Por Rodrigo Cebrian

Sempre admirei a força intrínseca das mulheres. Mulheres em ambiente de poder e principalmente em ambientes políticos acho ainda mais admirável. Manuela D’Avila é inquestionavelmente uma das figuras políticas mais relevantes do nosso tempo. Seja pelas suas posições políticas, como parlamentar, mãe, mulher. Manuela é o melhor da política.

Quando a conheci, dentro de um famoso grupo de WhatsApp chamado “Coalas”, não imaginava que teria a chance de registrar um dos momentos mais marcantes da nossa história recente. As mensagens capturadas por hackers e divulgadas primeiramente pelo The Intercept, em um série de reportagens conhecidas como Vaza Jato, literalmente mudaram a história do Brasil. E isso só foi possível pela coragem da Manuela. Era junho de 2019 quando as primeiras revelações da troca de mensagens no mínimo “pouco republicanas” entre procuradores e o então ex-juiz da força tarefa da Lava Jato de Curitiba, começavam a vir a tona. Manuela estava lançando seu lindo livro Revolução Laura, sobre a sua relação de descobertas, revelações e revoluções que a maternidade em pleno exercício do mandato de deputada federal a trouxe.

Por conta do livro, passamos a trocar ideias com mais frequência sobre a situação do país e possíveis projetos que poderíamos fazer juntos sobre o tema das mulheres em cargos públicos de poder. Até que ela parou de responder e foi passar um período estudando na Escócia. Manuela vinha de uma campanha política desgastante, onde foi atacada, perseguida, vítima de fake news das mais variadas ordens e me parecia compreensível o período de recesso físico e psicológico.

Quando foi dia 26 de julho de 2019, veio a “bomba”. O primeiro hacker preso pela Polícia Federal, acusado de hackear conversas pelo aplicativo telegram de várias autoridades brasileiras, havia dito que Manuela foi “o” seu primeiro contato.

Ainda assustado com aquela notícia, recebo uma mensagem de um número desconhecido que dizia: “entendeu porque sumi?”
Eu pensei que era o hacker. Sério. Não queria responder, mas depois de alguns minutos tomei coragem e respondi. Ufa! Era mesmo a Manuela D’Avila de um celular com chip escocês.

No Brasil, a PF já havia indiciado Manuela como testemunha na investigação sobre as invasões criminosas a celulares.  Manuela voltaria para o país no dia 15 de agosto e então combinamos que a primeira entrevista que ela daria sobre o caso, a versão dela dos fatos, seria pra mim.

Fomos de manhã cedo até a sede do PCdoB na capital paulista e lá conversamos por pouco mais de 45 minutos. Manuela estava visivelmente cansada, ainda se recuperando da viagem e digerindo toda a nova realidade que se impunha com a revelação de que foi por ela, por “culpa” dela, que os mais se 8tg de documentos, mensagens, áudios chegaram até o premiado jornalista Glenn Greenwald.

A força daquele registro histórico, daquele momento de reflexão, desabafo e coragem, ficou guardado comigo
por 1 ano e meio.

No dia 23 de março de 2021, a segunda turma do STF decidiu por 3×2 pela suspeição do ex-juiz federal Sérgio Moro no caso que envolvia o julgamento e condenação do Lula. 15 dias antes o ministro Edson Fachin declarou a incompetência da 13ª vara de Curitiba para julgar os casos do ex-presidente, o tornando novamente elegível.

A coragem, determinação, honestidade e compromisso com a justiça que sempre pautaram Manuela D’Avila, havia em fim se concretizado na revelação do que muitos consideram O MAIOR ESCÂNDALO JURÍDICO DA HISTÓRIA DO BRASIL.

É isso que quis dividir em forma de vídeo, dedicado obviamente a Manuela D’Avila, mas também a todos os juízes e advogados que lutam diariamente pelo estado democrático de direito, e a todos os brasileiros que perderam pessoas queridas pera a covdi.
Viva às mulheres do Brasil.