Ainda que a maioria se declare branca, a realidade dos alunos das escolas públicas não é essa

Foto: Carlos Macedo/Folhapress

Por Renata Renovato / Estudantes NINJA

Desde o ano passado a secretaria municipal de educação de Caxias do Sul passou a promover ações que incluem temáticas e discussões a respeito das relações étnico-raciais nas escolas. Esta ação foi iniciada pelo núcleo Querer (Qualificar a Educação para as Relações Étnico Raciais).

O que são as ações promovidas pelo núcleo Querer? São rodas de conversa que discutem temas como racismo e preconceitos, apresentação de literatura e filmes que tenham como autores e protagonistas, negros e indígenas. Além da inserção, na aula de história, de figuras antes invisibilizadas nos livros e currículos escolares.

A diretora pedagógica da secretaria municipal de Caxias do Sul, Paula Martinazzo, em entrevista para jornal, Folha de São Paulo, disse que a inserção desta temática nos currículos escolares faz parte da Lei de diretrizes e bases de 1996, mas que até o ano passado, as iniciativas voltadas para as relações inter-raciais eram feitas apenas de maneira pontual. Hoje, as ações promovem uma série de possibilidades de aulas, conversas e aprendizados. A aluna Sophya Domingues Marcos, de 13 anos, que cursa o 7º ano na escola municipal Ruben Bento Alves é uma das alunas que não apenas participa das ações em sua escola, como ganhou a competição promovida para escolher a logotipo do Querer. A aluna, que possui ascendência negra pela mãe materna, tem consciência de suas raízes, e este projeto lhe proporcionou novos olhares através do desenvolvimento de sua criatividade.

Além dela, Yasmin Zanetti de Brito do 5º ano da escola Professora Marianinha de Queiroz, passou a ter contato com os preconceitos vivenciados pelos povos indígenas. Ela, assim como Sophya, representa a pluralidade, pois frequenta a umbanda com sua família, e passou a conhecer e pensar melhor sobre os temas inter-raciais.

Contudo, a diretora pedagógica fala sobre o fato de que muitas crianças não possuem consciência de suas origens e das origens plurais do povo gaúcho. Segundo ela, muitos alunos não se autodeclaram negros e outros não se percebem negros.

Segundo dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 82% da população de Caxias do Sul se declara branca, 13% parda, 3% preta, 0,41% amarela, 0,11% indígena.

Ainda que a maioria se declare branca, a realidade dos alunos das escolas públicas não é essa. Segundo Paula, os alunos são inseridos de maneira muito forte na cultura que predomina na cidade, a italiana, que para ela é também importante, mas não corresponde à realidade da história dos povos que construíram Caxias do Sul, pois a cidade foi erguida também por negros, pardos e indígenas.

Joelma Couto Rosa, professora assessora do Núcleo, diz que as atividades já tiveram efeitos práticos, de acordo com o censo escolar, pois 30% a 40% dos alunos já se consideram negros ou pardos. Ela disse, ainda, que a intenção é mapear e trabalhar a identidade dos alunos, e que o censo escolar é uma importante ferramenta.

Graziele da Silva, professora de artes, falou que as ações tem acrescentado bastante e que os alunos ficam entusiasmados com as discussões. Ela acrescentou que existem alunos que chegam com seus preconceitos formados, mas que com essas ações muitos mudam suas maneiras de pensar e agir.

Agora, além dos alunos de ensino fundamental e educação infantil continuada, contabilizando 42 mil alunos, as ações estão sendo feitas também com alunos da rede estadual do Rio Grande do Sul, para os alunos de 8, 9 e ensino médio.

Marivane Carvalho, coordenadora regional de comissões internas de prevenção de acidentes e violência escolar, diz que os alunos não sabiam diferenciar bullying de racismo e que pensar medidas para lidar com isto os levou ao núcleo Querer.

Vale lembrar que a lei de diretrizes e bases da educação de 1996 possui circunscrição em todo o território nacional. Ou seja, refere-se ao currículo escolar de secretarias municipais e estaduais de todo o Brasil.