Foto: Lorrana Penna / Midia NINJA

A tragédia climática que vitimou, esta semana, dezenas de pessoas em Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro, trouxe à tona um debate necessário sobre racismo ambiental, ainda que muitos estejam questionando ou relatando dúvidas sobre o conceito.

Autoridades alertam que são as piores chuvas na cidade desde 1932. Até o momento de finalização deste texto, foram registrados 134 desaparecidos e 105 corpos foram localizados. Desses, 65 são de mulheres e 36 são de homens. Não há dados concretos de quantos corpos negros foram vitimados, mas uma simples visão panorâmica sobre a população mais vulnerabilizada pode indicar, por contraste, quem são as maiores vítimas. E o que isso tem a ver com o debate ambiental?

“O que está acontecendo em Petrópolis é resultado da crise climática que estamos vivendo. As pautas políticas precisam pensar moradia, racismo ambiental, saneamento básico”, escreveu a vereadora Benny Briolly. “Não é o clima que está doido, mas sim a interferência humana que desordenou o clima”.

O racismo ambiental é a forma como encaramos os problemas ambientais a partir das desigualdades sociais, em especial o racismo. Entender as relações entre raça e meio ambiente de forma interseccional nos provoca a entender também como as pessoas negras são impactadas pelos fenômenos da natureza de forma diferenciada das pessoas brancas. Um exemplo é o acesso desigual à água, ao saneamento básico e à alimentação saudável. No caso das fortes chuvas e de eventos extremos como os de Petrópolis, aqueles que vivem em área de risco são principalmente aqueles que vivem em periferias, em sua maioria pessoas negras.

O termo foi definido, em 1981, pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Junior, em meio a manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais. Diz respeito às ações e políticas públicas desiguais nas quais algumas populações, a exemplo de indígenas e negros, são afetadas pelos impactos ambientais negativos, como a expulsão de seus territórios.

Hoje o debate sobre racismo ambiental ganha proporções internacionais. Dentro do conceito de justiça climática e racismo ambiental ainda há a perspectiva que aborda os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa – que intensificam o aquecimento global – são os países mais desenvolvidos. Entretanto, quem sofre as maiores consequências da emergência climática no mundo são os países do sul global.

Mas como algo que se define como “desastre” ou “tragédia” é capaz de afetar especificamente pessoas negras? Como provocou a vereadora Benny, entender os fenômenos climáticas como consequências de atos humanos nos direciona inevitavelmente ao racismo. No caso de Petrópolis, uma reportagem do portal UOL alerta que a prefeitura do município sabia, desde 2017, da existência de 15 mil imóveis em risco na área da tragédia de 2022. O levantamento foi feito por meio do Plano Municipal de Redução de Riscos contratado pelo município com recursos federais.

“Por que alguns lugares estão preparados para a chuva e outros não?” questiona o ativista social Vinicius Lima. “O problema não é a chuva, é a forma que a cidade é organizada. Isso que é racismo ambiental”. E complementamos: por que não houve uma política séria de prevenção às populações vulnerabilizadas se já havia um estudo contratado pelas autoridades que alertava para as tragédias desta semana?