Foto: Acervo Santo Daime

Nascido no Maranhão entre 1890 e 1892, Raimundo Irineu Serra era filho de pessoas negras escravizadas e cruzou toda a região amazônica (de São Luis até o Acre) em busca de melhores condições de vida. 

Chegou no Acre em 1912, motivado pela promessa do governo de que os trabalhadores da borracha teriam uma vida próspera na floresta. 

Contudo, como a história nos conta, o período da exploração da borracha na Amazônia foi cruel para com os seringueiros, que trabalhavam em condições insalubres por horas a fio, enquanto os grandes fazendeiros lucravam com o ciclo da borracha.

Segundo relatos, foi nesse período, ao perceber que havia sido enganado, que Irineu buscou auxílio na Ayahuasca.

Ele estava morando nessa época em Brasiléia, perto de Cobija, ainda no Acre, onde trabalhava no seringal Nossa Senhora do Bom Futuro, próximo à fronteira boliviana e foi lá que conheceu os irmãos Antônio e André Costa, que mais tarde lhe levaram a uma sessão com um xamã peruano.

Conhecendo a Ayahuasca

Foto: Reprodução

De acordo com a mitologia daimista, em uma noite clara e bonita, Irineu tomou ayahuasca, e ao olhar para a lua avistou uma senhora formosa e bela. Essa senhora lhe perguntou: “Quem você acha que eu sou?”.  Admirado, Irineu fitou-a e respondeu: “A Senhora, para mim, é uma Deusa Universal! (trecho do livro “Eu venho de longe: mestre Irineu e seus companheiros”)

O chá de ayahuasca é feito de uma mistura de duas plantas amazônicas: o cipó-caapi (Banisteriopsis caapi) e as folhas da chacrona (Psychotria viridis). A bebida tem como princípio ativo o alcalóide dimetiltriptamina (DMT), uma substância encontrada naturalmente na chacrona e em diversas plantas e animais, inclusive no nosso próprio fluido cerebral.

Com gosto amargo, a cor da bebida varia entre ocre e marrom-escuro e seus efeitos mais comuns são vômito e diarreia, além dos efeitos enteógenos, onde quem a toma afirma ter visões. 

Em uma de suas visitas com o xamã peruano, Irineu foi instruído a ir para a mata e jejuar. Segundo contam relatos, no oitavo dia, sob efeito da ayahuasca, Irineu teve a visão de uma senhora, que se identificou como Nossa Senhora da Conceição, que lhe passou os ensinamentos da igreja que iria fundar.

O Santo Daime

Foto: Getty Images

O Santo Daime é focado no ritual do chá, pois quem segue a religião acredita que a ayahuasca possibilita a expansão da consciência e a pessoa sob o efeito do chá poderia encontrar respostas sobre suas angústias da vida. 

O preparo da bebida no Santo Daime é ritualístico: enquanto as mulheres são responsáveis por separar as folhas das chacronas, os homens se incumbem de cortar o cipó jagube.

Ministrados por um padrinho, que guia os encontros, os seguidores do Daime, todos sempre vestidos com tons claros, como branco e azul, devem se concentrar e manter a consciência limpa e presente no momento. 

Depois, organizam-se filas para tomar o chá, que é ministrado com cautela, já que os efeitos tóxicos da ayahuasca ainda não são completamente conhecidos. 

Começa então a segunda fase, em que os seguidores meditam e “acessam a consciência” sob efeito do chá da ayahuasca. Ao longo de todo o culto são cantados os hinos que falam sobre as doutrinas da religião para guiar aqueles presentes dentro dos ensinamentos passados pelo Mestre Irineu.

Os seguidores da religião sempre alertam que o chá da ayahuasca é consumido por eles sempre de forma ritualística, pois consideram este um momento de sacramento, portanto, tomar o chá de forma indiscriminada além de perigoso, devido às propriedades enteógenas da bebida, também vai contra seus ensinamentos.

Atualmente pessoas do Brasil inteiro, e até de outros países já tiveram contato com o Santo Daime, porém, a religião ainda sofre preconceito, especialmente por carregar traços de ensinamentos e religiões indígenas e africanas.

Sobre a legalidade da Ayahuasca, de acordo com a Polícia Federal, o consumo do chá é legal apenas no âmbito religioso, em outras circunstâncias pode ser considerado crime, a depender do contexto. O Brasil é signatário de normas legais e convenções que consideram crime a exportação da Ayahuasca.