Médicos Sem Fronteiras pede que autoridades gregas e da União Europeia encontrem alternativas para campos de refugiados superlotados do país

Foto: Peter Casaer/MSF

Por Médicos Sem Fronteiras

Após decisão parlamentar, centenas de milhares de refugiados na Grécia estão sendo despejados das instalações onde se abrigam, impedidos de receber auxílio e deixados nas ruas das cidades gregas, sem acesso a moradia, proteção ou assistência médica adequada, alertou na segunda-feira (13) a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF). Procurando uma solução rápida para descongestionar os campos superlotados nas ilhas gregas, o governo grego retirou os direitos ao acolhimento de 11 mil beneficiários de proteção internacional, iniciando processos de despejos. MSF aponta que muitos deles apresentam quadros graves de saúde física e mental.

A organização de ajuda humanitária está pleiteando junto ao governo grego a suspensão dos despejos de pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo sobreviventes de violência sexual, tortura e maus-tratos, idosos e pessoas com doenças crônicas. MSF também pede que as autoridades identifiquem soluções imediatas de acomodação e amplie os programas existentes para abrigar o contingente.

“Temos pacientes com graves condições médicas que estão sendo abandonados, enquanto mulheres em estágio avançado de gravidez estão dormindo na Victoria Square, no centro de Atenas”, diz Marine Berthet, coordenadora médica de MSF na Grécia. “No meio de uma pandemia global, os governos devem proteger e abrigar as pessoas com alto risco de desenvolver formas graves da COVID-19, não jogá-las nas ruas e deixá-las sem proteção, abrigo ou acesso à saúde básica”.

A organização afirmou que os impactos na saúde são sentidos pela população. No último mês, uma de suas pacientes, em condição extrema de vulnerabilidade, não resistiu a uma parada cardíaca ocorrida após ter se mudado de moradia.

“Nossa paciente que morreu era paraplégica e apresentava várias condições médicas graves, incluindo diabetes e doenças cardiovasculares; no entanto, havia sido ameaçada de despejo em várias ocasiões”, diz Berthet. “Sob o medo de perder a casa, sua família a mudou para o campo de Schisto, onde seu filho estava vivendo em um contêiner com outras 12 pessoas; dois dias depois, sofreu uma parada cardíaca e morreu”.

As equipes de MSF na Grécia apontam que ao menos 30 outros pacientes da organização, com condições médicas graves, foram despejados ou notificados do despejo. Eles enfrentam a perspectiva de ficarem sem-teto e de terem a assistência financeira suspensa.

“O caso da mulher que morreu é apenas a ponta do iceberg”, diz Berthet. “Temos pacientes com câncer, sobreviventes de tortura, mães solteiras com doenças crônicas e mulheres grávidas que são orientadas a dormir a céu aberto, sem nenhum apoio”.

Muitos pacientes de MSF com doenças crônicas graves tiveram seus pertences removidos de suas acomodações e foram informados de que deveriam sair, sem qualquer indicação de para onde ir. Dezenas de outros pacientes foram notificados de que devem sair, ao mesmo tempo em que a assistência em dinheiro foi interrompida, apesar de extremamente vulneráveis. Enquanto isso, as praças da cidade estão se enchendo de refugiados vulneráveis, incluindo crianças, mulheres grávidas, recém-nascidos, pessoas com graves condições crônicas e sobreviventes de tortura e violência sexual.

Em junho deste ano, o Ministério da Migração e Asilo da Grécia prometeu reduzir em até 30% os gastos com o programa de habitação para solicitantes de asilo. Enquanto isso, em fevereiro, o governo grego recebeu fundos da União Europeia (UE) para ampliar o regime de acomodação no continente. No entanto, até agora nenhuma acomodação extra foi disponibilizada.

Em resposta aos centenas de refugiados que dormem nas ruas da Victoria Square, em Atenas, MSF está encaminhando os pacientes com maior necessidade de assistência médica para a creche da organização na cidade. As carências mais básicas dos refugiados não estão sendo atendidas.

MSF pede às autoridades da Grécia, da União Europeia e de todas as organizações envolvidas no fornecimento de abrigo aos refugiados que encontrem soluções imediatas de acomodação para todos que estão sendo despejados. Da mesma forma, a organização insta o governo grego a interromper os despejos até que todas as barreiras administrativas à integração e acesso à saúde sejam suspensas.