ONU já enfatizou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados. Novo relatório aponta caminhos para reverter o ‘ponto de não retorno’

Foto: Euzivaldo Queiroz/A Crítica

Em novo relatório, a Organização Meteorológica Mundial alerta que o planeta terra enfrentará um período de temperaturas sem precedentes nos próximos cinco anos, com consequências profundas em várias regiões do mundo, principalmente na Amazônia. A informação foi divulgada pelo jornalista Jamil Chade, no UOL.

No norte do Brasil, espera-se uma redução no regime de chuvas, o que poderá ter um impacto significativo em um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta e, além de atingir em cheio o estilo de vida de ribeirinhos, indígenas, quilombolas e moradores da Amazônia, o grave cenário pode atingir diretamente moradores do semiárido no Nordeste, além da agricultura realizada na região centro-oeste, sudeste e sul, que se sustentam por meio dos “rios voadores”.

Na prática, o relatório prevê que a alteração no regime de chuvas irá acelerar o aquecimento global e levará a humanidade “a um ponto de não retorno”, alertou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

Esse fenômeno será impulsionado tanto pela persistente concentração de gases de efeito estufa, que retêm o calor, quanto pelo retorno do El Niño em grande intensidade. A organização já enfatizou que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados.

Agora, a agência ligada às Nações Unidas prevê o seguinte:

  • Existe uma probabilidade de 66% de que a média anual da temperatura global na superfície entre 2023 e 2027 seja pelo menos 1,5°C superior aos níveis pré-industriais durante pelo menos um ano.
  • Existe uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos, assim como o período de cinco anos como um todo, seja o mais quente já registrado.

Seca na Amazônia

Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas emitiu um alerta, destacando os riscos para os sistemas naturais e humanos diante do aquecimento global de 1,5°C.

Outra constatação é que os próximos anos marcarão anomalias nos regimes de chuvas em várias partes do mundo, inclusive no norte do Brasil.

Crédito: Biofílica

“Os padrões de precipitação previstos para 2023 em relação à média de 1991-2020 sugerem uma maior chance de redução de chuvas em partes da Indonésia, da Amazônia e da América Central”, disse o informe.

O jornalista Jamil Chade explica que, para os próximos cinco anos, as previsões de precipitação mostram anomalias de umidade no Sahel, norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e anomalias de seca para essa estação na Amazônia e oeste da Austrália. O sul do Brasil também será afetado.

“Entre 2018 e 2022, partes da Ásia, sudeste da América do Norte, nordeste da América do Sul e o Sahel africano foram mais úmidos do que a média, e o sul da África, Austrália, sul da América do Sul, oeste da Europa e partes da América do Norte foram mais secos do que a média”, disse o informe da ONU.

Em 2022, a temperatura média global ultrapassou cerca de 1,15°C em relação à média registrada entre 1850-1900. Durante os últimos três anos, o resfriamento causado pelas condições do La Niña temporariamente controlou a tendência de aquecimento de longo prazo. No entanto, em março de 2023, o La Niña chegou ao fim e há previsões de que um El Niño se desenvolva nos próximos meses.

  • Normalmente, o El Niño eleva as temperaturas globais no ano seguinte ao seu surgimento, o que significa que em 2024 pode haver um aumento significativo nas temperaturas.
  • Estima-se que, para cada ano, entre 2023 e 2027, a média anual da temperatura global próxima à superfície seja de 1,1°C a 1,8°C acima da média registrada entre 1850-1900.
  • Existe uma probabilidade de 98% de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere o recorde de temperatura estabelecido em 2016, quando ocorreu um El Niño excepcionalmente forte.
  • É importante ressaltar que o Ártico está experimentando um aquecimento desproporcionalmente alto. Comparado à média registrada entre 1991-2020, espera-se que a anomalia de temperatura durante os próximos cinco invernos prolongados no hemisfério norte seja mais de três vezes maior do que a anomalia média global.