Foto: Ícaro de Carvalho

Por Ícaro de Carvalho

Na última sexta-feira, 17 de junho, ocorreu a Marcha do Orgulho Trans da cidade de São Paulo, na área do Largo do Arouche. O evento chegou ao seu quinto ano de existência podendo finalmente voltar às ruas após dois anos virtuais devido à pandemia do coronavírus, porém mantendo também as ações online, para aqueles que não podem participar presencialmente. A Marcha tem um papel social muito importante em apresentar e chamar atenção às causas da comunidade trans. Esta talvez o maior alvo de violência dentre os LGBTQIAP+, e não só em um sentido literal, bem como legal e médica, já que muitos se recusam a atender pessoas destas identidades de gêneros, ou impondo tratamentos.

Durante a Marcha, por sua vez, era notável a presença de um público mais velho, a maioria maior de idade, com poucos adolescentes, e quase nenhuma criança, reflexo de como nossa sociedade ainda dificulta adoções e não aceita crianças e adolescentes trans, assim como pela própria magnitude do evento.

No entanto, tive a oportunidade não só de entrevistar bem como acompanhar a participação na marcha de uma destas raras presenças: Lucy. Adolescente de 13 anos, trans gênero-fluido e pansexual, vêm de uma família religiosa, que apesar de pertencentes à igreja “Congregação Cristã” – notória pela severidade e pela rigidez dos papéis de gênero –, pelo menos seus pais não só aceitam sua identidade de gênero e sexualidade, como lhe oferecem todo apoio que podem.

Foto: Ícaro de Carvalho

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Durante a entrevista, pude compreender um pouco mais de sua relação com o movimento LGBTQIAP+, bem como sobre a militância neste. Do segundo, comentou que não é ativista muito acídue, mas que quando presencia LGBTQIAP+fobia entra em ação. Sempre que possível, educa aqueles ao redor sobre questões de gênero e sexualidade. Sobre o movimento no geral, Lucy comparou o movimento a um quebra-cabeça, onde todos as peças se encaixam, e ile fosse uma destas encaixadas, onde “eu estou encontrando pessoas que entendem minha dor, que entendem minha luta, que entendem minha causa”, sendo assim uma fonte de aceitação e felicidade para si.

Aceitação, no entanto, também é o que sentiu durante a Marcha do Orgulho Trans deste ano. Sua primeira vez nesta aliás, onde se viu comovido pois “me senti em um lugar onde podia expressar o que eu quisesse, eu podia ser quem eu sou de verdade sem esconder nada. Me senti bem livre”. E neste pequeno comentário está talvez um dos aspectos mais importantes deste evento para os mais jovens: um lugar de expressão e liberdade.

Quando perguntei sobre quais suas pretensões para o futuro, na questão de envolvimento com o movimento LGBTQIAP+, sua resposta não foi só positiva como entusiasmada, e afirmando que pretendia participar das Marchas, assim como da Parada do Orgulho LGBT+, e dos eventos adjacentes, mas também se envolver com movimentos mais militantes.

Ícaro de Carvalho é compositor e regente pela Faculdade Santa Marcelina e professor pelo Claretiano. Também é crítico cultural, com foco em cinema e música, e jornalista. Bissexual e de esquerda, se considera anarquista.