Em 1581, os Países Baixos declararam sua independência diante do controle espanhol

Foto: Jose Breto

Por Grace Ketly Barbosa da Silva Lima

Logo mais, Espanha e Holanda se enfrentam no Sky Stadium, em Wellington, Nova Zelândia, pelas quartas de final da Copa do Mundo Feminina FIFA. Mas a  história do continente europeu é cheia de rivalidades profundas e duradouras dentro e fora de campo. Uma das mais emblemáticas envolveu espanhóis e holandeses e a independência dos países baixos da coroa espanhola.

Raízes da Rivalidade

Tudo começa quando Filipe II, da Espanha, herda, de seu pai, Carlos V, em 1556, a parte ocidental do império dos Habsburgo, que incluía a Espanha, os Países Baixos e uma parte da Itália. O príncipe herdeiro tentou manter a integridade de seu reino com repressão e violência.

Foto: Sofonisba Anguissola – Museo del Prado

A ascendente reforma protestante foi combatida por meio da Inquisição e de uma nova administração eclesiástica, que possibilitou a Felipe II intervir, fortemente, na Igreja dos Países Baixos. Com isso, ele não só interferiu em questões religiosas como cortou privilégios da alta nobreza. A criação de novos impostos e o deslocamento de tropas espanholas para os territórios sob seu domínio causaram irritação e temor, gerando movimentos de oposição.

O desgoverno, juntamente com diferenças religiosas, foram a combinação que provocou a  resistência holandesa diante das mudanças impostas, dando início a uma rebelião. Nasceu, então, um movimento que buscava a independência dos Países Baixos. A luta travada entre espanhóis e holandeses ficou conhecida como Guerra dos Oitenta Anos e amadureceu o ideal de liberdade dos holandeses com relação ao controle espanhol.

A  Independência e uma Nova Era

Foto: Filipe II repreendendo Guilherme de Orange, por Cornelis Kruseman

Um dos líderes da oposição foi Guilherme, o Taciturno, da casa de Orange, que havia sido, inicialmente, nomeado por Filipe II para governar as províncias de Utrecht, Zelândia e Holanda. A adesão da aristocracia, que inicialmente era fiel ao rei espanhol, exigia, apenas, a preservação de seus direitos e privilégios tradicionais.

A disputa não se restringiu, somente, ao território holandes. Espanhóis e holandeses competiram, entre si, pelo controle de rotas comerciais importantes e por colônias ao redor do mundo. Quando muitos holandeses aderiram à Reforma e se tornaram protestantes, a agressivamente católica coroa espanhola tentou derrubá-los, executando centenas de hereges e impondo a Inquisição à população rebelde. Além disso, os espanhóis usaram receitas fiscais das ricas províncias holandesas para financiar suas guerras religiosas em outros lugares.

Quando, nesta quinta-feira, a seleção holandesa de futebol cantar “Het Wilhelmus”, elas estarão cantando o hino de sua independência, cuja letra foi escrita desde a  perspectiva de Guilherme de Orange.

A décima estrofe fala, explicitamente, das atrocidades espanholas:

Niet doet mij meer erbarmen
in mijnen wederspoed
dan dat men ziet verarmen
des Koni
ngs landen goed.
Dat u de Spanjaards krenken,
o edel Neerland zoet,
als ik daaraan gedenke,
mijn edel hart dat bloedt.

Nada tão comovente minha pena
Como ver através destas terras,
Campo, aldeia, cidade e cidade
saqueada por mãos errantes.
Ó que os espanhóis te Ofenderam,Minha Holanda tão doce,Oh
pensamento disso me
agarra Fazendo meu coração sangrar.

Em 26 de julho de 1581, a República Unida da Holanda surgia em um manifesto publicado em Haia.

“Acreditamos que um príncipe é imposto por Deus aos seus súditos, principalmente para protegê-los de toda injustiça. Se, em vez disso, ele lhes rouba velhas liberdades, privilégios e direitos baseados no costume e os humilha como escravos, não deve mais ser considerado príncipe e, sim, um tirano. Por isso, seus súditos têm o direito de desobedecê-lo, abandoná-lo e eleger outro líder máximo para substituí-lo”, dizia o documento.

Guerras não duram para sempre. Todos os conflitos, em algum momento, tendem a terminar e o que resta é, apenas, a história de marcas e rivalidades que foram enterradas nas areias do tempo.

 

Espanha x Holanda

Data e hora: Quinta-feira (10/08), às 22h

Local: Sky Stadium, em Wellington, na Nova Zelândia

Competição: Copa do Mundo Feminina – Quartas de final

Transmissão: Cazé TV (YouTube) e FIFA+ (streaming) 

 

Fontes: DW, Terra e Royal Collection Trust

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube