo realizada no final do ano, fez com que a maioria das ligas de todo o mundo se adaptassem para o período sem prejudicar o andamento dos campeonatos.

Dessa forma, clubes que não estão acostumados em jogar com tanta frequência, acabaram tendo que encontrar alternativas para enfrentar essa adversidade, com média de 1 jogo a cada 3 dias a depender do campeonato.

No Brasil, já é comum tratarmos esse intenso calendário com normalidade (já que mesmo sem a Copa, os clubes sofrem com as partidas em uma grande sequência), mas para se ter uma ideia, clubes como o São Paulo e o Flamengo jogaram 77 partidas em 2022, enquanto o Real Madrid, na última temporada, jogou apenas 56 vezes.

Por esse aperto que todos os clubes tiveram, atletas acabam se sacrificando para que seus clubes não se distanciem dos objetivos, resultando em um número maior de partidas com menos tempo de descanso, o que ocasiona em uma frequência maior de lesões de todos os níveis.

Isso é ainda mais preocupante para equipes de menor expressão, que possuem menos recursos materiais e humanos para disputar o excesso de partidas e manter o elenco fisicamente bem.

Pouco tempo de preparo

Ao contrário de outras Copas do Mundo, este ano os clubes liberaram seus atletas apenas a 1 semana do início da competição, evitando uma preparação completa do elenco, comprometendo o físico de muitos jogadores.

Prova disso é que diversos jogadores foram cortados após o início da Copa, por conta de lesões durante o treinamento ou nos próprios jogos, como Delaney, da Dinamarca, Jose Gaya, da Espanha e Lucas Hernández, da França.

“O risco [de lesão] é maior, assim como o risco de fadiga nas próximas quatro semanas. Os jogadores podem não estar disponíveis quando os maiores jogos forem disputados”, diz Jonas Baer-Hoffmann, secretário-geral da FIFPro (sindicato internacional dos jogadores profissionais de futebol) em entrevista ao UOL.

Aliando essa falta de preparo a altas temperaturas, as quais os jogadores não estão acostumados, é esperado que a performance não seja a mesma devido a maior fadiga do corpo do atleta.

Com informações de Agência Brasil, G1, Goal, Uol, ESPN, CNN e Metrópoles

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube