Culpa do governo Bolsonaro na crise Yanomami e demarcação de terras indígenas foram temas da entrevista na TV Cultura

Ministra Sonia Guajajara em entrevista ao Roda Viva. Foto: reprodução/TV Cultura

Por Cley Medeiros

Em entrevista ao programa Roda Viva, a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara anunciou a demarcação de 14 territórios indígenas no Brasil ainda este ano. Na conversa com jornalistas, a ministra declarou ainda que a demarcação é “crucial” e pode ser considerada “um passivo do Estado brasileiro” com os povos indígenas. A crise no território Yanomami também foi tema da entrevista. A conversa foi transmitida ao vivo pela TV Cultura, nessa segunda-feira (21).

O povo Yanomami, em Roraima, vive uma crise humanitária provocada pela forte presença do garimpo ilegal nos territórios já demarcados e em territórios em retomada. Relatórios apontam a morte de mais de 500 crianças vítimas de desnutrição e outras doenças.

“Para resolver a questão da saúde, tem que se resolver primeiro a questão dos invasores”, disse Guajajara. “Foram muitas denúncias e tentativas para alcançar o apoio público, e tudo foi ignorado”, afirmou.

A crise foi agravada com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência, em 2019. Antes mesmo de conduzir um governo de extrema direita, Bolsonaro sempre atuou pela marginalização da pauta indígena na Câmara dos Deputados. Em sua corrida ao Planalto, defendeu que o governo deveria ignorar a demarcação de terras indígenas, em um acordo com a bancada ruralista.

Além de trabalhar pela não demarcação dos territórios, o governo Bolsonaro incentivou o garimpo ilegal, principalmente, em terras indígenas. Para a ministra, a atitude de Bolsonaro pode ser considerada genocídio.

“Decretamos situação de emergência, compartilhamos com ministérios a situação, foi convocada uma força nacional para fazer atendimento de saúde”, disse a ministra.

Garimpo ilegal

A presença de garimpeiros ilegais na TI Yanomami chegou a mais de 30 mil durante os anos do governo Bolsonaro. Para a ministra, o PL 191 deve ser barrado ainda no Congresso. A proposta capitaneada por ruralistas prevê legalizar o garimpo. Guajajara defende o diálogo com as mineradoras, na busca para explicar o impacto socioambiental de investidas contra áreas de preservação.

“Nos últimos quatro anos, a paralisação da demarcação de terras indígenas foi uma política pública”, disse a ministra ao lembrar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Vamos assinar essas quatorze terras este ano, sem dúvidas”, afirmou a ministra

Presidenta de comissão no Mercosul

O jornalista Gustavo Faleiros, do Pulitzer Center, citou a forte ligação do ator Leonardo DiCaprio com a questão indígena e ambiental do Brasil, principalmente, na Amazônia. Guajajara afirmou que é preciso buscar aliados e avançar no diálogo internacional. A ministra adiantou que deverá presidir uma comissão voltada ao tema no Mercosul.

Ministra explica por que não é correto dizer “índios”

Em resposta à jornalista Helena Corezomaé, do portal Primeira Página, a ministra explicou os motivos que levaram à mudança de nome da Fundação Nacional do Índio, para a Fundação Nacional dos Povos indígenas. O órgão é comandado pela deputada licenciada Joênia Wapinchana (Rede), a primeira mulher indígena a comandar a instituição.

“É importante que as pessoas entendam que nós temos costumes diferentes”, afirmou Sonia Guajajara