Por Conscious Advertising Network (CAN)

Termina na sexta-feira (12) a COP26. Os rascunhos dos principais documentos políticos a serem entregues em Glasgow desembarcaram antes das 6 da manhã de hoje. Os textos CMA, CMP e COP não serão a história final, mas representam o pontapé do jogo em Glasgow. Na primeira avaliação, parece que a maioria das principais batalhas ainda estão entre parênteses ou como opções.

O texto da CMA está diretamente relacionado ao Acordo de Paris, e por essa razão é mais relevante. O Acordo de Paris norteia as discussões dos líderes mundiais nesta edição da COP, com o objetivo de viabilizar maneiras de limitar o aumento da temperatura média no planeta a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais durante os próximos anos.

1,5° C ou 2,4° C

O mundo está de frente a uma bifurcação. As duas rotas potenciais foram resumidas na avaliação de ontem do Climate Action Tracker. Ou os países mantêm as metas atuais de 2030, que deixam o planeta no caminho certo para um aumento de temperatura de 2,4° C até o final do século, ou eles viabilizam um plano para atingir as metas até 2023 ou mais cedo.

Corra, COP, corra

O tempo será um fator-chave, já que o Artigo 6 chegou às mãos dos ministros ainda com todas as questões altamente políticas em cima da mesa: Ajustes correspondentes, transição de créditos do Protocolo de Kyoto, parte dos lucros… Se deixarem para muito tarde, um compromisso insuficiente para o clima pode surgir.

Veredicto instantâneo

Estamos olhando para um texto que é uma melhoria significativa em relação ao Acordo de Paris quando se trata de mitigação e de alcance da meta de 1,5° C. Os combustíveis fósseis são apontados como um problema. Há prazos para os países retornarem com novas NDCs melhoradas até 2022 e 2023 alinhadas com a meta de 1,5° C. Mas se de um lado o texto é específico sobre cortes de gases de efeito estufa, ele ainda é mais um esboço no que se refere a finanças, adaptação e perdas e danos.

Destaques [texto CMA].

nº 30: Compromisso de 196 países para impulsionar as metas climáticas até 2023;

n° 33: Clama países a apresentar metas e planos net-zero em linha com Paris até 2022;

n° 36: Urge países a acelerar a eliminação progressiva do carvão e cortar os subsídios aos combustíveis fósseis (Rússia, Austrália e Arábia Saudita já se movem para cortar esta parte);

n° 44: Financiamento: acolhe favoravelmente o plano de entrega de $100bi, mas não há nenhum impulso para aumentar o financiamento;

nº 60: Perdas e danos reconhecidos no texto principal: Importante, mas sem especificidades;

Trabalho a fazer

“O texto precisa ser muito mais forte em finanças e adaptação e precisa incluir números reais nas centenas de bilhões, com um plano de entrega para os países mais ricos para apoiar as nações menos desenvolvidas”, opina a chefe do Greenpeace, Jennifer Morgan. “De um lado da balança, avança um processo detalhado para acelerar as metas de mitigação do clima, mas, do outro lado da balança, em finanças e perdas e danos, é difuso e vago. O prazo não cumprido para a promessa de 100 bilhões de dólares não é reconhecido – e esta é uma pergunta-chave dos países vulneráveis”, disse o chefe do think tank Power Shift Africa, Mohamed Adow.

Mostre o dinheiro!

A ambição não é apenas sobre cortes de GHG. Essa é a tese do cada vez mais influente Mohamed Adow – um observador nestas conversas. Em uma série de tweets no final da terça-feira, ele defendeu um “objetivo de financiamento de longo prazo baseado nas necessidades, consistente com uma trajetória de 1,5° C antes de 2025”, argumentando que sem apoio verde e investimento em adaptação, os países mais pobres estão em maus lençóis.

Boris na pista

O Primeiro Ministro do Reino Unido, Boris Johnson estará na COP26 hoje para “energizar” o processo, dizem as autoridades. Dinheiro, carros, árvores, carvão – todos os temas prioritários para os britânicos recebem uma menção hoje.

