As autoridades locais afirmam concentrar esforços para conter o avanço do mar. Sem essas medidas, 80% dos bairros estariam em risco de inundação, conforme relatado pela prefeitura

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A cidade de Cartagena, um dos principais destinos turísticos da Colômbia, está sendo gradualmente devorada pelo oceano, uma evidência inquietante dos efeitos do aquecimento global.

Um estudo publicado pela revista científica Nature em 2021 revelou que o nível do mar na cidade, lar de quase um milhão de habitantes, tem aumentado anualmente cerca de 7,02 milímetros desde o início do século XXI, superando a média global. Se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas, os pesquisadores advertem que o mar poderá subir 26 centímetros na baía até 2050 e 76 centímetros até 2100.

Mirla Aaron, líder comunitária de 53 anos, ficou consternada ao ver os ossos dos antigos residentes de Tierra Bomba, uma ilha localizada em frente à zona hoteleira luxuosa de Cartagena. “O mar destruiu 250 casas da comunidade, o posto de saúde, píeres (…)”, relatou Aaron, visivelmente emocionada. Os túmulos destruídos, outrora a uma distância segura do Mar do Caribe, são tão antigos que não há familiares para cuidar dos restos mortais.

O problema da mudança climática em Cartagena é agravado pelo fato de que o principal porto comercial da Colômbia foi construído em terreno propenso a colapsos devido a cavidades subterrâneas. “Lamentavelmente, a ilha tem sido vítima de um processo erosivo (…)”, lamentou Aaron.

Marko Tosic, cientista ambiental e coautor do estudo publicado na Nature, explicou que o aumento do nível do mar em Cartagena é resultado da vulnerabilidade da cidade ao aquecimento global e da “subsidência” do solo devido a fatores tectônicos e à presença de vulcões submarinos.

As autoridades locais afirmam concentrar esforços para conter o avanço do mar, estendendo quebra-mares ao longo da costa. Sem essas medidas, 80% dos bairros estariam em risco de inundação, conforme relatado pela prefeitura.

Entretanto, para muitos, esses esforços chegam tarde demais. Paredes caídas, restaurantes inundados e linhas de energia expostas são sinais visíveis da luta contra a erosão. Mauricio Giraldo, representante de pescadores locais, denuncia que as medidas de proteção privilegiam as atrações turísticas e os hotéis de luxo, prejudicando as áreas habitadas pelas comunidades mais vulneráveis.

Em meio a essa luta desigual, comunidades como a de Tierra Bomba, que resistem para preservar sua identidade contra as investidas do mar, enfrentam um futuro incerto.