Mulheres que acusam juiz relatam beijos, agarrões, pedido de foto de calcinha e assédio na webcam

Marcos Scalercio também é professor e foi afastado do cursinho Damásio. Foto: Reprodução/Instagram

Depois de o G1 ter publicado uma reportagem nesta segunda-feira (15) com denúncias de ao menos dez mulheres contra o juiz do trabalho de São Paulo e professor Marcos Scalercio por assédio sexual entre 2014 e 2020, outras dezenas de mulheres relataram terem sido assediadas pelo magistrado.

Até a noite de segunda, 29 novas mulheres procuraram a ONG Me Too, que levou as dez primeiras queixas ao Conselho Nacional do Ministério Público. Outras 13 mulheres procuraram o Projeto Justiceiras, uma parceria entre os Institutos Justiça de Saia, o Instituto Bem Querer Mulher, e o Instituto Nelson Wilians, para denunciar o magistrado por assédio sexual. Ao menos outras três mulheres procuraram a reportagem do G1 e da TV Globo para acusar o juiz.

Scalercio é juiz substituto do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região e professor de direito material e processual do trabalho no Damásio Educacional. Ele nega as acusações e diz que já foi absolvido pela corregedoria do TRT e teve denúncias arquivadas.

Acusações

Uma advogada, que preferiu não se identificar, disse ao G1 que foi vítima do juiz em 2018. “Ela disse que quando leu a reportagem, primeiro chorou, e depois sentiu um ‘alívio imenso'”, informa o texto.

Em uma página chamada “Nação Jurídica”, no Instagram, mulheres afirmaram que ele fez a mesma coisa com elas quando eram alunas dele para a prova da OAB. Outras disseram que ele mandava mensagens pelo Facebook. “Finalmente te pegaram”, disse uma.

Mulheres que acusam juiz relatam beijos, agarrões, pedido de foto de calcinha e assédio na webcam

Ao G1, após a publicação da reportagem, professoras do Damásio relataram casos de assédio contra alunas e colegas. Em um dos casos, Scalercio ameaçou uma aluna dizendo que se não largasse o namorado, não passaria na OAB.

Investigação

A ONG Me Too Brasil levou as dez primeiras queixas ao Conselho Nacional do Ministério Público, que depois acionou os órgãos competentes. Atualmente, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília, e o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), em São Paulo, apuram essas três acusações contra o juiz, respectivamente, nas esferas administrativa e criminal (saiba mais abaixo).

Dez mulheres

O G1 teve acesso às dez denúncias contra o magistrado feitas pelas mulheres. Os relatos foram divulgados inicialmente nas redes sociais, e só depois chegaram ao Me Too Brasil.

As denunciantes, que não querem ser identificadas por temerem represálias, são: uma funcionária do TRT, uma advogada, uma estagiária de direito, seis alunas do cursinho Damásio à época, e uma professora de direito – com quem a reportagem conversou.

Algumas das mulheres postaram e compartilharam prints das conversas que alegam ter tido com ele e que, segundo elas, comprovam os assédios sexuais cometidos por Scalercio (veja mais abaixo). As fotos dos diálogos foram divulgadas em grupos fechados de concursos públicos voltados a mulheres, compartilhadas entre as próprias vítimas e também acabaram encaminhadas ao Me Too Brasil.

Imagem: Reprodução

Das dez mulheres, três delas acusam o magistrado de 41 anos de agarrá-las e beijá-las à força dentro do seu gabinete no Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Barra Funda, Zona Oeste da capital, ou em uma cafeteria próxima ao cursinho, no Centro.

Outras sete vítimas também relatam que ele usou as redes sociais para assediá-las, tendo comportamento inapropriado e enviando mensagens com conotação sexual.

O curso preparatório para concursos públicos Damásio Educacional anunciou na noite de segunda-feira (15) o afastamento do professor e juiz federal.

Assédio sexual é crime no Brasil. Pode ocorrer em um contexto em que há relação hierárquica entre o agressor e a vítima, no qual ele a constrange, geralmente no ambiente de trabalho, seja usando palavras ou cometendo ações de cunho sexual, sempre sem o consentimento da pessoa, como um beijo ou um toque forçados, por exemplo.

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