Por Patrick Simão do Além da Arena

No dia 19 de fevereiro de 1986, em Dois Riachos, Alagoas, nascia a maior jogadora de futebol da história: Marta Vieira da Silva. Bem antes de ser eleita a melhor do mundo em 6 ocasiões, Marta precisou superar outros obstáculos. O primeiro foi a pobreza na infância, sendo criada com muita dificuldade pela mãe. Neste período, Marta se interessou pelo futebol e precisou enfrentar também o estigma por ser uma garota. Ela jogava com seus primos, mas recebia grande resistência quando ia jogar com outros garotos.

Aos 14 anos, Marta foi descoberta por um olheira que a levou para fazer testes no Vasco. Ela foi ao Rio de Janeiro e logo se destacou, jogando pela equipe carioca entre 2000 e 2002. Com 16 anos ela também jogava pequenos torneios no interior de São Paulo e, apesar de sempre se destacar, seu futuro ainda era incerto, devido a falta de oportunidades financeiras. Ainda em 2002 foi para o Santa Cruz de Minas Gerais, onde jogou por dois anos.

Apesar das dificuldades, Marta já chamava a atenção e em 2003 foi convocada para disputar a Copa do Mundo, com apenas 17 anos. A alagoana fez 3 gols e levou o Brasil até as quartas de final. O desempenho no torneio fez com que ela recebesse uma proposta do Umea, da Suécia. Só então, após se destacar em uma Copa do Mundo, Marta conseguiu a rara estabilidade de vida naquele momento do futebol feminino. Ela jogou até 2009 na Suécia e instantaneamente se tornou uma lenda do futebol.

A brasileira chegou ao principal time da Europa naquele momento, estreando na semifinal da Champions League. Em 4 jogos, a alagoana de 18 anos marcou 5 gols, sendo 3 nas finais, levando seu time ao título. Também em 2004, levou o Brasil à prata olímpica nos Jogos de Atenas.

Pelo Umea, Marta ainda foi duas vezes vice-campeã da Champions League. Protagonista no futebol europeu e grande nome da geração de ouro do Brasil, Marta foi eleita a melhor jogadora do mundo 5 vezes consecutivas, entre 2006 e 2010.

Marta comemorando pelo Umea (Reprodução)

Vivendo seu auge, Marta chegou à Copa do Mundo de 2007 como a principal jogadora do mundo. Ela foi a artilheira do Mundial com 7 gols, sendo um deles o mais famoso e emblemático de sua carreira. Na semifinal, o Brasil venceu os Estados Unidos por 4 a 1, com dois gols da camisa 10, sendo um deles com um belo drible de costas antes de finalizar para fazer um golaço.

Na decisão, o Brasil foi derrotado pela Alemanha, por 2 x 0. Quatro anos após a Copa de 2003, o futebol feminino brasileiro já atingia outro patamar, com Marta sendo a grande referência dessa ascensão. Marta, junto com Cristiane, Formiga e outros grandes nomes, foram as responsáveis por isso. Ainda assim, havia muito o que se desenvolver internamente para a evolução do futebol feminino no país.

Em 2008, com mais um grande desempenho de Marta, o Brasil disputou outra final importante: as Olimpíadas. Dessa vez o Brasil goleou a Alemanha na semifinal, por 4 x 1, e, na final, foi superado pelos Estados Unidos por 1 x 0.

Após 5 anos no futebol sueco, Marta foi para a forte liga estadunidense. De 2009 a 2010 jogou no Los Angeles Sol, ainda em 2010 chegou ao Gold Pride, onde foi campeã da liga nacional. Em 2011 esteve no New York Flash, sendo novamente campeã da liga dos Estados Unidos.

A temporada no país durava 6 meses. No restante do ano, Marta jogava no Santos, por empréstimo. Em solo brasileiro, Marta construiu ainda mais legados. Venceu a primeira edição da Libertadores em 2009, onde fez dupla com Cristiane e teve todos os jogos do torneio transmitidos em TV aberta. Este momento foi essencial para a consolidação do torneio, que cresce até hoje. A brasileira conquistou a Libertadores e a Champions League na primeira vez que disputou. Pela equipe paulista, ela também foi campeã da Copa do Brasil em 2009, o principal torneio do calendário nacional naquele momento.

Marta campeã da Libertadores pelo Santos (Ricardo Saibun / Gazeta)

Na Copa do Mundo de 2011 Marta foi vice-artilheira com 5 gols, e o Brasil caiu nas quartas para os Estados Unidos, nos pênaltis.

Em 2012 ela voltou ao futebol sueco, onde já chegou sendo campeã da liga e da supercopa pelo Tyreso. A craque brasileira ficou no clube até 2014, quando se transferiu para o Rosengard, também da Suécia. No novo clube, em apenas duas temporadas, conquistou mais 7 títulos nacionais, sendo 2 ligas, 2 copas e 3 supercopas.

Em 2017 Marta voltou ao futebol dos Estados Unidos, para jogar no Orlando Pride, onde segue até hoje. A brasileira viveu mais um grande momento e, em 2008, foi eleita a melhor jogadora do mundo pela sexta vez.

Pela Seleção, Marta chegou às oitavas da Copa em 2015 e ficou em 4º lugar nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. A alagoana seguiu como a grande referência da Seleção, sendo o principal nome técnico nos grandes momentos e a liderança quando a equipe não estava tão bem.

Chegou às oitavas na Copa de 2019 e nas Olimpíadas de 2021, quando outra geração já se consolidava. Em 2023, após grave lesão no joelho que a afastou por quase um ano, disputou sua 6ª Copa do Mundo, parando na primeira fase. Marta é a maior artilheira na história das Copas, com 17 gols.

Após sua 6ª participação, Marta foi exaltada por grandes nomes do futebol atual, como a duas vezes melhor do mundo Alexia Putellas. Ela não é referência apenas para as atuais protagonistas do futebol brasileiro, mas também para todas que brilham no futebol mundial. Marta é e sempre foi referência.

Marta foi além de todas as probabilidades, desde a infância até sua chegada ao futebol e sua consolidação como a maior jogadora da história. Para além de tudo isso, a alagoana também é um símbolo: o crescimento do futebol feminino tem ela como a grande inspiração. Toda garota que sonha em ser jogadora se vê em Marta, e muitas delas estão hoje na Seleção.

Marta também luta por representatividade e mais justiça financeira entre os gêneros. Na Copa de 2019 ela negou patrocínios por se recusar a receber menos que homens.

Marta, você é uma lenda que vai muito além do futebol! Você é símbolo, referência, rainha e a maior de todos!

Marta, 6 vezes a melhor do mundo (Lucas Figueiredo / CBF)