Por Rebecca Lorenzetti para Mídia Ninja

Al Jaber, presidente da COP 28, que tem sido marcada por polêmicas, teve um discurso publicado onde dizia que “não há ciência” na eficácia da eliminação gradual dos combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global a 1,5°C, em um vídeo divulgado pelo jornal britânico The Guardian. A alegação foi feita durante um debate online em 21 de novembro de 2023.

As declarações do presidente da COP 28 contradizem diretamente as recomendações do último Relatório de Síntese AR6 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Segundo o IPCC, é imperativo reduzir as emissões de CO2 em 48% até 2030 e em 99% até 2050, sendo que a maioria dessas emissões está atualmente ligada à queima de combustíveis fósseis.

A polêmica gerada pelas afirmações de Al Jaber ressoou imediatamente entre especialistas e ativistas climáticos. Marina Romanello, Diretora Executiva do Lancet Countdown, classificou as declarações como uma “traição à saúde e ao futuro”, destacando a importância de abordar os impactos dos combustíveis fósseis na saúde humana.

Joeri Rogelj, diretor de pesquisa do Grantham Institute, recomendou que Al Jaber revisse o último relatório do IPCC, ressaltando que as conclusões do relatório, aprovadas por unanimidade por 195 países, indicam claramente a necessidade de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.

A controvérsia em torno das declarações do presidente da COP 28 ganham mais destaque devido ao conflito de interesses evidente em sua liderança. Al Jaber também preside a Adnoc, a companhia estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, um dos maiores produtores globais de petróleo. Ativistas climáticos têm protestado contra essa dualidade de papéis, argumentando que a agenda climática pode estar suscetível a influências das empresas de petróleo.

A preocupação de ativistas climáticos e líderes comprometidos com a emergência climática presentes na conferência giram em torno de um denominador comum: O papel do presidente da COP 28, sendo responsável por facilitar o processo de negociação e garantir que a conferência atinja seus objetivos conduzindo processos decisórios e relações públicas.

Essas revelações intensificam as preocupações sobre a presidência de Al Jaber na COP 28, levantando questões sobre a transparência e a independência da agenda climática em um momento crucial para as negociações globais sobre mudança climática.

Enquanto os Emirados Árabes Unidos sediam a COP 28 e afirmam buscar a neutralidade de carbono até 2050, a polêmica destaca a necessidade de lideranças comprometidas e transparentes para enfrentar os desafios urgentes impostos pela crise climática. O impasse também ressalta a importância de garantir que as decisões da COP 28 sejam guiadas pela ciência e pelo compromisso verdadeiro com a sustentabilidade global, em vez de interesses econômicos específicos.