Entre agosto de 2020 e julho de 2021, a atividade irregular atingiu 103 mil hectares, 73% da extração não permitida na região amazônica

Exploração ilegal avança sobre terras indígenas e unidades de conservação (Fernando Augusto/Ibama)

Para se ter ideia do quanto é crítica a situação de desmatamento ilegal em Mato Grosso, sete em cada dez hectares de florestas com exploração não autorizada de madeira na Amazônia estão no Estado. Segundo dados divulgados pelo Instituto Centro de Vida (ICV), entre agosto de 2020 e julho de 2021, a atividade irregular atingiu 103 mil hectares, 73% da extração não permitida na região amazônica.

A pesquisa publicada pela Rede Simex (Imazon, Idesam, Imaflora e ICV), indica que a que a exploração madeireira não autorizada avança também sobre áreas protegidas, pois entre agosto de 2020 e julho de 2021, as terras indígenas e as unidades de conservação tiveram 21 mil hectares explorados irregularmente, área equivalente ao tamanho da cidade de João Pessoa (PB). Isso também corresponde a 15% de toda a área com atividade não permitida mapeada na Amazônia no período.

O território indígena mais prejudicado foi o Aripuanã, em Mato Grosso, onde foram retirados mais de 4 mil hectares de madeira.

(Fonte: ICV)

Pará em 2º lugar

O segundo estado com a maior área de exploração madeireira na Amazônia foi o Pará, com 57 mil hectares (15%). Rondônia, Amazonas, Acre e Roraima tiveram áreas abaixo dos 20 mil hectares afetadas pela atividade, o que representa percentuais entre 4,3% e 0,3% do mapeado na região. Os outros três estados da Amazônia Legal não tiveram as imagens de satélite analisadas, sendo o Amapá devido à alta cobertura de nuvens e o Tocantins e o Maranhão por terem áreas ainda menores com a atividade.

Conforme Tayane Carvalho, pesquisadora do Idesam, o total de madeira extraído irregularmente na Amazônia demonstra que as ações de fiscalização continuam insuficientes. “Esse cenário torna ainda mais necessário o incentivo ao manejo florestal sustentável, pautado na legislação”, afirma.

Exploração autorizada

O mesmo percentual que Mato Grosso possui em relação às áreas exploradas ilegalmente é o mesmo das que têm autorização. Segundo o ICV, no período analisado, o estado teve 173 mil hectares com extração madeireira permitida, 73% da atividade legalizada na Amazônia.

O  levantamento mapeou por meio de imagens de satélite 377 mil hectares com extração de madeira na Amazônia entre agosto de 2020 e julho de 2021. E, de forma inédita, conseguiu acesso aos dados públicos das autorizações para a atividade emitidas pelos órgãos ambientais de todos os estados analisados.

O coordenador de inteligência territorial do ICV, Vinicius Silgueiro destaca que “apesar da maior parte da exploração madeireira em Mato Grosso ter sido autorizada, a área com a atividade não permitida cresceu 17% em relação ao levantamento anterior, que analisou o período de agosto de 2019 a julho de 2020”.

Acesso a dados públicos

No estudo publicado no ano passado, apenas Pará e Mato Grosso haviam liberado as informações necessárias para a checagem da legalidade. Leonardo Sobral, gerente de cadeias florestais do Imaflora, ressalta que o acesso aos dados públicos foi fundamental para a realização das análises. “O setor florestal precisa avançar na agenda da transparência”, completa.

Agora, com os dados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, foi possível identificar 142 mil hectares com exploração madeireira não permitida no período estudado, o que representa 38% do total. Isso significa que a Amazônia teve uma área de floresta equivalente à cidade de São Paulo afetada pela atividade irregular em apenas um ano.

“Esse índice de exploração não autorizada é muito alto e representa graves danos socioambientais para a Amazônia, o que contribui para impedir o desenvolvimento sustentável da região. Sem o manejo florestal sustentável a floresta pode ser degradada, há mais riscos de conflitos e deixa-se de gerar empregos formais e impostos”, afirma Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.

(Fonte: ICV)