Quem não vai gostar da COP26

  • Os maiores poluidores com planos climáticos não alinhados com o 1,5° C vão se sentir por fora;
  • Rússia e Arábia Saudita não vão gostar da menção do zero líquido como sendo muito indispensável (detalhes abaixo);
  • Austrália não vai gostar da menção de uma eliminação acelerada do carvão
  • Os países em desenvolvimento que desejem especificações sobre finanças e adaptação exigirão clareza e mais recursos;
  • Quem busca clareza: ninguém está acostumado a ler textos complexos da ONU

UE e EUA?

Será que a UE vai sair das linhas laterais para se juntar aos vulneráveis e fazer um forte apelo à ambição desta COP? A campanha de soft power dos EUA – com AOC e Pelosi como os mais novos reforços – conseguiu o que se propunha fazer,  distrair todo mundo em relação às promessas da administração Biden.

Para inglês ver

“Poucos (se é que há algum) governos da UE estão empenhados em uma diplomacia séria”. As palavras da ex-chefe climática da UE, Connie Hedegaard, no final do mês passado, ainda soam como verdades nos tempos atuais. Bruxelas se engajou na COP26, juntando-se à Coalizão de Alta Ambição, mas fazendo pouco esforço para pressionar por uma data clara em que os países retornem com planos mais duros. “Esse silêncio indica que a dupla EUA-UE não está empurrando essa ambição da forma necessária no momento”, disse o diretor climático do WRI, David Waskow, numa reunião de terça-feira, 9. “Ninguém está disposto a colocar uma data, exceto o SIDS e o LDC”, disse Jenny Tollman, líder da diplomacia do E3G.

Mão fechada

O aperto da UE quando se trata de finanças também é um problema. A UE oferece 100 milhões de dólares para o Fundo de Adaptação, mas a Bélgica, a Áustria e a Comissão dizem que se opõem a compromissos mais ambiciosos a longo prazo. A Alemanha e a França também não gostam dos 50-50 para o financiamento da adaptação.

Perdas & Danos

As exigências de compensação climática continuam a ganhar destaque dentro e fora das negociações. Os países mais pobres que menos contribuíram para as emissões globais são também os mais vulneráveis aos impactos climáticos. Brasil, China e Índia querem condicionar cortes ao dinheiro na mesa. Além dos US$ 100 bilhões de financiamento climático que ainda não foram atingidos, eles estão exigindo reparações. Ativistas começaram a colocar exigências de “justiça climática” no centro de seus protestos.

Carros

A Declaração COP26 de Veículos com Emissões Zero foi amplamente coberta pela imprensa global. Os signatários da declaração concordam em pressionar para que todas as vendas de carros e vans novos sejam zero emissões até 2035 para os mercados líderes e 2040 para o resto do mundo. Até agora, quatro das cinco maiores montadoras do mundo – Volkswagen, Toyota, a aliança Renault-Nissan e Hyundai-Kia – ainda não se inscreveram.

Alô, sindicatos!!

O acordo sobre carros de hoje significa que 1 em cada 3 carros vendidos no mundo será de emissão zero, impactando até mesmo os países que ainda não assinaram o compromisso. Por exemplo, mais de 60% das exportações de carros dos EUA são agora para geografias que se comprometeram a atingir 100% de vendas de carros com emissão zero. Os países e empresas que não conseguirem eletrificar rapidamente a fabricação de seus automóveis nesta década perderão sua atual participação no mercado para os concorrentes – um tiro nos pés de seus próprios trabalhadores.

Que tá dentro, quem tá fora?

Ausentes: alguns grandes fabricantes de automóveis como BMW e Toyota. A UE entregou uma série de primeiros signatários, incluindo Croácia, Chipre, Lituânia, Luxemburgo, Polônia e Turquia. A Índia, Canadá e Irlanda são os mercados mais importantes. Também são fundamentais os compradores emergentes de automóveis na África – Ruanda, Quênia, Gana – assim como os principais mercados de automóveis da América Latina. Volvo, Ford, Mercedes Benz, GM e Jaguar estavam na lista de quem está se mexendo, juntamente com uma série de cidades, de Roma a Reykjavik.

Mancha de óleo

Só o compromisso europeu e indiano removerá 4 milhões de barris por dia de demanda de petróleo, aproximadamente o equivalente à produção diária de petróleo da UEA.

* Este boletim diário da Conscious Advertising Network (CAN) é feito com informações dos jornalistas Ed King, Marina Lou e Cínthia Leone. Diariamente destacam os principais assuntos da COP26.

 

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