Durante a gestão de Bolsonaro, explodiram os registros ativos de CACs, clubes e lojas de armas, porém 70% da população brasileira discorda que se sinta mais segura andar armada para se proteger

Controle de armas é um assunto preocupante às vésperas de uma eleição. Foto: Divulgação

Mesmo que 70% da população brasileira discorde que se sinta mais segura ao andar armada, o poder de fogo do brasileiro aumentou consideravelmente com a flexibilização da posse de arma do país promovida por Jair Bolsonaro (PL). Durante a sua gestão, explodiram os registros ativos de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs), clubes e lojas de armas. Atualmente, o número de brasileiros com permissão para comprar arma já supera de policiais militares e integrantes das Forças Armadas.

As pessoas físicas com Certificados de Registros de CACs ativos em março de 2022 é de 605.313. O número é maior do que o total de efetivos de policiais militares em ação no país, que hoje chega a 406,3 mil agentes, ou de militares em serviço, que somam 357 mil pessoas nas Forças Armadas. Os dados foram levantados pelo Instituto Igarapé, a pedido do GLOBO, e dão uma dimensão do potencial de arsenal autorizado antes e depois da política belicista do governo Bolsonaro.

Outro aspecto preocupante é que o total de armas autorizadas para cada registro aumentou desde 2018. Um caçador pode ter até 30 armas e um atirador esportivo, 60, depois que uma série de restrições para compra foram derrubadas.

Insegurança

De acordo com levantamento do Instituto Sou da Paz, o governo federal já publicou 17 decretos presidenciais, 19 portarias (incluindo do Exército e da PF), 3 instruções normativas, 2 projetos de lei e duas resoluções. As medidas, no geral, ampliam o acesso da população a armas e munições e, por outro lado, enfraquecem os mecanismos de controle e fiscalização de artigos bélicos.

Um outro levantamento, Sou da Paz e Instituto Igarapé, revela que em todas as 27 unidades da Federação há projetos nas assembleias legislativas que tratam do tema, a maioria para garantir o porte de arma aos CACs, embora esse seja assunto de competência exclusivamente federal.

O gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, alerta que este conjunto com mais de 40 medidas são categorizados em três eixos: a facilitação da compra e porte, a ampliação e potência das armas e o aumento da quantidade de armas em circulação. Para piorar a situação, o desmonte da fiscalização com a precarização no banco de dados da PF e Exército, além do enfraquecimento do sistema de rastreamento das armas.

“Estas medidas impactam em vários aspectos, mas não favorecem a segurança da população. Esta política armamentista beneficia o mercado ilegal, como o tráfico de drogas, garimpo e grilagem, além do perigo institucional do momento com um pequeno grupo armado e o presidente incentivando a violência política”, declara.

A segurança pública é um tema que sempre mobilizou disputas políticas, porém, esta é a primeira vez que o controle de armas assume tamanho protagonismo às vésperas de uma eleição. Desde a campanha passada, o assunto monopoliza boa parte da agenda de Bolsonaro, para quem “um povo armado jamais será escravizado”.

No entanto, pesquisa Datafolha mostra que 69% dos entrevistados discordam da frase que um povo armado jamais será escravizado. 71% dos entrevistados também discordaram do argumento que é preciso facilitar o acesso de pessoas às armas, e 72% discordam que a sociedade brasileira seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência. A pesquisa ouviu 2.556 entrevistados entre os dias 25 e 26 de maio em 181 municípios do país.