Colocar pessoas negras como feias em comparação com pessoas brancas é garantia de viralizar na internet

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Já tinha feito uma postagem sobre racismo recreativo disseminado em memes. Os memes são parte da cultura de humor da internet. É um viral, e como o próprio conceito original cunhado por Richard Dawkins, a informação se multiplica de cérebro em cérebro e fica armazenada, no caso do meme na definição contemporânea, no imaginário popular. Então, quando um meme que sempre coloca uma pessoa branca como bonita e uma preta como feia e invejando o branco, essa repetição se instala como um padrão a ser seguido e tem influência direta em como as pessoas que consomem essa informação enxergam a realidade.

Os memes racistas fazem uma tradução para o mundo virtual do que já acontecia antes do advento da internet: a perpetuação da ideia do branco como normativo de beleza e do preto como ser inferior nesse quesito. Veja que no caso da imagem que ilustra esse texto, a garota branca em primeiro plano nem mesmo representa as características físicas da maior parte das mulheres brasileiras. Foi nessa mesma toada que Gisele Bundchen se tornou a modelo mais conhecida da história e sinônimo de beleza brasileira lá fora, ainda que seu fenótipo se assemelhe mais ao padrão europeu do que da população mestiça brasileira.

Na história da TV brasileira, além da sub-representação, a representatividade negra esteve ligada a papéis de escravizados ou alívio cômico ridicularizado, como foi o caso de Mussum, talvez o exemplo mais vívido na mente da atual geração.

A repetição de estereótipos pela mídia, principalmente televisão, visa estabelecer o que seria o ideal na representação imagética de um povo. O advento da internet deu voz a quem discorda do que foi estabelecido segundo ideais do ilusório conceito de democracia racial, mas ao mesmo tempo permitiu que pessoas absortas em anos de lobotomia televisiva se encontrassem e compartilhassem as versões digitais das piadas exaustivamente contadas nos programas de humor.

Os refugiados da guerra na Ucrânia certamente seriam bem recebidos no Brasil. Desde o início do século 20 o Brasil recebeu bem os imigrantes europeus, lhe oferecendo toda sorte de oportunidades e status. E mais de um século depois, eles protagonizam formas modernas de racismo.