Em 8 de janeiro de 2023, as cenas que rapidamente ganharam o mundo acenderam um alerta internacional em relação à extrema direita e à necessidade de vigilância permanente. Lideranças mundiais se apressaram para deslegitimar um golpe no Brasil, enquanto membros do governo passaram a ser alvos de dezenas de telefonemas de autoridades estrangeiras com demonstrações de apoio e solidariedade.

Alemanha, Estados Unidos, Itália, Portugal, Suíça, Irlanda, Islândia, Noruega, Reino Unido, Malta, Bélgica, Áustria, Eslovênia e Letônia reagiram imediatamente em apoio à democracia brasileira. Pedro Sanchez, presidente do governo da Espanha, emitiu um comunicado no qual declarou “todo o apoio ao presidente Lula e às instituições livre e democraticamente eleitas pelo povo brasileiro”. “Condenamos rotundamente o ataque contra o Congresso do Brasil e pedimos um retorno imediato à normalidade democrática”, completou.

Emmanuel Macron, presidente da França, também se manifestou em apoio à democracia brasileira e disse que Lula poderia contar com o apoio “incondicional” de seu país.

A necessidade de uma reação democrática ficou ainda mais evidente quando, nos serviços de inteligência, foi identificada a “comemoração” que ocorria nos principais canais da extrema direita no mundo. Não faltaram comentários sobre Steve Bannon, articulador americano, e de outros nomes, pela semelhança da invasão ao Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.

Até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou que a Justiça brasileira não optasse por anistias e que julgamentos fossem realizados.

“Operação alerta golpista”

Em uma reportagem publicada no UOL, o jornalista Jamil Chade revela o esforço de diplomatas, ministros do Supremo Tribunal Federal, e funcionários do governo brasileiro em organismos internacionais de direitos humanos de alertar sobre as intenções de Jair Bolsonaro em promover um golpe no Brasil, principalmente após sua derrota no resultado eleitoral, que elegeu Lula (PT) em outubro de 2022.

“Naquela noite, o mundo olhava para o Brasil como se a democracia estivesse em jogo em nossas próprias casas”, afirmou um diplomata francês, conforme revelou Chade.

Reunião com embaixadores

A reunião em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro a embaixadores de pelo menos 43 países fez os Estados Unidos deixar claro para autoridades do governo Bolsonaro e integrantes do TSE de que respeitariam o resultado eleitoral. O que se mostrou real. O presidente Joe Biden foi um dos primeiros líderes mundiais a ligar para Lula, e felicitá-lo pela vitória.

No mesmo período, senadores democratas, liderados por Bernie Senders, assinaram uma carta pública pedindo que o presidente Joe Biden suspendesse qualquer acordo com o Brasil caso uma ruptura institucional ocorresse, em um recado para militares que demonstraram inclinação para uma tentativa golpista.

A ofensiva brasileira tinha como objetivo criar uma situação na qual o custo de um golpe fosse insuportável aos seus apoiadores, desde militares aos operadores do sistema financeiro. Para isso, precisavam que o mundo impusesse esse custo, aponta Chade.

Embaixadores aposentados e dissidências dentro do Itamaraty também agiram para fazer soar o alerta em diversas capitais pelo mundo. “O recado era de que existia uma chance real de que o governo Bolsonaro repetiria o comportamento de Trump e não aceitaria o resultado da eleição”, relembra um embaixador brasileiro, na condição de anonimato. O ex-presidente sempre negou qualquer participação em uma tentativa de golpe de Estado.