Vítima de fake news, a vereadora Graciele Marques (PT) de Sinop, teve que resistir às ofensas de uma legião de bolsonaristas que foi até à Câmara Municipal, guiada por uma notícia falsa que circulou pelo WhatsApp. Ela é a única mulher da legislatura e única filiada de partido de esquerda. Nem mesmo os colegas a apoiam e as manifestações de solidariedade são veladas por conta da atmosfera de medo que impera na cidade.

Desde o início do mandato tem recebido diversas ameaças, inclusive, de morte. Mas este foi o primeiro embate direto que sofreu. À Casa Ninja Amazônia/Mídia Ninja, contou que ela já havia sido avisada sobre a movimentação e que por isso, havia solicitado que a segurança da casa realizasse detecção de metais. O que não ocorreu.

Os manifestantes foram até lá em retaliação a suposta medida que ela teria tomado. A militância foi agitada com a notícia de que ela teria protocolado na casa, um pedido de retirada dos manifestantes do local onde se encontram acampados. Vale ressaltar, o Ministério Público do estado já havia feito recomendação aos prefeitos dos municípios de Mato Grosso, para que esses pontos fossem desarticulados, de maneira mais efetiva, com a retirada de tendas e barracas. O prefeito é Roberto Dorner, do Republicanos.

Durante a fala da deputada, que foi à tribuna para falar de tema urgente da sociedade, que é a efetivação de um plano de mobilidade, eles a interromperam a todo momento, proferindo palavras de baixo calão. Ela tentou falar debaixo de vaias. Os ditos cidadãos de bem de Sinop também ficaram de costas para a vereadora, enquanto ela falava.

“Aproveitei para alerta-los que eles haviam sido levados por uma notícia falsa. Disse ainda que eles poderiam comprovar que não era verdade, se conferissem a pauta daquele dia. Mas infelizmente, não há argumentos. Eles desviavam do foco dizendo que antes, eu tinha feito isso ou feito aquilo. Disse a eles que essa pauta não existia, mas tive chances”.

(Reprodução)

O vereador Élbio (Patriota), que presidia a sessão se limitava a pedir ordem aos manifestantes, pedindo que ela falasse. Mas sempre com um tom de complacência, como quando disse: “deixem a vereadora falar, depois, se quiserem, podem vaiar”. Em outros momentos, dizia que ia encerrar a sessão, como que se causar tumulto, não fosse o objetivo dos manifestantes golpistas, insatisfeitos com o resultado das eleições. Vídeos de convocação que circularam pelo WhatsApp também mencionavam um outro vereador, do partido Republicanos.

Graciele também pediu que a presidência da casa chamasse a polícia, assim como a Secretaria Geral. Eles confirmaram que sim, mas isso não ocorreu. “Quando acionamos a polícia e questionamos o porquê da demora, nos responderam que não haviam sido chamados”.

“Além disso deixaram encher a casa além da sua capacidade, o que não ocorre com outras manifestações”. Graciele narra que o mandato tem lhe exigido muita resistência, pois mesmo dentro da Câmara, suas palavras não encontram ressonância. “De conversas a sessão ordinárias, minhas falas não são respeitadas. O que me fortalece são as mensagens que tenho recebido, de pessoas que não podem se manifestar. São silenciadas, sufocadas”.

Da mesma forma, tem recebido muitos ataques pelas redes, seja nos posts, seja no direct. “Temos documentado tudo, especialmente, de pessoas que sempre o fazem. Desta vez, usaram uma foto minha com meu filho em um outro contexto. Ele não deveria ser exposto. Fizemos um boletim de ocorrência e vamos entrar com uma representação no Ministério Público Estadual”.

Dentre muitos ataques proferidos pelos manifestantes, entoaram hinos como “nossa bandeira jamais será vermelha” e claro, fecharam a “manifestação” com o hino nacional.