A jornalista e escritora Sueide Kintê. Foto: Mídia NINJA

A gente tem uma visão comercial do que é se cuidar. Uma limpeza de pele, cremes, fazer a unha também é uma forma de se cuidar, mas para Sueide Kintê, a questão é maior que isso. Como podemos querer que mulheres se cuidem se elas estão passando fome?

“No Brasil como estamos hoje, com o preço do gás, com o preço do leite, isso inviabiliza nosso auto-cuidado porque inviabiliza a nossa existência”, nos diz Sueide, que é jornalista, escritora e que pauta bastante o auto-cuidado, CEO da plataforma Mais amor entre nós.

O acesso a esse cuidado passa também pelo acesso a saúde, a alimentação, a uma noite de sono reparadora, a absorvente. Mulheres precisam se colocar também no lugar de prioridade. E precisam de oportunidade para que isso aconteça.

Sueide media o debate sobre masculinidades e transmasculinidades no Festival Latinidades que fala também sobre cuidado. Foto: Matheus Alves

“As mulheres negras são as mais criativas em toda a sociedade e que estão o ano todo fazendo coisas maravilhosas, coisas muito impactantes”. O mês de julho é considerado o julho das pretas por causa do dia 25 de julho, dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Mas ao longo do ano, essas mulheres seguem criando e nem sempre tem a visibilidade que merecem ter. E julho é uma oportunidade de se encontrar e reunir muito dessa potência. Mas é preciso consciência de que todos os dias elas precisam ser fortalecidas nas suas comunidades, em seus trabalhos, em suas existências.

“A mulher negra é quem tem o cuidado mais negligenciado. Existe um pensamento completamente deturpado que acha que a mulher negra aguenta mais dor, que ela resiste a mais tragédia. Por que? Porque nós temos uma capacidade de se reinventar, uma capacidade de liderança muito proeminente, e isso não significa que a gente não precisa ser cuidada.” E isso é reflexo da sociedade escravagista que sobrecarregava mulheres, sobretudo as negras, e as colocava num não lugar, de objeto, de servir.