Junto à Mídia NINJA, iniciativas de mídia livre construíram a Casa da Democracia como hub de comunicação permanente da Vigília por Lula

Foto: Midia NINJA

7 de abril de 2018 é uma data que marca a história recente do país como um dos episódios das maiores injustiças já cometidas contra a democracia brasileira. Na esteira do golpe de 2016, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi preso em Curitiba em condenação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em ação penal envolvendo um triplex no Guarujá. A Mídia NINJA se somou a movimentos sociais de todo o Brasil rumo a Curitiba, na data em que Lula se entregou à Polícia Federal, para instalação de uma das maiores experiências de organização e resistência já registradas na história do país. Durante 580 dias, da prisão de Lula até sua soltura, a Vigília Lula Livre perdurou sob sol e chuva em uma grande coalizão social diante do prédio da Superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida.

“Nós garantimos a cobertura de todo o ecossistema da Vigília Lula Livre”, disse Bianca Lima, que compunha a equipe que montou a Casa da Democracia na capital paranaense como hub de comunicação permanente da Vigília. O ecossistema a que ela se refere eram os sete pontos de resistência que acompanhavam a prisão de Lula além da própria Vigília, como a Casa da Democracia, a creche, o acampamento Marisa Letícia e a cozinha Marielle.

O projeto da Casa da Democracia foi às redes assim que a Vigília foi montada na data da prisão de Lula. Uma vaquinha foi aberta para captação de recursos para que dali a alguns dias uma casa pudesse ser alugada para ser o ponto de comunicação e resistência. Junto à Mídia NINJA, iniciativas de mídia como Revista Fórum, o portal Outras Palavras e Rede Livre.

“A rotina da Casa começava cedo, porque a primeira agenda do dia era o Bom Dia presidente Lula”, disse Lisa Brito, da Mídia NINJA. “A rotina da Vigilia Lula Livre era marcada por esses três eventos, o Bom Dia, Boa Tarde e o Boa Noite ao presidente Lula. Todos gritavam 13 vezes, como uma forma simbólica, para que o presidente pudesse ouvir a saudação na frente da Polícia Federal. E a gente transmitia ao vivo todos os eventos durante todo o tempo em que a casa permaneceu aberta”.

A Casa se situava em local estratégico no bairro da Vigília Lula Livre, próximo ao acampamento e à sede da PF onde se encontrava Lula. “Ao atravessar uma rua você encontrava a cozinha Marielle”, lembra Bianca. Ali eram servidos até 600 refeições diárias e 70% dos alimentos eram obtidos por meio de doações conforme contam os próprios ocupantes em um dos vídeos gravados ao vivo durante o programa Democracia em Rede, da Casa da Democracia. “A cozinha foi cedida por uma das vizinhas que disponilizou parte da casa pra ser ocupada”, conta Bianca.

Ali perto se podiam ver muitas casas com a bandeira do Brasil na porta, como forma da vizinhança mostrar que os ocupantes não eram bem vindos. Contudo, também havia outros vizinhos hospitaleiros que frequentavam a Casa da Democracia, assim como outros pontos da Vigília, participavam dos programas ao vivo de davam seus depoimentos em favor da democracia.

Durante o programa Democracia em Rede, debate transmitido ao vivo direto da Casa da Democracia, várias personalidades que passavam por Curitiba eram convidados para debater o contexto político, trazer leituras sobre o momento e compartilhar experiências. O programa era organizado por uma ampla coalizão que integrava, junto à Mídia NINJA, o Brasil de Fato, Comcafé, Contag, Fórum de Lutas 29 de Abril, Frente Brasil Popular, Rede Soberania, entre outros. Às quintas-feiras, quando Lula recebia visita, era garantida participações em entradas ao vivo de nomes de personalidades culturais e políticas nacionais e internacionais, como Noam Chomsky e Danny Gloover. Ao todo, há 191 links de registros das transmissões ao vivo pela Casa.

“Apesar dessas personalidades que passaram pela casa, quem mais me emocionava eram os manifestantes que estavam em vigília”, conta Lisa. “Tinha um dia que estava fazendo muito frio em Curitiba. A Bianca começou a botar um video do Lula que a gente tinha feito e algumas músicas que remetiam a Lula. Nessa hora chegou uma excursão de senhoras, muito fervorosas e amáveis e elas cantavam no meio da sala. Foi inesquecível! Tinha uma energia muito vibrante ali”.

Foto: Midia NINJA

Bianca lembra outro momento, em 8 de julho, quando se começou um imbróglio juridico para a soltura efetiva do Lula. Era um domingo quando o desembargador federal Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) em Porto Alegre, decidiu conceder liberdade a Lula. Quando a notícia chegou em primeira mão à Mídia NINJA, a equipe já corria a postos à frente da Polícia Federal para receber o ex-presidente.

“Estava rolando uma exibição de um filme e o Edvam (Filho, da Mídia NINJA) sai correndo atrás da câmera dizendo que Lula ia ser solto. Poucos minutos depois já tinha muita gente aglomerada ali na PF, chorando, se abraçando, mas a novela se estendeu até 22h da noite daquele domingo com uma esperança de soltura”, disse Bianca. “A gente achou que tudo ia acabar naquele dia, mas não foi”. Foram pelo menos quatro manifestações judiciais até o posicionamento do desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Lava-Jato no TRF4, contrário à soltura de Lula. “Mesmo assim, rolou um momento de gratidão imensa entre todos os que estavam participando e que acompanharam Lula desde o início”, disse Bianca.

Três anos depois, a Suprema Corte brasileira julga por maioria que ex-juiz Sérgio Moro atuou com parcialidade ao condenar Lula. Uma série de mensagens vazadas entre procuradores da Operação Lava-Jato e o então juiz Sérgio Moro já haviam revelado a imparcialidade e a motivação política com que o caso foi operado, com a prisão efetivada dias meses antes das eleições para a presidência da República.

Foto: Midia NINJA

Foto: Midia NINJA

Foto: Midia NINJA

Foto: Midia NINJA