O Estudantes NINJA entrevistou Jessi Alves, professora de biologia que ganhou destaque após a participação no BBB22

Foto: Iude Richele

Por Lara Ximenes Braga dos Santos / Estudantes NINJA

Com alta rotatividade de ministros, ataques a professores, cortes orçamentários, apenas sete escolas construídas e incentivo ao ‘homeschooling’, os últimos anos de governo brasileiro foram marcados pela desvalorização da educação.

No dia 15 de outubro se comemora o dia do professor, a profissão que forma todas as outras. As homenagens e elogios não podem maquiar as dificuldades sofridas por essa classe.

O Estudantes NINJA entrevistou Jessi Alves, professora de biologia que ganhou destaque após a participação no BBB22. A professora tem um mestrado na área e resolveu se aprofundar nos estudos de libras para se comunicar com seus alunos. Jessi decidiu pela faculdade de Ciências Biológicas aos 12 anos, mas não escolheu ser professora até entrar em sala de aula para seu estágio obrigatório. Depois, foi se apaixonando cada vez mais.

Ela encara a representatividade dentro de sala de aula como essencial. Deu aula durante seis anos e relata que, muitas vezes, era a única professora preta da instituição em que trabalhava.

“É muito importante termos pessoas nesses lugares para chamarem outras pessoas para ocuparem também esse espaço.”

O atual presidente, Jair Bolsonaro, defendeu em sua campanha o movimento da Escola Sem Partido. Em um evidente ataque contra os professores, Bolsonaro já usou as suas redes sociais para afirmar que o professor deve ensinar, não doutrinar. Para Jessi, é impossível ser uma professora neutra.

“Eu não acredito em educação neutra, eu não acredito que seja possível professor ser neutro. Temos que ser formadores de opinião. Quando a gente forma opiniões, devemos nos posicionar diante do que queremos construir no nosso aluno: que ele seja um ser crítico, pensante, participante ativamente da sociedade assim como o professor”, afirma Jessi. “É importante o professor direcionar o aluno a ter suas próprias opiniões, mas a educação não consegue ser neutra nesse sentido. Ser neutro é não optar por nenhum dos lados. O educador precisa se posicionar.”

Sua profissão mudou o modo que ela enxergava o mundo em todos os sentidos. Jessi também afirma que lecionar a ajudou a entender quem realmente era. Desde a faculdade ela começa esse processo de entender o lugar que ocupava como mulher e preta. O trabalho a ajudou a entender as suas origens, raízes, gostar de si como é, e também entender que existe esse preconceito social, muitas vezes velado na sociedade. Depois que começou a dar aulas, isso foi ficando cada vez mais forte. Conviver com vários alunos de todas as classes e gêneros a ajudou a se construir como indivíduo.

A maior dificuldade, para a professora, é a falta de investimento.

“Precisamos de professores qualificados e capacitados. Precisamos de recursos didáticos para a escola e para os alunos em aula, como material escolar, atividades extracurriculares, a merenda. As condições de trabalho são a maior dificuldade, principalmente.”

Jessi afirma que o professor ultrapassa a barreira da sala de aula, muitas vezes assumindo a responsabilidade de ensinar e educar. Por isso, é necessário o investimento na saúde mental desses profissionais.

Sobre a valorização da educação, Jessi acredita que houve sim, um retrocesso por todos os cortes. Ela enxerga que não tiveram recursos o suficiente para equilibrar o pós-pandemia e muitas crianças estão saindo do Ensino Fundamental 1 sem saber ler.

“Isso é muito triste. Precisamos investir em educação, recuperar essa aprendizagem.”

No ápice das eleições, para Jessi, a educação deve ser um dos pilares do plano de governo dos candidatos. “A educação é a solução.” A professora acredita que, quando temos indivíduos que pensam, criticam, e questionam, conseguimos ampliar a capacidade da população como um todo.

“Isso é estatística. Muitos dados mostram que uma população que tem educação como prioridade é uma população desenvolvida.”

Ela então, reafirma que a educação é fundamental em todos os planos de governo, desde o Legislativo ao Executivo.

Nesse 15 de outubro, não homenageie seus professores só dentro da sala. Homenageie-os nas urnas, nas ruas e em seus posicionamentos.

“Educação é o caminho. Educação é o futuro.”