Por que vemos poucas mulheres reconhecidas na área e como as indicações do 96°Oscar destacaram trabalhos de ouro

Foto: Courtesy of AMPAS

Por Juliana Marques*

Thelma Schoonmaker e Jennifer Lame, são dois nomes que muitos não conhecem, mas certamente assistiram Assassinos da Lua das Flores e Oppenheimer. Se essas duas mulheres não tivessem montado esses respectivos filmes, será que você, caro leitor(a), veria essas produções incríveis? Vamos entender um pouco da luta feminina na área e porque precisamos debater sobre isso.

Por muito tempo, a figura feminina foi limitada de exercer atividades técnicas. Já no início do cinema, a montagem era através do manuseio de películas. Por ser associado como um trabalho manual, muitas montadoras começaram a surgir, como Anne Bauchen, sendo a primeira mulher indicada e vencedora de um Oscar na categoria de edição. Mas se antigamente elas tinham tantas oportunidades assim, porque hoje é uma área que raramente vemos jovens profissionais receberem uma estatueta ou não são tão comentadas no meio cinematográfico?

De acordo com a revista O Grito!, “o cinema é uma arte e uma indústria que nasceu e se desenvolveu voltando-se para narrativas masculinas”. E claro, que junto à estrutura machista e sexista da sociedade replicada na indústria, o gênero masculino não só ocupa grande parte de grandes cargos nas produções cinematográficas como também reconhecimento em todas as edições da premiação. Dessa forma, as mulheres trabalham invisivelmente e não recebem seu devido reconhecimento, e ainda precisam cortar, remendar e suportar a visão de diretores que têm sido, predominantemente, masculina.

Embora as mulheres tenham se consolidado como montadoras desde o início do cinema e sejam extremamente importantes para o desenvolvimento, a justificativa é bem estereotipada. Segundo Clara Machado, em “Montadoras como espectadoras”, é questionada a ideia das mulheres terem sido extremamente importantes na área cinematográfica, mas perderam seus postos quando o cinema se tornou algo lucrativo, com mais funções técnicas especializadas, e uma divisão de trabalhos por gênero.

Indo mais a fundo na história, a pesquisadora também explica em seu artigo que os Estados Unidos, mesmo com o avanço do cinema na época, não havia um montador. Logo, o diretor também era responsável pelos cortes. Foi quando surgiram novos cargos, como assistência de cortes. Com essas oportunidades, a mulher encontrava-se no ramo, mas o processo criativo era bem restrito, focado apenas em montar as propostas criativas do diretor.

Margaret Booth, montadora que atuou por muitas décadas na MGM. Foto: Divulgação/IMDb

Com base em diversos estudos do ramo cinematográfico, conclui-se que antes mesmo da montagem existir, o cargo de cortador de negativos trouxe oportunidades para o sexo feminino. Ainda que fosse um trabalho repetitivo, tedioso, e com pouco reconhecimento, no final, a luta prevaleceu até que pudessem, em seguida, se tornar futuras montadoras e conquistar seu espaço nas ilhas de edição.  

Nos dias atuais, a resistência continua. Segundo um estudo na matéria da Forbes, sobre a empregabilidade do sexo feminino nos filmes mais populares de 2022, “as mulheres eram 22% dos diretores, roteiristas, produtores, editores e cinegrafistas trabalhando nos 250 filmes de maior bilheteria, porcentagem 1% mais baixa em relação ao ano anterior”. Ainda nesse relatório, essa tendência é vista para outras posições também: “39% dos editores eram mulheres em filmes dirigidos por mulheres, mas esse número caía para 19% sob a direção de homens”. Ainda vale acrescentar que as diferenças são maiores quando se trata de diversidade.

Pelos dados acima, é comprovado que não há falta de talento para jovens mulheres no mercado, e sim de oportunidade. Tanto que “Assassinos da Lua das Flores” e “Oppenheimer” são dois grandes filmes de destaque de público, da premiação desse ano, e ainda concorrem juntos na mesma categoria.

Hilda Rasula montadora e editora do longa “American Fiction”. Foto: MGM/Orion

Ainda que Schoonmaker e Lame estejam concorrendo ao Oscar, também tivemos filmes não indicados, mas com representatividade feminina na montagem, sendo “American Fiction” por Hilda Rasula e “Napoleão” (2023) com Claire Simpson junto de Sam Restivo.

Thelma Schoonmaker. Foto: Kevin Winter/Getty Images

Aos 84 anos, Thelma Schoonmaker, braço direito do diretor Martin Scorsese, traz em sua bagagem filmes como “O Aviador” (2004), “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), “O Lobo de Wall Street” (2013), “Os Bons Companheiros” (1990), o videoclipe “Bad” (1987) de Michael Jackson, “O Irlandês”( 2019), e agora Assassinos da Lua das Flores fazendo a montadora concorrer à nona estatueta.

Jennifer Lame. Foto: ACE Universal Pictures

Já Jennifer Lame, que já explorou vários gêneros, esteve por trás da montagem de “Frances Ha”(2012), “Manchester à Beira-Mar” (2016), “Histórias de um Casamento” (2019), ”Tenet” (2020), “Pantera Negra: Wakanda Forever” (2022), ”Hereditário” (2018) e atualmente trouxe uma experiência visual em “Oppenheimer” que ganhou 33 prêmios e é um forte concorrente no Oscar.

*Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024