O posicionamento político de figuras públicas foi bastante exigido nas eleições 2022. Contudo, isso pode gerar, em esportistas, consequências irreparáveis, como não participar de competições importantes

Imagem de Gerd Altmann / Pixabay

Por Renan Cuel e Paulo Victor

O atual cenário de polarização política no Brasil fez com que fãs de atletas e paratletas exigissem seus posicionamentos políticos. Contudo, o posicionamento de um esportista tem consequências que interferem em sua carreira.

Há muitos anos, posicionar-se politicamente tem suas consequências, principalmente quando isso envolve o meio esportivo. Pensando de forma coletiva, mesmo que existam modalidades individuais, posicionar-se é um ato político de sobrevivência em prol de melhorias no esporte.

Posicionar-se diante de tudo isso resultaria em sérias consequências. Muitos de nós ficamos aguardando a “voz” desses atletas, muitos cobraram e cobram o posicionamento político dessas pessoas. Porém, é importante avaliar o cenário político instável e agressivo que acontece em nosso país. Fazer oposição, tornou-se mais difícil. É preciso enfrentarmos esse medo e sonhar com um país melhor de forma segura e democrática.

Todos os atletas e paratletas têm ou deveriam ter empatia por todos os esportistas, desde a formação de base até o mais alto nível de rendimento. Infelizmente no Brasil poucas modalidades recebem incentivos financeiros para formação de novos atletas e até mesmo os que atingem o nível mais alto enfrentam dificuldades para se manter ou custear viagens para representar o nosso país.

Consequências do posicionamento político nos tempos atuais?

A formação de um esportista inicia muito cedo e na maioria das vezes tem vínculos políticos, pois são projetos municipais. Quando ocorre troca de gestão política a cada 4 anos, muitos atletas sofrem as consequências administrativas e muitos perdem todo apoio. Então este é um problema que se inicia na base, onde o Executivo e o Legislativo das cidades (prefeitos e vereadores) acabam não colaborando ou omitindo-se da responsabilidade social na formação ou evolução de um atleta ou paratleta, ampliando conforme a escala cresce, assim como a visibilidade do atleta. Isso também chega à instância da responsabilidade do governo estadual e governo federal.

O cenário do posicionamento na polarização

Recentemente notamos que diversos atletas famosos não se posicionaram no período eleitoral devido ao cenário de polarização. Há o medo do cancelamento, já que a disseminação de ódio por uma opinião política antes não era propagado com tamanha magnitude, além de sua ampliação com as redes sociais.

Ameaças, ataques, agressões de todos os tipos foram registrados contra todos aqueles que se posicionaram de alguma forma. O maior parte desses atletas, que de certa forma se silenciaram por ter que garantir o “ganha-pão” ou a tão sonhada vaga em algum clube ou equipe, se manteve neutro. A chance de perder patrocínio é grande e real.

O atual governo não conta mais com a pasta do Esporte, pois houve cortes e desmonte. O que restou de esperança a esses atletas foram os patrocinadores. Para alguns o incentivo vem de forma individual. Para outros, de forma coletiva e de suas confederações.

Relato de um posicionamento atleta

Na produção deste artigo, o colaborador esportivo Paulo Victor teve um bate-papo com o também colaborador e atleta Renan Cuel, que coleciona diversos títulos dentro da modalidade de ginástica artística. O atleta relatou “já sofri diversos tipos de boicotes por exercer o meu papel de cidadão, em fazer oposição e cobrar os direitos que nós cidadãos temos. Já fiquei fora de equipe, já fui proibido de treinar no centro de treinamento, já ouvi desaforos, vi muitos amigos perdendo patrocínios, recebendo punições, isso é muito triste”, comenta o atleta em um relato emocionante.

“Perdi competições, já pensei em desistir muitas vezes. Fui forte! Vivemos em um estado democrático, não devemos ter política de estimação, devemos cobrar, sempre. Vamos apoiar aqueles que olham para todos, que ajudam todos, que incentivam todos. Eu quero um país melhor, quero bons atletas, quero oportunidades iguais para todos. Somos plurais, sementes e muitos e a união faz a força. Que o Brasil volte a sorrir, que a democracia permaneça e que o ódio seja combatido”, concluiu o atleta e colaborador.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube